A Light for Attracting Attention: a magia sonora de Thom Yorke e Jonny Greenwood (2022)
No mundo da música, um novo projeto do Radiohead parece um evento sísmico. Enquanto The Smile surge depois de experimentos paralelos da banda, incluindo o trabalho solo de Thom Yorke e as trilhas sonoras de Jonny Greenwood, a nova colaboração com o baterista do Sons of Kemet, Tom Skinner, tem uma sensação distintamente familiar. A essa altura, não existia um desses eventos fazia seis anos, desde o disco de 2016: A Moon Shaped Pool.
Fomos expostos à novidade através de “You Will Never Work In Television Again”, divulgada em janeiro. O single poderia ser confundido com um outtake de 1995, trazendo afastamentos marcantes de qualquer som anterior do Radiohead. De maneira crua – quase punk – The Smile parece ter pegado “Bodysnatchers” de In Rainbows de 2007 e levado para algum lugar um pouco mais áspero.
O trabalho de guitarra e o falsete imaculado de York surgem intactos, agora polidos por ritmos inteligentes de Skinner. No entanto, o disco permanece enraizado naquilo que Jonny e Thom já exploraram em álbuns anteriores. Com o produtor habitual do Radiohead, Nigel Godrich, por trás dos conselhos, A Light for Attracting Attention é lindo – especialmente as ondas de cordas em “Speech Bubbles”, a mistura sublime de pianos e arpejos de sintetizadores em “Open the Floodgates” e a maneira como o baixo de “The Smoke” é gradualmente desenvolvido. Você poderia argumentar com alguma justificativa que não há nada novo, mas teria muito mais dificuldade em defender que o que está aqui não é excepcionalmente mágico.
Uma canção como “Free in the Knowledge”, na qual Yorke reflete sobre o mundo desfigurado, pode ser a ruminação sobre os últimos dois anos de instabilidade da era da pandemia ou uma ideia lírica engavetada desde 2012. A natureza percussiva desse material, particularmente os ritmos de “A Hairdryer” e “Thin Thing”, matarão a saudade dos fãs de The King Of Limbs (2011). Esta última combina todos os temperos sonoros do álbum em uma única música que excede a soma de suas partes. O estilo particular de Skinner delineia o The Smile de sua banda ancestral e faz dessas faixas um veículo de grooves furiosos e excêntricos. Sons tipo Kubrick (você sabe, aqueles que Wendy Carlos conjurou para “O Iluminado” e “Laranja Mecânica”) animam “Waving a White Flag” e “The Same”. À medida que a letra atinge o método da crítica, o vocalista entoa repetidamente: “Somos todos iguais”.
Embora único, A Light for Attracting Attention funde filamentos de DNA de trabalhos anteriores do Radiohead e projetos individuais da dupla. Por exemplo, “The Opposite” parece ter nascido de A Moon Shaped Pool, sonoramente similar com “Identikit”, enquanto “Pana-Vision” resgata a melancolia orquestral exuberante de Thom ouvida na trilha sonora de Suspiria. Conforme o disco se desenrola, você pode sentir como as canções se tornam abraços. O single furtivo e reflexivo, “We Don’t Know What Tomorrow Brings” roda em um ritmo brilhante. Há influências óbvias de Joy Division rastejando por aqui e se tornou uma das melodias mais sombrias em que Yorke já esteve envolvido. A faixa de encerramento, “Skrting on the Surface”, apresenta um pesado manto de reverberação. Existe desde 2009, aparecendo até nos setlists do Radiohead em 2012.
Com abordagens leves e soltas, The Smile oferece algo acolhedor ao mesmo tempo em que mostra a química criativa duradoura por trás dos músicos mais celebrados de sua geração. Não importa o que aconteça, A Light for Attracting Attention é uma vibração muito bem-vinda de duas forças que se recusam a fugir do desconhecido. “Alguém me guie para fora da escuridão”. É o apelo que funciona como um pacto entre artista e público – pacto esse que, apesar de tudo, permanece íntegro.