O retorno nada esquecível de Sky Ferreira | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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O retorno nada esquecível de Sky Ferreira

O retorno nada esquecível de Sky Ferreira

Olhos apáticos, máscara de cílios e sombra borrada pareados a uma frase de efeito previsível ou genericamente rebelde. Essa era a fórmula perfeita para conseguir curtidas no Tumblr no início da década passada. Não surpreendentemente, postagens nessa estrutura que tinham a modelo Sky Ferreira como face, tornaram-se virais instantâneos na plataforma em poucas horas, mesmo numa época em que o acesso à internet móvel não era tão simples quanto atualmente.

As mechas platinadas, a maquiagem pesada e a estética heroin chic noventista promoveram Sky à altura de seus vinte anos, a um status de it girl que transcendeu a virtualidade, angariando inúmeras capas de revistas estadunidenses e chamando a atenção de nomes proeminentes, como Terry Richardson e Karl Lagerfeld. Além de tudo, Ferreira, que tem descendência luso-brasileira e nativo americana, assinou ainda na adolescência com uma gravadora após tomar a iniciativa de escrever uma carta para os executivos.

Curiosamente, foram-se quatro anos entre a data em que o contrato foi finalizado e o lançamento de Night Time, My Time, seu álbum de estreia. Nesse meio tempo, ela esteve atarefada. “A moda é só parte do que eu faço; músicos querem trabalhar com designers”, contou a Dazed em julho de 2013.

  • “Muitas pessoas que estão em bandas precisam trabalhar por meio período em restaurantes e, felizmente, eu posso ser uma modelo ao invés disso”*, continuou, quando questionada sobre sua real ocupação.

O anúncio de que Sky lançaria um álbum musical foi, aliás, recebido de modo pessimista pela mídia, rendendo comparações com outras figuras que utilizaram de sua prévia popularidade para embarcar em carreiras musicais e previsivelmente pop, desprovidas de real substância ou originalidade.

Apesar de tais suposições terem sido fomentadas com o lançamento da robótica e genérica One, de 2010, a artista retornou à cena dois anos mais tarde com o EP Ghost e o sucesso meteórico da incrivelmente magnética Everything Is Embarrassing, nomeada pela New York Magazine como a melhor música do ano. A infinidade de comentários positivos ao single em publicações reputadas foi o suficiente para tornar Sky uma das novas artistas mais antecipadas nos circuitos de crítica e, a medida em que o público era apresentado a mais teasers de seu álbum de estreia, tornava-se explícito que havia alguma tensão entre a cantora e sua gravadora.

Mesmo assim, ao som dos primeiros sintetizadores de Boys, música que abre o Night Time, My Time, esquecia-se qualquer ruído midiático ou expectativa negativa acerca de um trabalho completo de Sky. Soturnamente romântica e igualmente indignada, a faixa aproxima-se de um indie rock entoado em vocais suaves responsáveis por entregar a mensagem de que, apesar de todos os meninos (e não homens, como denota a composição) serem iguais, Ferreira voltou a ter fé em toda a população masculina graças a um par romântico.

Boys é a antecessora de sólidas canções que variam em som e forma dentro do mesmo espectro grunge, pop e indie rock. Enquanto 24 Hours apresenta-se como um devaneio sonoro agradavelmente esperançoso sobre uma relação ou contato sentimental com o prazo de validade de um dia, Nobody Asked Me (If I Was Okay) é agressiva, explicita a negligência coletiva com a qual alega ter sido tratada.

A canção é tão contrastada quanto completa por I Blame Myself, em que Sky assume uma parcela de culpa pela forma como o público a enxerga. A letra opera como uma resposta lírica aos adjetivos dos mais variados que foram atribuídos à artista através dos anos.

Os atrasos no lançamento de seu primeiro disco e os anos de hiato entre o Night Time, My Time e trabalhos musicais posteriores trouxeram à tona os problemas que Sky vinha tendo com sua gravadora. Apesar dos relatos conflitantes, Ferreira sempre verbalizou suas críticas à indústria e especialmente à sua agência, indo de dificuldades (ou a nulidade) de diálogo, o embargo para novos projetos e até mesmo o roubo de suas produções.

Em 2016, a artista foi ao Twitter quando uma mensagem direta de Halsey, sua companheira de gravadora, vazou na rede social. Sky comentou sarcasticamente a declaração da cantora de Without Me em seu perfil pessoal e, em seguida, publicou inúmeros tweets sobre como sua companhia havia furtado ideias conceituais criadas por ela para fornecê-las a outros cantores, referindo-se, provavelmente, a Halsey.

“À esquerda, Halsey alega que Sky é privilegiada e mimada demais para trabalhar, além de se considerar muito vanguardista para verdadeiramente se empenhar em ser uma artista. Nas demais imagens, Ferreira rebate os comentários via Twitter ao dizer que sua opositora não teria talento e bom gosto.”

Apesar de todos os problemas que antecederam o Night Time, My Time, o disco foi um sucesso de crítica e criou enormes expectativas para os próximos lançamentos de Sky. Em 2019, a artista lançou a enigmática Downhill Lullaby e, desde então, três anos se passariam até que nos apresentasse um próximo trabalho. Don’t Forget chegou às plataformas digitais no dia 25 de maio e recebeu críticas majoritariamente positivas. Aparentemente, se é que se pode confiar em uma promessa desse caráter, o sucessor do Night Time, My Time deve alcançar o público ainda esse ano.

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