Em um universo conturbado de In Utero

In Utero foi concebido como uma resposta ao sucesso inesperado de Nevermind. A banda queria se afastar do som pop e mostrar sua faceta mais experimental e intensa. Isso é evidente nas músicas como “Scentless Apprentice”, “Heart-Shaped Box” e “Rape Me”. O álbum também foi produzido de forma mais crua e natural, com a produção do renomado engenheiro Steve Albini. No entanto, apesar da vontade da banda de não repetir o sucesso de Nevermind, In Utero acabou vendendo muito bem e recebendo boas críticas da imprensa especializada. Ainda é considerado um dos álbuns mais importantes e influentes da década de 1990 e da história do rock alternativo.

O resultado final é um álbum incômodo, com uma produção mais crua e rústica, longe da perfeição sonora de seu antecessor. Kurt Cobain escreveu letras mais pessoais e diretas, muitas vezes abordando questões polêmicas, como o controle da mídia sobre a cultura popular. No entanto, isso não impediu que músicas como “Heart-Shaped Box” e “All Apologies” tornassem-se hites e continuassem sendo reproduzidas até hoje.

Embora In Utero não tenha alcançado o mesmo sucesso comercial de Nevermind, tornou-se um álbum cultuado pela crítica e pelos fãs, reconhecido como uma peça importante da discografia do Nirvana e do grunge em geral. A influência do álbum pode ser sentida em muitos artistas subsequentes e a sua importância na história da música moderna é inegável.

Sessões de gravação energizadas

“Meu objetivo é fazer um registro de som direto, sem truques ou adereços, que capture o som e a energia do Nirvana em um estúdio de gravação.”

Essa abordagem resultou em uma sonoridade mais pesada e menos polida do que a de Nevermind, algo que se reflete nas letras de Cobain, muitas vezes diretas e sombrias. Músicas como “Scentless Apprentice” e “Rape Me” foram alvo de críticas pela sua abordagem explícita de temas difíceis.

Embora a recepção inicial de In Utero tenha sido mista, o álbum tem sido amplamente elogiado com o passar dos anos como um marco no desenvolvimento do grunge e da música alternativa em geral. Sua influência é evidente em muitas outras bandas e artistas subsequentes.

A melhor coisa que você pode fazer neste momento é gravar o álbum em apenas alguns dias, com alta qualidade, mas ‘produção’ mínima e sem nenhuma interferência dos grandes chefes da empresa.
– Steve Albini

Embora a reação inicial às mudanças sonoras tenha sido mista, o álbum ganhou amplo reconhecimento ao longo dos anos e é amplamente considerado como uma das obras mais autênticas e genuínas da carreira do Nirvana. Além disso, a tragédia da morte de Kurt Cobain tornou In Utero ainda mais significativo como uma carta de adeus de um dos mais importantes músicos da geração.

Hoje, um remix de Steve Albini lançado em 2013 permite comparar as duas visões. Mas cuidado, essa não é a mixagem original do In Utero, mas uma nova leitura do álbum de Albini. Algumas versões são melhores que as originais, notadamente com a voz de Cobain ainda mais estridente e desesperada em “Scentless Apprentice” ou o lado carnudo das guitarras em “Very Ape“, por exemplo. Mas algumas escolhas permanecem discutíveis, ou parecem ser pura fantasia de Albini: por que, por exemplo, você removeu a contagem de guitarras no início de “Rape Me”? E “Dumb” sem violoncelo perde seu poder.

Vários níveis de leitura

Tudo isso é um testemunho do quão íntimo e complexo é In Utero e da forma como Kurt Cobain usou a sua arte para lidar com seus demônios internos e as pressões da fama. A polarização ao redor do álbum é um reflexo de sua habilidade de equilibrar a intensidade musical e emocional, tornando-o ao mesmo tempo experimental e acessível, e tornando-o um dos mais importantes álbuns do grunge e da música alternativa. 20 anos depois de sua primeira edição, In Utero é um tributo à integridade artística e à coragem de um artista que mudou a história da música.

Um canto de cisne para o grunge

A pressão sobre o Nirvana era enorme, com a expectativa de repetir o sucesso de Nevermind. Cobain tentou, de alguma forma, mudar o rumo da banda e da música que estavam sendo associados a ela. In Utero é visto por muitos como uma resposta a essa pressão, um esforço para recuperar o controle e criar algo que fosse autêntico e verdadeiro para a banda.

Mas na época, todo o movimento grunge se encontrava em uma encruzilhada. Ninguém, talvez, resumiu melhor do que o falecido vocalista do Soundgarden, Chris Cornell , que teria o mesmo destino trágico de Cobain 23 anos depois:

Quando todas as bandas da cena musical de Seattle começaram a assinar contratos com grandes gravadoras e a ter mais sucesso, houve essa atitude do tipo: ‘Vamos fingir que não é isso que queremos fazer e que outra pessoa está de alguma forma nos forçando a fazê-lo.”
– Chris Cornell, citado no livro Everybody Loves Our Town.

“In Utero” é visto como um álbum desafiador produzido por uma banda no topo de sua glória, mas que escolheu desafiar seu público em vez de seguir o caminho mais fácil. A situação de cobrança sofrida pelo Nirvana e Kurt Cobain quando se tornou um sucesso comercial e mainstream é explicada pela teoria da alienação. Ryan Moore escreveu sobre como os fãs de uma cultura underground como o grunge se sentem quando se torna mainstream e todos podem acessá-la facilmente. Kurt Cobain também estava passando por esse desgosto, pois seu sonho de se tornar uma estrela do rock se tornou realidade mais rápido do que ele esperava e ele nunca aprendeu a lidar com as consequências. É isso que faz de “In Utero” um álbum perturbador, bonito e terrivelmente triste.