Por que Rihanna é o único nome possível para o próximo intervalo do Super Bowl?
No último dia 24, uma postagem no Instagram pessoal de Rihanna dissipou os rumores de que outros artistas estavam sendo cogitados para o intervalo da 57ª final do Super Bowl, a ser realizada em fevereiro de 2023. Na mesma semana, o anúncio de que a Pepsi deixaria de ser a patrocinadora oficial do evento surpreendeu a mídia e o público, rapidamente substituída pelo Apple Music, serviço de streaming da holding. Desde 2013, a Pepsi comandava o intervalo e era a grande responsável por convidar as atrações. No ano passado, os quinze minutos dedicados à música no Super Bowl foram assistidos por mais de 120 milhões de espectadores, segundo informações da própria liga.
Simultaneamente ao anúncio, a página principal da Apple Music e do iTunes foi tomada por propagandas e playlists estrelando Rihanna, que recebeu seu primeiro filho com o rapper A$AP Rocky em maio deste ano. Nas redes sociais, a especulação principal era de que Taylor Swift seria a escolhida da vez, sendo uma das únicas grandes estrelas femininas da música pop a não ter tocado no evento. Os boatos foram, em parte, fomentados pela recusa da cantora natural de Barbados em 2019, como forma de prestar solidariedade ao ex-quarterback da San Francisco 49ers, Colin Kaepernick, que sofreu intensa retaliação por ter escolhido não levantar-se durante o hino estadunidense em 2016. Na ocasião, o jogador afirmou ter tomado essa atitude como forma de protesto contra a brutalidade policial e as injustiças sofridas por afro-americanos em todo o país.
Em janeiro, Rihanna anunciou sua gravidez por meio das redes sociais.
Eventualmente, Maroon 5 foi a atração escolhida para 2019, na 54ª final do campeonato, e a recepção do público foi, tanto nas redes sociais quanto na mídia, majoritariamente negativa. Veículos como o The Guardian e a Pitchfork não pouparam o sarcasmo ao ironizar a falta de uma camisa por parte de Adam Levine, o vocalista da banda, como uma tentativa de salvar o show de sua execução entediante e pouco dinâmica, muito embora a setlist tenha sido preenchida por músicas populares. No ano anterior, Justin Timberlake havia recebido críticas similares.
“O show deveria ter dado a Timberlake a oportunidade de lembrar ao mundo o porquê dele ter continuado a ser um astro pop nas últimas duas décadas”, escreveu um redator da Forbes, completando que, ao invés disso, o artista havia entregado uma performance ”sem vida” e ”incapaz de acompanhar sua banda e dançarinos”.
A reação da crítica e dos espectadores aos dois intervalos foi o suficiente para que a Pepsi escalasse Jennifer Lopez e Shakira para a edição de 2020, numa tentativa de revitalizar a imagem e reputação do evento com duas das maiores performers da música pop. O fato de ambas as artistas terem descendência latina também era um elemento em favor da escolha, na premissa de afastar as controvérsias racistas que atormentaram os patrocinadores nos últimos anos. Em 2022, Dr. Dre, Mary J. Blige, Snoop Dogg, 50 cent, Kendrick Lamar e Eminem foram selecionados para um espetáculo dedicado ao hip hop que cumpriu sua função, apostando no carisma individual de cada um e na nostalgia trazida pelos veteranos presentes na line up para alcançar o sucesso.
Em 2023, poucos nomes do alto panteão da indústria fonográfica ainda não foram convidados para chefiar o evento. De Madonna à Beyoncé e de Katy Perry à Shania Twain, é seguro afirmar que, desde quando o evento passou a integrar atos pop no intervalo do jogo no começo dos anos noventa, inúmeros foram os altos e baixos. Enquanto shows como o de Prince e Michael Jackson, continuam habitando o imaginário popular como duas das performances mais memoráveis, titãs da música pop como Taylor Swift, Kelly Clarkson e Britney Spears jamais tiveram performances solo no Super Bowl. Todos os anos, rumores de que Spears será a cantora convidada para a edição circulam nas redes e, com o fim da tutela no ano passado, os boatos foram fortalecidos de forma esperançosa pelos fãs. No entanto, não são raras as ocasiões em que a artista expressa que não possui desejo algum em subir nos palcos novamente num futuro próximo.
Clarkson e Swift, por outro lado, compõem um nicho específico por não se enquadrarem no arquétipo conhecido da diva pop: não são dançarinas e costumam recorrer a artifícios de palco e adereços de iluminação em seus shows, o que não é incomum para o Super Bowl, mas, mesmo entre os entusiastas, teme-se que um show de qualquer uma das duas falharia em sobreviver às expectativas elevadas ou deixar a sombra de antecessores. É nesse ponto que a escolha de Rihanna mostra-se não só coerente, mas o único nome possível para continuar o sucesso dos últimos dois anos e, definitivamente, expurgar os fracassos monumentais que antecederam a edição de Shakira e Jennifer Lopez.
Desde sua estreia em 2005, Rihanna acumula 31 faixas no top 10 da parada principal da Billboard americana, a Hot 100, com 14 delas atingindo o número um. Mais notavelmente, We Found Love, sua parceria com Calvin Harris de 2011, permaneceu por onze semanas no primeiro lugar, enquanto Work, com Drake, esteve por nove semanas. Consolidando-se como uma das maiores hitmakers da história da música pop, a cantora também possui um enorme valor de marca associado ao seu nome que, contabilizando empreendimentos como a Fenty Beauty e a Savage x Fenty, alcança a casa de quase um bilhão e meio de dólares.
No desfile da Savage x Fenty de 2019, a música Malokera, parceria dos brasileiros MC Lan com Ludmilla e os DJs Skrillex e Troyboi integrou a trilha sonora.
Rihanna não só é um dos nomes mais populares dos últimos vinte anos na música, mas também tem todas as competências necessárias para entregar um show memorável graças ao seu carisma irrefreável mas, sobretudo, o hiato de sua carreira desde o lançamento de ANTI, seu disco de 2016. Apesar das súplicas de seus fãs por novo material, o período de inatividade musical prolongado é incomum para uma artista pop que ainda desfruta do pico de sua popularidade. Nesse sentido, romper a pausa em um evento grandioso tão grandioso quanto o intervalo do LVII Super Bowl soa não só como uma oportunidade para retomar as atividades midiáticas, mas também anunciar um possível novo álbum.
Em inúmeras ocasiões, a artista provou saber mesclar diferentes hits sem pecar na execução. No VMA de 2016, um medley de diversas faixas populares relembrou o público da eficiência de Rihanna em comandar um palco e, sobretudo, trazer frescor mesmo para suas músicas mais antigas. Como os halftimes bem sucedidos do passado mostraram, a fórmula de associar canções conhecidas e tradicionais do passado com covers, participações especiais e visuais competentes costuma ser uma rota mais segura do que preencher o setlist com trabalhos mais recentes que ainda não ganharam tanta projeção. No caso de uma artista que concluiu sua última era no topo das paradas, esse sequer será um problema: os quinze minutos do show de Rihanna devem ser preenchidos com suas faixas mais populares, além de possíveis aparições de colaboradores antigos, como Jay-Z (Umbrella) ou Drake (What’s My Name? e Work).
As expectativas para o Super Bowl de Rihanna são as mais altas possíveis, uma vez que, nos últimos anos, tornou-se incomum que artistas de alto escalão associem performances grandiosas com materiais audiovisuais. Em 2018, após ser uma das atrações principais do Coachella, Beyoncé disponibilizou um documentário que navega pelas dificuldades e rotina árdua da cantora para produzir um espetáculo memorável e, como mãe recente, não seria exagero especular que Rihanna possa ir pela mesma rota. De todo modo, todos os olhos estarão voltados para o estádio de State Farm em Glendale, no Arizona, no dia 12 de fevereiro do ano que vem.