A Volta Inacabada de The Mars Volta
O novo álbum homônimo do The Mars Volta, o sétimo do catálogo da lendária banda progressiva alternativa de rock blues rumba e tudo que você pode imaginar de latino e africano, é sua primeira gravação em dez anos. Nem parece que passou tanto tempo desde Noctourniquet pelos mesmos motivos de sempre, existirem músicas sendo lançadas nesse intervalo por Omar Rodriguez Lopez na sua carreira solo e trabalhos paralelos, além de haver um retorno com At The Drive-in (sim, são os mesmos caras), soa como se The Mars Volta sempre estivesse por aí e nunca fora para lugar algum. Esse é um review do sétimo álbum e apesar de emanar grandes vibes progressivas, não é uma volta tão perfeita assim.
Para começar, a dupla Omar e Cedric sempre foram o coração dessa banda. Esse é o primeiro projeto do grupo que parece ter sido feito inteiramente com a criação deles no cerne da coisa. Isso nem sempre é uma coisa ruim. Quando uma parte do grupo foi saindo do projeto em Noctourniquet, esse efeito não impactou tanto na qualidade do som. Aqui, parece que Cedric e Omar gravaram sem recursos e em casa. Não me entenda mal. álbuns incríveis foram gravados assim e há canções que impactaram o mundo por esse formato de gravação. “Nebraska” de Bruce Springsteen e Odelay do Beck para usar como exemplos. Com esse álbum, a falta de produção soa seca. Uma série de músicas que poderiam ser mais encorpadas não alcançam seu potencial na mixagem. Falta cor, brilho e intensidade. The Mars Volta é conhecido por essa marca. Na verdade, a banda é conhecida por exagerar nessa intensidade com instrumentais com estruturas de sopro e metais. As camadas nos efeitos vocais também são marcantes. Esse álbum por comparação parece inacabado. Falta detalhes sutis, mas há o que se vangloriar.
As letras se tornaram mais claras e diretas, e o som, no geral, parece uma fusão de Rock Latino dos anos 70. Aqui também existe, já agora, uma das minhas canções favoritas da banda, “Blacklight Shine”, com suas guitarras psicodélicas, tambores batendo forte e um vocal que parece ter saído de um terreiro de candomblé no meio de uma noite escura. As harmonias nessa canção, realmente, merecem um estudo de técnica. Quando chega no pré-coro há elementos muito fortes presentes.
Em “Vigil”, você tem uma balada/dança cheia de ambiente. Ela te prepara para o restante do álbum com uma identidade onírica. Aliás, tem uma história aqui a ser contada. Uma história do povo Porto-Riquenho. Um povo sofrido com corrupção e poucas oportunidades, com muita influência gringa dos americanos que vão apenas explorar o local historicamente, e, hoje reduto de férias, demonstra essa visão vazia. Talvez, por isso seja um álbum tão descrente, com energia vital, mas sem força em alguns momentos. A justificação pode até ser essa, mas falta volume. Isso não faz dele um álbum ruim. “Vigil”, também carrega a identidade de uma canção dos anos 70. As notas serenas e o vocal dramático dão um ar de balada com um floreio excêntrico, afinal é The Mars Volta. “No Case Gain” é a pop rock com mais groove e mais direta desse álbum homônimo. Talvez a melhor intro que a banda já gravou. Colocar essa faixa para alguém ouvir parece algo retirado do álbum mais experimental do Arctic Monkeys, se ela não souber o que está ouvindo.
Em um álbum de 14 canções, essas são as mais marcantes. Para ser honesto, as mais viciantes. “Cerulea”, “Blank Condolences”, “Flash Burns from Flashbacks” também são absurdas de gostosas de ouvir. Só que se nota os problemas de produção além delas.
Parece sem vida. Depois de dez anos, esperaria um álbum só de hits. Aqui, carece frisar os três que citamos acima com mais carinho. De resto, faltam cores em uma tela tão primorosa. A bateria falta peso. Em momentos que você acha que ela vai alcançar seu potencial, ela retrocede, causando uma espécie de anticlímax. Os tons e semitons da guitarra são tradicionais, no melhor uso da palavra. Falta camadas, falta luz, parece caótico. Poderia sim ser o melhor álbum da banda. Sem dúvida. Se houvesse uma mixagem primorosa. Parece que estamos no meio-termo. Para agradar novos ouvintes.
Essas falhas elas se realçam nos momentos mais leves das canções. Nos cortes onde você espera uma paleta de som mais trabalhada e mais bonita para acompanhar a harmonia e a balada, tirando “Cerulea” ou “Blank Condolences”, parece que eles não atingiram o tom ideal. As outras canções sofrem com a falta de som interessante. Para todos os efeitos, em termos de letras, esse é o melhor álbum deles com frases de partir o coração e de fazer você refletir. Existe uma linguagem de amor e tempo escondida aqui. De causas perdidas. De perder o fôlego. É injusto a instrumentação acompanhar essas letras de forma bagunçada. Isso se reflete ainda em canções que simplesmente acabam. Parece que perderam o vigor. Eles tentam maquiar isso com efeitos, mas é um final abrupto, na maioria das vezes.
“Flash Burns from Flashbacks” é um excelente exemplo, intensa e linear, ela cresce e cresce e simplesmente acaba. A canção mais experimental e mais incrível provavelmente é “Que Dios te Maldiga Mi Corazón” que têm exatos 1:42 min, o que a torna super foda e super frustrante. Para todos os efeitos, eles não são um Ramones e não deveriam escrever canções tão curtas. O Rock Latino nela é tão perfeito e tão real. Honesto. Mas é tão pouco que a gente fica querendo mais. Eu poderia citar cada canção do álbum, mas seria desesperador ficar alternando as partes incríveis, que todas têm, com as que simplesmente fazem elas serem inesquecíveis. “Tourmaline”, violões incríveis, mística. Novamente, mixagem inferior e volume simplista. “Equus 3” com riffs pesados e hipnóticos, grooves absurdos. Parece uma canção do Tool, com certeza a melhor comparação que podemos fazer, mas sendo a número 12 do álbum, você já cansou do tratamento inferior. Novamente, falta mixagem fazendo dela a canção mais insuportável do álbum.
O novo álbum do The Mars Volta não é a volta que esperávamos, mas é um retorno. Tem problemas evidentes. Só coloque para ouvir e você vai identificar. Ao mesmo tempo, têm as melhores letras que uma banda lançou esse ano, canções extremamente pessoais e sinceras, com uma personalidade que salva o álbum, com harmonias sinceras e diretas. O que desfere contra ele é a produção de som. Falta alcance e performance, na maioria dessas canções. Não há momentos impressionantes como nos primeiros álbuns, até mesmo no último álbum que já dava sinais de respirar com dificuldade, ainda tem um corpo de baile mais marcante que esse aqui. Não é um álbum desperdiçado, de 14 canções, seis são muito interessantes e merecem estar numa playlist de road trip ou se você é um fã de longa data.
The Mars Volta e espero que fiquem para sempre. Espero também que o próximo álbum tenha a profundidade desse aqui, com uma produção melhor. E cravo aqui: Será um clássico instantâneo.