Jessie Ware - That! Feels Good! | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Jessie Ware – That! Feels Good!

Muito se fala sobre os danos que a pandemia e o lockdown trouxeram para o que tange a comunicação e a sociabilidade das pessoas. Num contexto onde a humanidade esteve em uma prisão de monotonia dentro de casa, a ascensão do Nu-Disco começou a ganhar corpo no mainstream: grandes nomes como The Weeknd, Dua Lipa e Lady Gaga começaram a surfar no hype do retrô e deram atenção à sonoridade dançante. Aqueles que se atreveram a lançar seus trabalhos durante a primeira temporada da pandemia surgiram com o mesmo discurso: trazer um pouco de alegria para um momento difícil. Em especial, Jessie Ware aceitou o desafio o fez com maestria: What’s Your Pleasure? não é o primeiro álbum da cantora britânica, mas certamente é o mais relevante. A mistura dos elementos sonoros das discotecas e a tecnologia da atualidade resultaram em uma coletânea de 12 faixas encantadoras.

Não satisfeita, a britânica voltou na última sexta-feira, 28 de abril, para agraciar o Reino Unido e o mundo com seu novo trabalho, That! Feels Good!, e deixar bem claro para seu público que a sua identidade inspirada no anos setenta e oitenta não é passageira. Como um bom vinho, as letras e a musicalidade da cantora só fizeram amadurecer com elegância e trouxeram ao mercado uma proposta ainda mais alegre, dançante e disco de seu trabalho anterior, colocando em cheque a posição do seu então melhor álbum. Lançado pela PMR Records e pela EMI Records, o novo projeto já está recebendo diversas críticas positivas.

Os lançamentos dos singles Free Yourself e Pearls já entregaram uma prévia da magnitude que Jessie Ware e seus co-produtores Stuart Price e James Ford planejavam trazer, com a primeira sendo um ode à autoestima e à autoconfiança e a segunda um toque sensual com nuances de funk e groove que remete aos anos 70, como uma conversa divertida e a sós. Begin Again, por sua vez, traz as referências brasileiras dentro de uma pista de dança catártica onde você pode fechar os olhos e sentir a percussão e os vocais dançarem em sua cabeça ou, se preferir, pode conferir o maravilhoso balé no clipe da música, dirigido por Charlie di Placido:

É interessante o contraste de Ware entre a realidade feliz transmitida pelo álbum e o contexto da vida da cantora em que ele está inserido. Parte das letras deste álbum, bem como do último, foi composta através de telas, em reuniões do Zoom. Não é à toa que em Begin Again, Jessie frustra-se com o fato de seu amor estar sendo filtrado por máquinas. A faixa-título que inaugura o projeto, por sua vez, é um convite aberto aos próximos quarenta minutos de boa música e lirismos sedutores que Jessie, acompanhada de seus co-compositores, Shungudzo Kuyimba e Sarah Hudson, está oferecendo. Nela, é possível perceber o oásis cativante em que você está entrando, e não é difícil pegar de primeira o que ela está tentando dizer: “sim, eu trouxe mais uma gloriosa mistura de funk, disco e new wave. Bem-vindo!”

Após fechar o primeiro terceto deste poema nostálgico, o álbum introduz a primeira balada: Hello Love. Com a presença de batuques e vocais amenos, a música une a batida suave da bossa nova com as cordas do R&B e compõe uma linha tênue entre o sensual e o romântico. O mergulho profundo na euforia e na busca pelo deleite da noite adentro voltam a incorporar na sexta faixa, Beautiful People, certamente uma das melhores desse novo trabalho. Jessie compra uma jaqueta roxa de couro, serve a si mesma um drinque e vê gente bonita em todos os lugares — palavras dela. A letra da canção é um manifesto à dor e à alegria de viver — basta que você misture tudo com gelo —, não obstante, numa melodia fenomenalmente produzida por Ford que traduziu o discurso da cantora em um dance performático e redundantemente alegre.

Freak Me Now encerra com maestria a segunda seção do álbum, referenciando sonoramente lendas dos tempos da discoteca, como Roberta Kelly, Sade e Thelma Houston, além de contar com a presença de baixos compassados e violinos que configuram um house disco embebido em alusões ao Chic e ao Nile Rodgers diretamente. O último capítulo desta história contada por Ware é intimista, convidativo e possui um arranjo mais lento. Shake The Bottle, Lightning e These Lips entram progressivamente em um adágio confortável sem abandonar o groovy que Ware intencionalmente despertou. As baladas passam longe de serem tristes e melancólicas, mas buscam explorar um universo divertido e sensual dentro do que uma música lenta se propõe a fazer.

Ao comparar visualmente as ondas sonoras do álbum completo com a atividade cerebral após um clímax, não é difícil entender a mensagem por trás desta orgástica coletânea de faixas. A meia-vida de quarenta minutos de That! Feels Good! traz uma experiência sensorial em uma euforia indescritível e agitada, atinge o seu ápice, e sucede-se em uma desaceleração harmônica que alude à sensação de êxtase e bem-estar.  O storytelling, sem dúvidas, é a melhor parte do álbum.

No geral, That! Feels Good! resgata o discurso político de Jessie Ware sobre orgulho e confiança, buscando sinapses em ballrooms do cenário gay dos anos setenta, oitenta e noventa além de referências da era disco que foram banalizadas pela sua autoria negra. Essas bandeiras com certeza não passam batido. É um álbum sobre amor, sexo e, em especial, sobre amor próprio, tudo isso em um sarau nu-disco muito bem referenciado, forte candidato a estar entre os melhores do ano de 2023.

Nota: 8,5

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