Supercombo – Remédios
Supercombo é uma banda roqueira desde 2007, mas que mistura e experiencia elementos em diversos tons. O grupo é formado por Léo Ramos, Carol Navarro, André Dea e Paulo Lemos e, na última sexta-feira (12), lançou o sexto álbum de estúdio Remédios, gravado em São Paulo e produzido por Zeca Leme.
“Acho que não há remédio algum que dê conta da vida. O que a gente tá falando nesse disco é mais nisso de você aceitar a vida e entender o que você pode fazer com ela, extrair dela, sabe?”, comentou o vocalista Léo Ramos sobre a razão do disco levar esse título. “O nome do álbum mesmo veio do nosso processo criativo. Passamos por uma fase muito ruim nos últimos anos e aí nossos encontros para a composição deste disco acabaram se tornando uma experiência muito positiva, deixaram nossa rotina mais saudável e tranquila, funcionava como uma espécie de ‘remédio’ pra gente”. Sobre a faixa que intitula o projeto, Ramos revelou que é “como se o eu-lírico fosse um remédio em si, falando sobre o que ele reflete em relação ao uso abusivo de remédios por boa parte da nossa sociedade contemporânea.”
Os integrantes explicam que apesar da vibe das músicas sempre serem bem alternadas e tendenciosas a algo leve, esse novo álbum saiu mais pesado naturalmente e em sintonia, uma vez que estavam todos vivenciando um momento pós-pandêmico igualmente pesado. A composição do disco foi como um exorcismo da alma abordando solidão, relacionamentos, superação e temas emocionais, convidando o ouvinte a se conectar com a banda e consigo mesmo.
Remédios é composto por 12 faixas, e a primeira já surpreende pelo gutural. A letra remete a um recomeço, um cansaço e a busca pela motivação de voltar a ser o que se era aos poucos. A melodia é expressiva como um grito de alívio aos que cantam com identificação e, logo um pouco abaixo, Tarde Demais, mantém-se na proposta otimista, passando uma mensagem de boas perspectivas junto a Vitor Kley.
Em Intervenção, a banda apresenta algo com o qual já está muito familiarizada: o ritmo da música latina. Dançante e alegre, retrata uma conversa do próprio subconsciente com o sujeito, usando palavras de incentivo para seguir os sonhos e manter-se firme em vivenciar bons momentos a fim de não desistir. A canção passa uma sensação de trilha sonora para quem precisa de um insight pessoal enquanto busca manter a sanidade durante o caos e as dificuldades da vida moderna.
Fim do Mundo apresenta uma perspectiva de universo na visão de quem está sem saída em meio a um pandemônio emocional. Não se fala sobre o sentido literal do fim, mas, sim, sobre o sentimento paralisante que uma crise provoca, como se o mundo fosse acabar. A canção tem uma ótima proposta, mas é a prova de que uma boa ideia, vozes alternadas e melodias intensas ainda podem soar desconexas: asensação de desorganização da faixa talvez possa combinar com a ideia da composição: desconforto. Pode-se dizer o mesmo da música anterior, O Pneu e a Lombada, que traz uma letra otimista e motivacional ao fazer analogias aos obstáculos cotidianos, embora, ao mesmo tempo, carregue uma composição “mais do mesmo”.
É importante falar sobre À Primeira Vista pois é uma recuperação suave. A melodia é nostálgica e organizada, oferecendo uma boa sensação ao cantar sobre os romances dessa paixão à primeira vista de forma tranquila e cativante. Em seguida começa Estrela do Mar com a participação de Elana Dara, que introduz reggae e rap simultaneamente. A letra tende á um poema cômico inicialmente sem muita coerência, mas não é algo ruim, proporcionando uma canção divertida e gostosa de se ouvir. O vocal é intenso, relaxante e criativo.
O álbum se inicia em gutural, mas também termina em gutural. Por fim, Esqueletos na Areia pode passar uma interpretação de sombras do passado que ainda atormentam, mas que o cantor está satisfeito com as escolhas atuais. Pelo menos é o entendimento que o refrão proporciona ao afirmar: “teus dias tão contados, disseram esqueletos na areia/ Mas eles só tem inveja de todo o cálcio que a gente tem”.
Em conclusão, Remédios é muito reflexivo e intenso assim como todos os outros projetos da banda. O tema saúde mental está sempre em evidência, apesar das letras que, muitas das vezes, soam propositalmente cômicas. Apesar de um descontentamento no meio da obra, ela se apresenta bem no início e fim, precisando se atentar a tênue linha entre o experimento e a confusão de personalidade. Mesmo assim, o projeto se encerra muito bem.