Sleep Token – Take Me Back To Eden
Do single de sucesso The Summoning, que disparou ouvintes do Spotify aos buracos de Reaction no Youtube, o Sleep Token tem criado um mistério em torno de si desde 2019 através de máscaras, mantos até o chão, runas e uma tradição mística. Atribuir qualquer gênero a eles é difícil. Com o metalcore, prog e rock, polvilhados por empréstimos da eletrônica e R&B, Take Me Back To Eden traz mais do que os fãs da cena costumam esperar. Quando Vessel alterna entre passagens melódicas e gritos aterradores, você pensa em como o álbum foi, na verdade, instrumentado com moderação, apesar da abundância de influências externas.
Essa é a terceira parcela de uma trilogia enigmática para concluir a saga em andamento do grupo através de novas tangentes. A abertura Chokehold direciona o disco para um território completamente distinto de This Place Will Become a Thumb. Sintetizadores e vocais excêntricos introduzem a faixa antes que todos flexionem seus músculos no refrão. Parece exagerado pressentir uma nova revolução musical aqui, mas pode-se pelo menos atestar que o Sleep Token têm poucos antolhos quando se trata da conexão de estilos em desacordo – especialmente nos desvios do rock para o pop
Com Vore, no entanto, a banda traz seus seguidores de volta ao centro por uma descarga elétrica de black metal. São justamente esses contrastes que tornam o trabalho emocionante. O rap arriscado em Granite e a faixa-título são estratificadas, ponderadas e executadas com excelência – menos sólido é o fato de que Take Me Back To Eden lançou anteriormente quase todos os singles que compõe o novo disco e tanto já nos foi revelado que o material afunda em sua metade.
Carregado por uma instrumentação gerada em computador, DYWTYLM soa como um pop descartável; mesmo ao reunir traços semelhantes a Fall For Me de This Place Will Become a Thumb, ela não promove o mesmo estímulo. Pianos e vocais limpos na introdução ou conduzindo o belo clímax que encerra a faixa Euclid, agora se tornam um padrão, mas em Rain e Aqua Régia são suficientes para convencer até os mais céticos sobre a qualidade dessas faixas. Depois de Alkaline, Vessel revela outra vez seu gosto por metáforas químicas e, apesar da abordagem pacífica, não existe cansaço se você é familiarizado com os álbuns anteriores do Sleep Token.
Sinais se alinharam para que o público e a imprensa especializada apontassem a banda como uma nova virada de chave no metal. Os gênios criativos de Vessel, II, III e IV nunca esqueceram de seus propósitos e sabem dar sentido a cada perambulação em território estrangeiro. Tudo é harmonioso e fluido, mesmo durante as quebras brutais de Ascensionism. Poucos grupos conseguem fazer coexistir tantas camadas diferentes em um só projeto.
Com uma significativa base de fãs já conquistada, imagem atraente e um recorde capaz de envolver tanto seguidores de Deftones quanto de Hozier, a íntegra parece indicar que o culto ao Sleep Token aumentará nos próximos anos. Resta saber se essa crescente importância pode obrigá-los a desvendar o mistério de sua identidade ou se os integrantes permanecerão fiéis à proposta original.
João Scalércio
Eles experimentam muita coisa diferente que dá certo, impressionante! Amo demais essa banda e espero um show deles no brasil pra ontem. Excelente crítica, diga-se de passagem, me apresentou diversos fatos que eu desconhecia!