Foo Fighters - But Here We Are | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Foo Fighters – But Here We Are

Foo Fighters é uma banda que “nasceu da tragédia”. Em 1994, após o falecimento de Kurt Cobain e o fim oficial do Nirvana, o mundo da música esperava que Dave Grohl se juntasse a outra banda e vivesse no eterno papel de baterista – ao fundo do palco. Porém, ele preferiu seguir por um caminho que ninguém imaginava.

Assim, ainda em 1994, ele entrou no estúdio Robert Lang e gravou 15 canções, sendo o responsável por tocar todos instrumentos de um projeto que se tornaria o primeiro álbum, autointitulado, do Foo Fighters. E o resto é história. Ao longo de 29 anos de carreira o Foo Fighters seguiu por uma espiral ascendente em seus dez álbuns de estúdio – até o trágico evento de março de 2022.

Um dia antes de sua apresentação no Lollapalooza Brasil 2022, o baterista, Taylor Hawkins, foi encontrado morto em Bogotá, na Colômbia. Assim, de forma similar ao que aconteceu 28 anos antes, Grohl se viu sem seu melhor amigo de forma brutal e avassaladora. Hawkins estava no projeto desde a turnê do álbum The Colour and the Shape (1997), fazendo parte de 25 anos da história do Foo Fighters. Quatro meses após, Virginia Grohl (a mãe de Dave) também faleceu, aos 84 anos.

Após duas perdas inestimáveis, restou à banda resguardar-se e se expressar através da música. But Here We Are nasce assim, como uma resposta brutal, honesta, crua e emocional a tudo que o Foo Fighters precisou vivenciar no último ano. Até o nome do disco pode ser dito como uma forma de suspiro: “mas… aqui estamos”. Produzido por Greg Kurstin e pela própria banda, formada por Nate Mendel (baixo), Chris Shiflett (guitarra), Pat Smear (guitarra) e Rami Jaffee (teclados) ‒ além do próprio Dave, que, aqui, assume a bateria ‒ o décimo primeiro álbum de estúdio do Foo Fighters promete passar por todas as fases do luto: da raiva a tristeza, da serenidade à aceitação.

Os primeiros versos do álbum, da música Rescued, mostram como mesmo tendo a morte como única certeza da vida, ela acontece de forma impremeditável e dura. “Isso aconteceu num instante, do nada. Aconteceu tão rápido e depois acabou.”.

A canção começa sem a bateria, que entra para acompanhar o vocal em 0:13, quase como um lembrete de que Hawkins não está mais entre nós, mas o show precisa continuar. Fica claro desde então que o álbum é uma tentativa de se curar através da música. Com medo de serem engolidos pela escuridão do luto, a única coisa que eles esperam é que alguém os resgate.

As letras são simples e diretas. Como eles mesmos disseram antes do lançamento do material, é a forma mais sincera e mais crua que eles conseguiram colocar em canções para bradar sobre o luto. Não há, aqui, romantização alguma, ou tentativas melodramáticas e piegas de se expressar.

“Alguém disse que nunca mais verei seu rosto. Uma parte de mim simplesmente não consegue acreditar que seja verdade. Fotos de nós compartilhando músicas e cigarros, é assim que sempre vou te imaginar.”(Under You). Para os fãs da banda, ouvir o novo álbum dói.

Dói porque quem acompanha a trajetória dos músicos sabe como, a nível pessoal, a perda de Hawkins foi sentida. Dói porque compartilha do íntimo de Dave. E dói porque trata isso do jeito mais humano e natural possível. Grohl sabe que é preciso sentir tudo o que há para ser sentido para, em algum momento, deixar ir.

Apesar da lírica triste das duas primeiras músicas do disco, as melodias são explosivas e lembram muito o início da carreira da banda, principalmente no álbum In Your Honor. Todo o But Here We Are parece um retorno às raízes do grunge, com os vocais mais rasgados e os instrumentais mais crus. Em Hearing Voices fica explícito, de vez, que o projeto é um convite para entrar na bolha de Dave Grohl, com arranjos melancólicos e um tom de lamentação na letra. A música fecha com chave de ouro ao mostrar um voz e violão de Dave.

E apesar das estruturas musicais passarem longe da complexidade, como a faixa But Here We Are comprova, isso não é um defeito. Na verdade, o Foo Fighters mostra como o luto pode ser incrivelmente simples, apesar de arrebatador. Em Show Me How, Dave faz um dueto com sua filha mais velha, Violet, em um shoegazing esmagador. A influência de Billie Eilish é clara no vocal, e o próprio Grohl já deixou claro em diversas entrevistas que é fã assíduo da cantora.

As últimas duas músicas são um tributo claríssimo a Virginia Grohl. The Teacher faz uma referência direta à profissão dela, que esteve em salas de aula por 35 anos. Não apenas isso, mas foi parte fundamental da formação de Dave enquanto pessoa, já que, durante os jantares em família, ela frequentemente fazia exercícios para melhorar a dialética dele. Dave lamenta repetidas vezes que a mãe, apesar de ser professora, nunca conseguiu ensinar a ele a melhor forma de dizer adeus. E, como se contasse cada segundo que resta naquela catarse de sentimentos, ele faz isso não da melhor forma que pode, mas da única que consegue.

Rest, a última música do álbum, tinha um trabalho dificílimo de fechar But Here We Are de uma forma digna. E assim o fez. Num tributo que marca a memória e o peito de uma vez só, é impossível dizer se a canção é mais emocionante enquanto performada no trecho acústico ou quando a guitarra explode e ecoa nos nossos ouvidos. De jeito ou de outro, é difícil não ficar com os olhos marejados ao ouvir o último verso. “Ao acordar, tive outro sonho de nós dois sob o sol quente da Virgínia. Lá, eu vou te encontrar.”

Quando a vida nos confronta com mazelas e lutas pessoais, é difícil entender qual será a reação de cada um. Raiva, tristeza, remorso, compreensão. Saudade. Apesar da morte ser a única certeza da vida, ela é implacável porque o sentimento que fica com o passar dos anos, justamente a saudade, é insuperável. Se você, um dia, já se perguntou como um rockstar reage a isso, But Here We Are é a resposta.

Nota: 8.0

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