O Festival Doce Maravilha e os Encontros Musicais Inesquecíveis de Gilbaiana e Adriana Calcanhotto com Rodrigo Amarante | Moodgate
Um novo sentimento para a música
3900
post-template-default,single,single-post,postid-3900,single-format-standard,bridge-core-3.0.1,qode-news-3.0.2,qode-page-transition-enabled,ajax_fade,page_not_loaded,,qode-title-hidden,qode_grid_1400,vss_responsive_adv,vss_width_768,footer_responsive_adv,qode-content-sidebar-responsive,qode-overridden-elementors-fonts,qode-theme-ver-28.7,qode-theme-bridge,qode_header_in_grid,wpb-js-composer js-comp-ver-6.8.0,vc_responsive,elementor-default,elementor-kit-7

O Festival Doce Maravilha e os Encontros Musicais Inesquecíveis de Gilbaiana e Adriana Calcanhotto com Rodrigo Amarante

Nesse sábado (12), o Rio de Janeiro recebeu a festa da música brasileira, o Festival Doce Maravilha. O dia começou com uma forte ventania na Marina da Glória, mas isso não impediu o público de experimentar a química entre artistas de diversas regiões do país, com shows inclusivos e incríveis. Nem o vento atípico da cidade carioca impediu que momentos memoráveis ficassem gravados na memória das centenas de espectadores.

A origem da programação teve um ponto de partida que quebrou os moldes tradicionais e se transformou em uma autêntica obra coletiva — em vez de seguir roteiros predefinidos ou conjuntos de músicas habituais, os curadores lançaram aos artistas um desafio eletrizante: a liberdade absoluta para forjar um espetáculo singular, imbuído de sua visão íntima para exaltar a alma da música brasileira, resgatar momentos históricos de impacto ou prestar reverências emocionadas a figuras que deixaram um legado inestimável. E, ali, presenciamos a ancestralidade brasileira, africana e nordestina. Gilberto Gil e BaianaSystem transcenderam e definição de artisticidade ao elevarem-se a partir de repertórios poderosos e musicalmente distintos, frequentemente explorando matrizes rítmicas convergentes, como o reggae. Essa fusão por si só já trouxe uma energia incrível e, no palco, a lenda da MPB promoveu um encontro magnético e cativante com o carisma inigualável do grupo baiano, entrelaçando suas músicas em um abraço melódico. Cada faixa ecoava de uma maneira inesperada e surpreendente.

Gilbaiana / Foto: Tatiane Silvestroni

Cada música se torna uma narrativa musical que flui como um rio. Lucro e Nos Barracos da Cidade dançam juntas em uma coreografia melódica, como se os anos que as separam fossem meras ilusões. A suavidade de A Novidade se harmoniza elegantemente com os ritmos terrenos de Capim Guiné, criando uma sensação de familiaridade que abraça todos os presentes. Já a harmonia de Sulamericano se mistura com os acordes ousados e rebeldes de Punk da Periferia, e não podemos deixar de citar o embalo de Emoriô. É como se a própria essência do Brasil, com suas complexidades sociais e culturais, estivesse sendo celebrada e desafiada em uma única sinfonia. E pairando como uma auréola invisível sobre o palco, está a homenagem tocante a João Donato, Emoriô, uma canção que parece ultrapassar a emoção e trazer à tona memórias e sentimentos profundos.

Nesse encontro mágico entre BaianaSystem e Gilberto Gil, os dois artistas provaram o porquê de seus legados serem tão celebrados mesmo na atualidade, como fenômenos que, com certeza, se imortalizarão na história da músicas brasileira.

Os ventos fortes na tarde iniciaç causaram danos à cenografia e cobriram um palco com areia, resultando em um breve atraso para limpeza. No entanto, o evento ocorreu sem problemas ou avarias. O Palco MangoLab, com árvores do aterro do Flamengo, criou um ambiente acolhedor e tropical. A ativação da marca carioca Isla no palco apresentou bebidas para maiores de 18 anos, oferecendo um descanso refrescante com diversos sabores aos fãs. Como um brinde especial, a Isla incentiva os participantes a compartilharem fotos marcando a marca nas redes sociais.

O atraso foi reduzido através da alteração do horário do show do Los Sebozos Postizos, um projeto da Nação Zumbi tocando músicas de Jorge Ben Jor. Eles iniciaram o sábado às 16h35, trazendo uma atmosfera tropical animada, com o público dançando e aproveitando as ótimas vibrações das músicas de Jorge Ben. A banda se apresentou de maneira afinada e cativante. Maria Gadú, inicialmente programada como a primeira atração, iniciou sua apresentação às 17h20 após um período prolongado sem participar de festivais e shows. Ela começou a capela com uma música de Rita Lee, imediatamente deixando claro que seria um momento especial. Acompanhada por sua guitarra e uma banda bem ensaiada, Gadú exibiu sua personalidade única, enquanto o público reagiu animadamente a sucessos como Shimbalaie e Um Mobile no Furacão.

A dupla formada pela ministra da Cultura Margareth Menezes e Luedji Luna irrompeu as fronteiras da Bahia, inaugurando um clima genuinamente soteropolitano. Os espetáculos evocaram o carnaval de  Salvador em harmonias como Faraó, Cordeiro de Nanã e É d’Oxum, transformadas em elegantes versões soul por Luedji. Sucessivamente, intercalaram duetos e performances individuais, cada uma respaldada por sua própria banda, conferindo dinamismo e personalidade única a cada momento.

Luedji Luna / Foto: Tatiane Silvestroni

Logo antes, Emicida trouxe, com sua paixão característica, a combativa positividade de suas músicas. O setlist incluiu Quem Tem um Amigo Tem Tudo e Baiana. Maria Rita lançou um manto emocional sobre o público, particularmente ao evocar O Bêbado e a Equilibrista durante sua participação, tocando fibras sensíveis e ressonantes.

Em um dos pontos altos da noite, Anavitória e Samuel Rosa uniram forças, em uma parceria que não é uma novidade, já que colaboraram pela primeira vez no dia dos namorados do ano de 2019. O ex-vocalista do Skank somou-se ao duo, trazendo sucessos como Vou Deixar, Dois Rios e Eu Ainda Gosto Dela. Esse encontro estabeleceu um diálogo entre duas gerações do cenário pop brasileiro, iluminando o repertório com uma síntese tocante das eras.

O encontro musical entre Adriana Calcanhotto e Rodrigo Amarante foi como uma viagem por camadas refinadas de harmonia. A conexão natural entre suas músicas e visões artísticas é tangível, mas o que verdadeiramente enriqueceu essa experiência foi o minucioso planejamento da integração de Amarante à turnê Errante, o álbum de Adriana. Os momentos em que Amarante assume o palco sozinho, sem a presença física de Adriana, não são simplesmente participações especiais, mas sim peças intrigantes de uma narrativa habilmente tramada. Desde o início do espetáculo, quando ele emana uma aura etimista ao interpretar Evaporar, de sua banda Little Joy, e a envolvente Tuyo, trilha sonora de Narcos, cada momento é perfeitamente ensaiado e performado, contribuindo para o mágico encontro com Adriana. O clímax acontece em Lovely, uma faixa etérea do álbum Errante, de 2023.

Conversamos de forma exclusiva com a Adriana após o show, e ela comentou sobre a fusão com Amarante e a cuidadosa escolha da instrumentação para a apresentação ganharam um merecido destaque.

Acima de tudo isso, a grandiosidade do espetáculo vai além esses momentos. A banda que acompanha Adriana não somente recria as músicas de seu álbum mais recente, mas também revitaliza seus sucessos passados com uma energia avassaladora e uma liberdade criativa contagiosa. A melancolia é elevada pela contribuição do grupo, que infunde harmonia e profundidade, como evidenciado em faixas como Esquadros e até mesmo no samba que emerge de forma surpreendente em Vambora. A atmosfera geral é saturada de vibração e inventividade, proporcionando um espetáculo que transcende as expectativas e nos transporta para um mundo onde a música reina como protagonista incontestável.

About the Author /

joelrneto12@gmail.com

Post a Comment