Hot Milk — A Call to the Void
De Manchester, Inglaterra, a Hot Milk, banda formada pelos cantores/guitarristas Hannah Mee e Jin Shaw, lançou o A Call To The Void. Esse é o primeiro álbum de estúdio e o quarto disco do grupo. O duo, que se conheceu em Northern Quarter, bairro de Manchester famoso por sua forte influência artística, mostra uma versatilidade em relação ao pop punk a cada vez que lança um novo trabalho. Em seu novo lançamento, isso não é diferente. Aqui, o punk é explorado junto à vertentes eletrônicas, o que já estava tomando forma em The King and Queen of Gasoline, EP anterior da banda.
O disco abre com WELCOME TO THE…, faixa que, mesmo com pouco tempo, já mostra o que o álbum tem a oferecer: uma pegada futurista e nostálgica. A música é repleta de efeitos de voz e batidas emocionantes. Em seguida, HORROR SHOW chega a todo vapor. É notável que, na primeira faixa, Hannah e Jin estavam preparando o fôlego para o que vinha depois. E assim é. Eles só descansam no refrão, que traz uma tonalidade mais leve do restante. Ao contrário disso, a música é fervorosa e agitada. É a típica canção que se encontra em uma trilha sonora de algum jogo que se passa em um universo cyberpunk. Um grande destaque para o álbum.
Em BLOODSTREAM, a sensação é semelhante. Aqui, o refrão é frenético devido às batidas eletrônicas presentes no ritmo da faixa. A sua melodia saudosista e o calor há por traz de todos os seus elementos casam muito bem e deixam a música ainda mais emocionante. Na faixa seguinte, PARTY ON MY DEATHBED, há mais punk, mais do que antes. O que, imediatamente, faz quem conhece bem a banda retornar ao EP I JUST WANNA KNOW WHAT HAPPENS WHEN I’M DEATH, já que, lá, os integrantes exploram o pop punk de maneira assídua e despreocupada, o que acontece exatamente aqui. É uma canção totalmente fora da curva, sem se preocupar com o aspecto mainstream do gênero.
Chegando a OVER YOUR DEAD BODY, pode-se notar um outro destaque para A Call To The Void. Ela é forte, ardente e frenética. Aqui, há gritos e rangidos. Há ainda versatilidade entre o que já foi apresentado. Não é uma faixa clichê. Todavia, se espera os mesmos aspectos das faixas anteriores e, para a surpresa de quem está ouvindo, o duo vai além. Ele traz o caos e a calamidade antes de voltar a energia das faixas anteriores. Era o que faltava para o peso do álbum. Em MIGRAINE, a explosão, agora mais controlada, diminui, mas não some. Os tons eletrônicos dominam mais nessa canção. Agora cessada, a explosão é substituída pela calmaria que BREATHING UNDERWATER traz. A sensação de nostalgia retorna com outra nuance do disco: um lado mais melancólico. A emoção fica nítida na voz do duo. Os sentimentos deles se mostram aflorados. É uma canção intensa.
Em contraponto, é perceptível que as raízes do primeiro trabalho da banda ainda se sobressaem, em muitos momentos, no A Call To The Void. Isso não é um ponto negativo, mas pode ser em um futuro próximo. O pop punk mais genérico e mainstream ainda tem mais espaço do que o “novo”. Isso pode ser visto em mais de uma faixa e se persistir em seus próximos discos, pode se dizer que, mesmo que sem perceber, eles farão mais do mesmo disfarçado de diferente. O que, aqui, não pode ser descrito dessa forma, visto que é o primeiro álbum do grupo, considerando que seus três outros trabalhos foram EPs. É algo que precisa de dosagem para eles poderem fugir dos padrões como, nitidamente, querem.
Ademais, o álbum, ainda sim, possui grande peso. Apesar do ponto anterior, a Hot Milk conseguiu trazer versatilidade e muita energia em A Call To The Void. Ele é agitado e intenso e esses dois termos funcionam muito bem. Por consequência a união desses dois fatores, o disco traz uma sensação nostálgica. O que o deixa mais emocionante e com a vontade de um maior número de faixas.