Faith No More — The Real Thing
Limites, cálculos comerciais, canções padronizadas: o Faith No More nunca ofereceu nada parecido. Apenas cinco caras da Califórnia combinaram metal, punk, disco, pop, reggae, qualquer coisa – e fizeram discos legais e loucos com isso. A partir de 1989, as fronteiras foram borradas, fãs e jornalistas sobrecarregados precisaram encontrar uma gaveta na qual pudessem classificar a mistura selvagem do estranho quinteto; o crossover não apenas nasceu, ele se tornou grande.
Não foi somente a voz camaleônica de Mike Patton que virou marca registrada. A base rítmica funky de Mike Bordin e Billy Gould desempenhou um papel tão importante quanto o colorido toque de teclado de Roddy Bottum e as habilidades inovadoras e únicas de Jim Martin no braço da guitarra. Em The Real Thing, o guitarrista entendeu perfeitamente como oscilar entre momentos emocionais e ataques de riffs pesados, mas também como criar sons completamente novos, que alguns anos depois inspirariam Tom Morello. Sob a supervisão do produtor Matt Wallace, o disco é formado pelo trio célebre de From Out Of Nowhere, Epic e Falling To Pieces; uma grande concha de vocais de rap, melodias e sintetizadores onde refrões se desdobram em alturas elevadas. A paleta de cores com que o Faith No More pinta sua tela é infinita, embora não precisem abusar disso para mostrar do que são feitos.
Em Surprise! You’re Dead!, Jim Martin assume o protagonismo de um cara cuja expertise nas seis cordas adquire a mesma personalidade esquizóide que Patton transmite como cantor. Dentro do catálogo oficial da banda, é provável que algo tão sombrio como Zombie Eaters também demonstre a diferença entre soar pesado e fazer você escorregar. No meio da variedade sonora com que The Real Thing predomina em qualquer campo onde se detenha, a 5ª faixa do álbum consegue fisgar na perfeição o “metaleiro” mais radical, sem que precise renunciar a sua integridade artística.
É difícil atingir uma sonoridade capaz de pisar na violência do rap metal com passagens ora tranquilas, ora majestosas, para depois homenagear clássicos como War Pigs do Black Sabbath e ignorar completamente as tradições e costumes na instrumental Woodpecker From Mars.
O grupo sempre insistiu em sua musicalidade teatral. Essa abordagem só é reforçada pelo talento de Mike para construir personagens, cenários e enredos para seus textos. Faith No More foi uma relação de contradições, que eventualmente seu uniu na luta entre diferenças e criou um estilo difícil para definir The Real Thing.
Alexandre Bastos Leitão
Esse disco é simplesmente absurdo!!!!