Beartooth e o mergulho na modernidade
Amantes do bom metalcore conhecem, mesmo que de longe, a trajetória de Caleb Shomo que começou nos teclados e já assumiu o vocal do Attack Attack!, banda ícone do “grabcore”. Beartooth é uma das bandas mais densas e inovadoras da cena e tem impactado o público em diversos festivais mas, inicialmente, era apenas para ser um mero projeto e algo secundário na visão de Shomo.
Sendo multi-instrumentista, o vocalista Caleb Shomo abriria diversas possibilidades para suas composições. Como um membro ativo da banda de metalcore Attack Attack!, Shomo realizou seu último trabalho nos vocais do grupo com o álbum This Means War, de 2012, que teve uma boa repercussão no gênero, mas, ainda assim, foi o último projeto de Shomo na banda, que anunciou sua saída no mesmo ano. A partir disso, o vocalista ganhou tempo e disposição para suas composições e, assim, a Beartooth criava forma. Pela facilidade em produzir em seu próprio estúdio e compor, diversos arranjos já estavam prontos para que a banda pudesse caminhar. Com o projeto em primeiro plano e em busca de experiências ao vivo, Shomo convidou os primeiros integrantes, como o baixista Reed, o guitarrista Lumley e Mullins na bateria.
Como os bons tempos em 2013, Beartooth lançou o seu primeiro EP, Sick, por download em seu site e haviam assinado com a Red Bull Records, que impulsionaria muito a banda. Ali estavam os primeiros sucessos, como I Have a Problem e Go Be the Voice, que se tornaram hinos de sua época. O alcance e feedback positivo do Sick fez com que anunciassem, para o ano seguinte, o álbum Disgusting. Lançado em 2014, possuía as músicas clássicas do primeiro EP e novas composições de sucesso, The Lines, Beaten in Lips, In Between, Body Bag e a já conhecida I Have a Problem, também inserida nesse novo álbum de estúdio. A grande preciosidade e curiosidade do disco é a composição, mas também o fato de que toda construção de conceito foi realizada pelo Caleb Shomo, que não só demonstrou seu foco no projeto, mas seu brilhantismo e criatividade.
Em sequência do Disgusting, que abriu diversas portas para festivais como Vans Warped Tour e Download Festival, a banda foi se encontrando musicalmente e expressando seu estilo. Produzindo com misturas advindas do punk, post-hc, metalcore e elementos de hard rock, as composições tinham essa pluralidade, o que tornava o som “uma salada mista muito bem feita”. Um exemplo claro para expressar a forma da banda são os refrões da Body Bag, com sua sequência de riffs ao estilo hard rock na intensidade do punk, a bateria totalmente padronizada no punk com relances do post-hc, além da visceralidade dos vocais de Caleb.
Construindo grande relevância ao lado de gigantes, como Slipknot, e em festivais de grande porte, a Beartooth seguia o seu caminho amadurecendo, se modernizando e, em meio a troca de integrantes, buscando novos estilos nas composições. Os álbuns Aggressive e Disease apresentam um amadurecimento muito pontual e se conversam muito no quesito estilo/gênero. Escutando os dois trabalhos em sequência, há uma continuidade na estética musical do Beartooth. Mesmo com muita potência em suas nuances, a direção da banda estava tendendo aos refrões pop e um som mais palpável para alcançar mais público, porém sem perder a essência. Sempre em transformação, mas sempre Beartooth.
A construção do disco Below, que dá sequência e é levemente um contraponto ao Disease, apresenta uma nova forma de composição com mais intensidade e muitas guitarras oitavadas. É audível o objetivo do trabalho em levar peso e, também para o grupo, ser algo que o público possa curtir, pular e entrar em moshpits. E claro, destaque aos breakdowns inovadores. Solidificando a popularidade do Beartooth, a partir daqui, a banda já tinha passe livre em diversos festivais e públicos dos subgêneros do rock pela entrega na experiência ao vivo.
Após um ano do álbum Below, começaria uma nova fase da banda e um novo capítulo para Caleb Shomo. O vocalista sempre expôs seus problemas, traumas e medos através de suas composições, o que tornava as músicas mais densas e, de certa forma, pessimistas. Com o single Riptide, Shomo decide ser mais otimista e mostrar seus processos de amadurecimento em relação à saúde física e mental. Isso é esteticamente observado no lançamento dos últimos singles que serão parte do álbum The Surface, que mostram um novo direcionamento para a Beartooth, que ainda não se afasta de suas raízes e essências.
The Surface, o novo disco da banda, será lançado no dia 13 de outubro nas plataformas de streaming.