Black Midi: a atração barulhenta e fora da caixa do Primavera Sound 2023 | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Black Midi: a atração barulhenta e fora da caixa do Primavera Sound 2023

A banda de rock londrina Black Midi vem ao Brasil em 2023 para se apresentar no Primavera Sound. Em sua segunda passagem pelo Brasil, o trio, que é composto por Geordie Greep, Cameron Picton e Morgan Simpson transita entre camadas menos convencionais desse ritmo tão abrangente, passeando entre o experimental, math rock, progressivo e também noise – um estilo bastante controverso, mas que tem admiradores ferrenhos que o defendem com unhas e dentes.

Um ouvinte de música mais “tradicional” pode se assustar com o som autoral de Black Midi. O MIDI é um arquivo de áudio muito menor do que o MP3 e o WAV e que, na realidade, não contém nenhum áudio – na verdade, ele mostra quais notas deveriam ser tocadas e por quanto tempo. O estilo musical black MIDI é inspirado pelas partituras, que parecem quase totalmente pretas por causa do número elevado de notas musicais. Apesar da inspiração, a banda tomou um lado mais comercial e melódico, claro.

Se você nunca teve contato com Black Midi, a recomendação é que ouça as músicas com uma mente bem aberta. Além de diversos momentos de “palavra falada”, as letras também contam com certa melodia – e alguns gritos aqui e ali. Por isso é tão difícil encaixar a banda em um gênero e até mesmo tecer comparativos para explicar que tipo de música eles fazem. A experiência é única e surpreendente: rapidez e calmaria; barulho e melodia; lirismo e pragmatismo.

Schlagenheim foi o primeiro álbum de estúdio do Black Midi. A aclamação por parte da crítica especializada foi imediata, que classificou a obra como frustrante e empolgante ao mesmo tempo. A qualidade técnica dos instrumentistas também foi notada, principalmente a do baterista Morgan Simpson. O disco é mais cru e ainda mais experimental do que os subsequentes – algo completamente esperado e natural, visto que o trio estava se descobrindo e traçando muito do que seria a identidade sonora da banda.

O segundo álbum da banda, Cavalcade, foi lançado em 2021 e deu continuidade na jornada complexa do Black Midi. Ao incorporar uma série de estilos musicais, as expectativas dos ouvintes são desafiadas para explorar novas fronteiras do rock experimental. As canções são complexas, com mudanças de tempo e progressões intrincadas de acordes. John L é um exemplo perfeito. Cavalcade parece um trem quase desgovernado, prestes a sair dos trilhos a qualquer minuto – mas nunca o faz. Em termos de produção, o álbum é impecável, com uma qualidade de áudio que permite que todos os detalhes e nuances das músicas se destaquem. A produção é limpa e nítida, apesar da densidade da música, o que também se torna um um feito notável.

Hellfire, o terceiro e último lançamento da banda, apesar de não apresentar algo revolucionário em relação aos dois primeiros trabalhos, melodicamente, parece mais épico e extraordinário. As letras adotam uma complexidade ímpar, com jogos de interpretação e histórias fantasiosas como prompt de composição sonora. Três álbuns depois, é cada vez mais interessante ver o grupo navegar por mudanças consideradas drásticas, cada uma chegando a uma velocidade mais alta do que a anterior, e executada com ainda mais precisão. As músicas não se seguem, mas se chocam umas com as outras. Ao invés de um trem desgovernado, como Cavalcade, Hellfire parece uma movimentada rua indiana, em que, a todo momento, espera-se que um acidente vai acontecer com os carros, tuk-tuks, carroças, pedestres e vacas atropelando uns nos outros.

Black Midi é uma banda ambiciosa, que transita fora das convenções musicais e oferece uma experiência sonora única, com complexidades que podem tanto encantar quanto horrorizar. É um território incerto no rock experimental, em que você só entende por onde está passando quando a viagem (ou a música) termina. Entre a seriedade e a tolice, o grupo se encontra em sua própria loucura e demonstra ao mundo que o trio sabe como se divertir, compondo arranjos arquitetados em ângulos que parecem impossíveis de serem encaixados. Geordie Greep, Cameron Picton e Morgan Simpson equilibram-se na ponta de uma faca de dois gumes: entre a precisão técnica cirúrgica e uma viagem de LSD muito louca.

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