Green Day — Saviors | Moodgate
Um novo sentimento para a música
4853
post-template-default,single,single-post,postid-4853,single-format-standard,bridge-core-3.0.1,qode-news-3.0.2,qode-page-transition-enabled,ajax_fade,page_not_loaded,,qode-title-hidden,qode_grid_1400,vss_responsive_adv,vss_width_768,footer_responsive_adv,qode-content-sidebar-responsive,qode-overridden-elementors-fonts,qode-theme-ver-28.7,qode-theme-bridge,qode_header_in_grid,wpb-js-composer js-comp-ver-7.9,vc_responsive,elementor-default,elementor-kit-7

Green Day — Saviors

O lançamento de um álbum do Green Day sempre é um evento. Após 37 anos de carreira, a banda chegou em um ponto muito confortável em que não precisa, necessariamente, inovar no material. Afinal, ao dar play em Saviors, o público cativo do trio já sabia o que esperar: muito punk-rock, músicas chiclete de qualidade e letras que clamam sobre cinquentões que amadureceram à base de rebeldia e todos os dilemas que poderiam acompanhar essa dinâmica — além, é claro, de muita política e crítica social, a marca registrada deles.

O Green Day passou por dois pontos muito importantes durante a carreira: o lançamento de Dookie (1994) e American Idiot (2004), que são, indiscutivelmente, os melhores trabalhos deles. A estreia de ambos e o impacto que tiveram na cultura punk parecia um feito impossível de ser repetido. Em Dookie, permeou-se o pop-punk como o subgênero de maior dominância no cenário comercial do rock dos anos 1990 e início dos anos 2000 — batendo de frente com o grunge. Todos os discos lançados após ele pareciam uma reação direta, tanto positiva quanto negativa,: ou em uma tentativa de cópia ou em uma crítica desenfreada. O trio se viu em uma encruzilhada, tentando provar a essência punk ao mesmo tempo em que conquistava sucesso comercial.

Dez anos após, veio American Idiot. O cenário estadunidense era perfeito para uma boa crítica político-social, e foi exatamente isso que eles fizeram. O discurso anti-Bush colou de forma genial e ecoou com apelo a uma juventude corrompida pelo início de uma era tecnológica, soterrada por conceitos que hoje já se tornaram clichês: alienação e drogas. Mas, também, a ópera rock surpreendeu pela qualidade sonora e pela maturidade.

Todos os trabalhos entre esses dois álbuns até o momento atual pareceram tentativas frustradas do Green Day de reencontrar sua “origem” e de revolucionar o mercado da música como conseguiram anteriormente. O que parecia era que eles estavam sempre em busca de redefinir a cultura em que estavam inseridos.

Em Saviors, contudo, Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool parecem finalmente ter aceitado a própria realidade: na casa dos 50 anos, preocupações juvenis não devem ser o foco, justamente por soarem descabidas e forçadas em uma banda com quase 40 anos de idade. Dilemas cotidianos, portanto, ganham o seu devido espaço ao lado das narrativas políticas, que vinham sido inflamadas pela banda em entrevistas prévias ao lançamento do álbum e até mesmo em uma “atualização” da música American Idiot em uma apresentação de Ano Novo.

Com 15 músicas e 46 minutos de duração, Saviors cumpre um trabalho que seu antecessor, Father Of All Motherfuckers, não quis fazer. Este, lançado em plena era Trump, é um compilado de músicas com letras joviais e bobas, além de soar, sonoramente, como um pop-punk bem pop. Já o novo disco abre com o lead single The American Dream is Killing Me, que estabelece terreno de forma muito eficaz sobre o que ouviremos nos próximos minutos. Vendida como uma utopia, a ideia do Sonho Americano mais prejudica os cidadãos que realmente precisam de assistência do que ajuda de fato.

Ao longo do álbum, a zona de conforto em que Billie Joe, Mike e Tré Cool se colocam acaba por tornar algumas letras inevitavelmente esquecíveis, como se fossem ecos de trabalhos que já vimos em 13 outras oportunidades. Contudo, apesar do ponto negativo, a experiência continua satisfatória, principalmente em canções como Bobby Sox, que tornou-se um hino bissexual instantâneo no vocal de um artista que se assumiu em 1995 durante uma entrevista ao The Advocate.

O tom nostálgico também se apresenta em alguns pontos, seja pela letra, como em 1981, ou pela melodia digna de um hino rock n’ roll setentista, como em Corvette Summer. Já outras músicas, como Living In The ‘20s, passam pelo problema de tentarem tratar assuntos sérios demais com muita irreverência e pouca profundidade – “Outro tiroteio em um supermercado, gastei o meu dinheiro em um maldito alvo fácil”.

Saviors abre espaço até para algumas baladas, que soam muito bem na estética da banda por estarmos acostumados com hits como Wake Me Up When September Ends e 21 Guns. Father To a Son fala de um jeito muito interessante sobre a paternidade, algo inesperado para uma banda de punk, com versos como “eu posso ter cometido alguns erros, mas nunca irei partir o seu coração”.

Fancy Sauce, o encerramento, bem como a abertura, captura o que ouvimos até então de uma maneira interessante, afinal, nada mais é do que uma música sobre ficar louco. Os últimos anos parecem ter sido mais insanos do que nunca, e o efeito disso na mente humana vai para um lado inesperado: somos bombardeados com tantas coisas horríveis no dia a dia que nos tornamos quase anestesiados. “Uivando para a lua no meio da tarde, assistindo às notícias do dia porque esse é o meu desenho animado favorito”.

Saviors não é um trabalho inovador do Green Day. Mas a realidade é que cumpre de forma satisfatória o papel de um álbum lançado num contexto de uma carreira de longo sucesso. Mais do que isso, adereça de força exuberante uma das maiores qualidades da banda, que é capturar o atual momento em que vivemos – e, principalmente, que eles vivem – de forma perfeita.

Nota: 7.3

About the Author /

htsbrissia@gmail.com

1 Comment

  • Pedro
    Janeiro 24, 2024

    Excelente matéria!! Muito rica

Post a Comment