Turnstile e a metamorfose do gênero: como quatro amigos deixaram sua marca no hardcore
Por trás deste alinhamento de planetas, o hardcore ainda se esforça para recuperar um espaço ao lado do rap ultra-dominante ou no circuito de pop contemporâneo. Formada em Baltimore por membros da cena como Angel Du$t e Trapped Under Ice, Turnstile cristaliza a vitalidade do gênero enquanto constrói pontes entre os obstinados pelo movimento e um público dócil.
A banda reafirmou diversos estilos como uma alternativa musical mais interessante do que já era após combinar hip-hop, rock alternativo, funk e groove. Ecoando Rage Against the Machine, Suicidal Tendencies e outros nomes de altos decibéis estampados em revistas dos anos 90, Brendan Yates, Franz Lyons, Daniel Fang e Pat McCrory escolheram um caminho sem amarras para Nonstop Feeling, 2016. Com uma progressão natural dos primeiros EP’s, Pressure to Succeed e Step 2 Rhythm, a faixa de coração partido, Blue by You, apontou transformações importantes na personalidade do quarteto.
Embora as influências de antigos heróis não possam ser negadas, seu som rompe limites quando combina riffs melódicos e uma violenta porção de coros. Mergulhados no hardcore nova-iorquino – especialmente Snapcase, bem como nas discografias de Youth of Today – somente através do álbum Time & Space que os músicos ignoraram categorias de gênero. É quase impossível escapar da energia positiva e frescor juvenil presentes em Real Thing, I Don’t Wanna Be Blind e Generator.
O baixo de Lyon foi um elemento essencial na instrumentação do Turnstile. A banda encenou diferentes ritmos com o produtor Will Yip (Code Orange, Tittle Fight), onde faixas começam ou terminam em interlúdios e composições menores que suavizam seu charme old-school. Do ponto de vista da produção, um contrato pela Roadrunner Records foi vitorioso para eles; as guitarras são menos nítidas em contraste com Nonstop Feeling, mas nunca perdem a força.
Se Time & Space possuía relativa cautela quando ultrapassou as margens do hardcore clássico, GLOW ON escolheu chutar a porta da nova geração. Seja na linha de baixo irresistível em Mystery, na reviravolta inesperada de Blackout, ou nas percussões em Don’t Play, que já são onipresentes por todo o material, participações especiais do indie soul de Blood Orange também ofereceram a melhor surpresa de 2021.
O grupo priorizou aproximar novas pessoas ao usar um ecletismo com arranjos gerais, além de conferir certo refinamento à músicas que, sem diversidade instrumental, teriam sido mais simples. As grandes contribuições percussivas de Daniel Fang (sinos, blocos de madeira, etc) se tornaram uma aposta criativa para diminuir a inclinação suave do disco.
Resumir pausas com xilofones parece absolutamente lógico, mas criar hinos de mosh pits sobre temas como liberdade, amor, fracasso e rejeição do equilíbrio também são escolhas abordadas por quem possui total habilidade. Os garotos de Baltimore agora prometem unir gerações, enquanto a nostalgia encontra um novo som e o desejo de não ser categorizada.