Black Pantera — PERPÉTUO
O Black Pantera lançou seu tão aguardado novo álbum pela gravadora Deckdisc. Nele, o trio mineiro formado por Charles Gama (guitarra e vocal), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria), explora novas sonoridades dentro do Metal, Punk e Hardcore carregados por influências nacionais (como Sepultura e Mano Brown) e internacionais (como Metallica e Living Colour). Com 12 músicas inéditas, esse disco chega para consolidar a banda como uma das principais do cenário no Brasil.
Sempre com letras fortes e incisivas, o Black Pantera amplia ainda mais as pautas antirracistas e antifascistas neste trabalho, trazendo outras perspectivas sobre o assunto. Logo na segunda faixa PERPÉTUO, que também intitula o disco, percebe-se um discurso sobre a luta do povo preto através da ancestralidade (“Estamos sempre voltando/ Todo mundo já foi preto um dia”).
TRADUÇÃO já carrega um sentimento mais profundo e pessoal, sendo feita por Chaene em homenagem a sua mãe e de seu irmão Charles. Nela, todos os percalços e dificuldades enfrentadas por ela são narrados de uma maneira bastante poética, mas realista ao mesmo tempo. A faixa não faz esforço para esconder a crueza dos conflitos dentro de uma sociedade regida por um sistema problemático e ultrapassado, que nos faz adoecer fisicamente e mentalmente a cada dia que passa. A batalha por conseguir melhores condições para que sua mãe viva uma vida tranquila é cantada com bastante melodia e arranjos menos acelerados, trazendo um lado mais emotivo da banda que, de maneira genuína, escolhe um lindo refrão para dizer que sua mãe é a tradução do que é o amor.
Os riffs pesados e acelerados acompanhados por um vocal agressivo, traços marcantes da banda, se destacam nas faixas PROMISSÓRIA e SEM ANISTIA, que carregam um discurso político direto e frontal. É surpreendente ver a capacidade da banda em se reinventar dentro de um estilo muito próprio que eles criaram ao beberem de diversas fontes, mas sempre se voltando para seu lado afro e latino. Em CANDEIA, que através de seus batuques exala brasilidade, o Black Pantera se propõe a contar uma nova história de revolução citando o Império Ashanti, originário da atual Gana, que foi uma potência na África Ocidental e um dos maiores símbolos de resistência contra o domínio britânico. Também é mencionado na música o general preto Toussant Louverture, responsável por transformar uma rebelião de escravizados em um movimento revolucionário, liderando a revolta haitiana e proclamando a independência do país em 1804.
Para além de menções históricas, o Black Pantera foi buscar referência no mundo dos animes, no caso, com a canção MAHORAGA cujo nome utilizado compete ao personagem General Divino Mahoraga, um dos mais fortes shikigami de Jujutsu Kaisen. Na série, shikigami são criaturas espirituais que podem ser invocadas para ajudar nas batalhas.
Como um todo, PERPÉTUO é um trabalho muito conciso, que soube percorrer a potência lírica característica do Black Pantera juntamente à sua inventividade instrumental, que adota musicalidades tribais junto ao som pesado. Tendo alcançado novos horizontes ao tocar em festivais dentro e fora do país, toda essa bagagem e excelência adquirida foi convertida em uma obra muito sólida que parece ser apenas um novo passo de uma constante evolução.
Samantha Souza
Melhor EP de 2024!