Os melhores materiais inéditos lançados por artistas anos após o fim da carreira

Muitos são os singles e álbuns que acabam sendo lançados alguns meses depois da morte de um artista solo ou do fim de uma banda, por já estarem planejados há tempos. Foi esse o caso do icônico single Love Will Tear Us Apart (do Joy Division) e dos clássicos álbuns Let It Be (dos Beatles), Life After Death (de The Notorious B.I.G) e Sublime (do Sublime), por exemplo. Porém, há também casos mais raros em que materiais inéditos de artistas já falecidos ou de bandas já extintas acabaram ficaram ANOS sem ser ouvidos pelo público, antes de serem lançados.

Muitas pessoas costumam torcer o nariz para canções inéditas lançadas anos depois do término de uma banda ou da morte de artista, por pensarem que o que teria feito elas ficarem guardadas por tanto tempo seria uma suposta baixa qualidade das mesmas. Então, pensando nisso, resolvemos relembrar algumas sobras de estúdio sensacionais de bandas/artistas que já haviam parado há anos.

Now and Then — The Beatles
lançada 53 anos após o fim da banda

Um dos exemplos mais recentes é a sensacional Now and Then, dos Beatles, que já veio ao mundo histórica, por ser a última vez em que ouviremos uma canção inédita contendo John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr juntos.

A música surgiu a partir de uma demo gravada por Lennon, em 1977 (três anos antes de sua morte, e sete anos após o término da banda). Em 1994, os Beatles remanescentes (Paul, Ringo e, naquela época, George) chegaram a gravar um arranjo instrumental para a faixa, mas a tecnologia da época não permitiu uma masterização adequada para a gravação precária que eles tinham da voz de John. Somente em novembro de 2023, com a evolução da tecnologia, foi possível que a canção pudesse ver a luz do dia.

Free as a Bird e Real Love — The Beatles
lançada 25 e 26 anos após o fim da banda, respectivamente

Now and Then não é a primeira música dos Beatles lançada décadas após o fim do Fab Four. No mesmo ano em que Paul, Ringo e George se reuniram para pensar no arranjo instrumental de Now and Then pela primeira vez, os três também trabalharam nas faixas Free as a Bird e Real Love, que também surgiram a partir de demos gravadas por John. Free as a Bird nasceu a partir de um refrão criado em 1977, e ganhou uma versão definitiva em 1995, contendo versos adicionais cantados por Paul e George. A faixa foi lançada no projeto Anthology 1, que revisita várias gravações raras da banda.

No ano seguinte, a partir de uma demo de John gravada em 1979, eles usaram a mesma fórmula para lançar Real Love, no projeto Anthology 2, de 1996. Porém, nesta, não foi necessário gravar versos extras cantados por Paul e George, uma vez que a letra da música já havia sido finalizada.

Love Never Felt So Good — Michael Jackson
lançada 6 anos depois da morte de Michael Jackson

Existem várias polêmicas envolvendo a ética dos produtores por trás dos álbuns póstumos de Michael Jackson (vide o fato de que três das faixas do álbum Michael, de 2010, contém vocais que sequer foram gravados pelo Rei do Pop). Porém, se existe um consenso muito positivo a respeito desses trabalhos é a enorme qualidade da faixa Love Never Felt So Good.

Essa canção foi lançada 6 anos depois da morte de Michael, como parte do álbum Xscape (2014). A gravação original de 1983 continha vocais do cantor acompanhados apenas por um piano, mas a produção do álbum adicionou um arranjo instrumental mais maximalista para a canção e ainda criou uma versão alternativa onde Michael divide vocais com Justin Timberlake, em um dueto virtual.

Love Never Felt So Good foi aclamada pela maior parte dos fãs de Michael Jackson e acabou se tornando uma das canções póstumas mais bem-recebidas da história, apesar do fato de que Michael não pretendia lançar essa música e havia até cedido ela para o cantor Johnny Mathis – que a gravou em 1984, mas não causou grande repercussão.

Infinity Repeating — Daft Punk
lançada 2 anos depois do fim do Daft Punk

Em 2023, para celebrar os 10 anos de seu aclamadíssimo álbum Random Access Memories, o duo francês Daft Punk lançou uma nova versão do trabalho, onde incluiu outtakes e demos nunca antes ouvidas, além da excelente faixa inédita Infinity Repeating, que não havia entrado na versão de 2013.

A música é uma segunda parceria do Daft Punk com o vocalista do The Strokes, Julian Casablancas – que já havia gravado os vocais da fantástica faixa Instant Crush (um dos grandes destaques do Random Access Memories).

O Daft Punk já havia anunciado o fim de suas atividades há dois anos, quando lançou Infinity Repeating. Ela foi descrita pelo grupo como sua ‘’música de despedida’’.

O álbum Sabotage e o single Love Song (A Maior Dor de um Homem) — Sabotage
lançada 13 e 15 anos após a morte de Sabotage, respectivamente

O rapper paulistano Sabotage nos deixou cedo demais, em 2003, mas deixou um vasto material musical póstumo que só comprova a sua genialidade.

A maior parte desse material está presente no álbum Sabotage, que, em 2016, trouxe 11 músicas inéditas que surgiram a partir de versos gravados pelo artista entre 2001 e 2003. Para complementar os vocais de Sabotage, o produtor Daniel Ganjaman chamou diversos produtores e artistas de peso – a exemplo de Bnegão, Rappin Hood e Negra Li, que chegaram a trabalhar com o rapper em vida.

O álbum póstumo foi um sucesso de aceitação popular e de crítica, chegando a ser eleito o segundo melhor álbum nacional de 2016, pela revista Rolling Stone Brasil. Entre os destaques deste trabalho estão as espetaculares faixas Canão Foi Tão Bom e Pais da Fome (Homens Animais).

Dois anos depois, outro registro inédito do rapper foi lançado nas plataformas digitais. Trata-se da faixa Love Song (A Maior Dor de um Homem), que mostra um lado romântico que o artista nunca havia mostrado em seus materiais lançados em vida. Além disso, a canção deixa um pouco de lado a faceta rapper de Sabotage para mostrar a sua habilidade de cantar.

A demo original de Love Song (A Maior Dor de Um Homem) havia sido gravada por Sabotage em 2003 e contava apenas com a voz do falecido artista. Porém, a versão que foi lançada em 2018 trouxe um arranjo instrumental refinado feito por Duani Martins, além de versos extras gravados por Mano Brown e backing vocals feitos pela filha de Sabotage. O resultado é uma obra de arte de altíssima qualidade.

Changes e o álbum Until The End of Time — 2Pac
lançados 2 e 5 anos após a morte de Tupac Shakur, respectivamente

Morto em setembro de 1996, 2Pac é outro grande expoente do Hip Hop que deixou materiais póstumos de grande qualidade. Pouco depois do assassinato do rapper, foram lançados os álbuns The Don Killuminati: The 7 Day Theory, de 1996, e R U Still Down? (Remember Me), de 1997, mas como esta lista aborda trabalhos lançados anos após o fim das atividades de um artista, estaremos falando do single Changes e do álbum Until The End of Time.

Changes foi lançada em 1998 (dois anos após a morte do artista), como uma das quatro sobras de estúdio inéditas que integravam a coletânea Greatest Hits. Ela, porém, acabou se destacando em comparação às demais faixas bônus do álbum, tornando-se uma das canções mais conhecidas de 2Pac, rendendo uma indicação póstuma ao Grammy de ‘’Melhor Performance Solo de Rap’’ e impulsionando as vendas da coletânea em questão – que acabou se tornando o 2° álbum mais vendido de 2Pac (atrás apenas de All Eyez on Me, de 1996).

Em 2001, veio, então Until The End of Time – o terceiro álbum composto apenas por sobras de estúdio inéditas do falecido rapper. Embora outros três trabalhos póstumos de inéditas ainda viessem ser lançados nos anos seguintes, este foi o último que acabou se tornando um enorme sucesso de vendas e de crítica, graças a faixas excelentes como Lil’ Homies, Until The End of Time e Breathin.

Lost e Qwerty — Linkin Park
lançadas 6 e 7 anos após o fim do Linkin Park, respectivamente

Em 2023, o Linkin Park lançou cinco canções que acabaram ficando de fora do clássico álbum Meteora (um dos mais aclamados da banda) para celebrar o aniversário de 20 anos do mesmo. O material inédito fez com que os fãs matassem a saudade da sonoridade pesada do grupo (que foi deixada de lado no último álbum da banda, One More Light) e, principalmente, da poderosíssima voz do saudoso vocalista Chester Bennington – cujo suicídio motivou o fim do Linkin Park, em 2017.

As faixas inéditas foram Lost, Fighting Myself, More The Victim, Massive e Healing Foot. Embora as 5 canções sejam muito boas, a que mais caiu no gosto do público foi Lost. Em 2024, os integrantes do extinto grupo seguiram lançando sobras de estúdio inéditas da época em que Chester estava vivo: em fevereiro, veio uma sobra do álbum One More Light intitulada Friendly Fire, mas o lançamento que realmente empolgou os fãs foi a pesadíssima Qwerty – que já havia marcado presença em alguns setlists do Linkin Park entre 2006 e 2007, mas nunca havia ganhado uma versão de estúdio e tampouco entrado em algum álbum.

Qwerty foi gravada na época da produção do álbum Minutes to Midnight (2007), mas veio a ser oficialmente lançada apenas em abril de 2024. Trata-se de uma das músicas mais pesadas do Linkin Park e, também, de uma das canções que mais demonstram o impressionante poder vocal que Chester possuía.

You Know You’re Right — Nirvana
lançada 8 anos após o fim do Nirvana

8 anos depois da morte do icônico vocalista e guitarrista Kurt Cobain, o Nirvana lançou, em 2002, a fantástica You Know You’re Right, como material bônus da coletânea Greatest Hits. A música, que iria integrar um quarto álbum da banda, foi gravada menos de 3 meses antes do suicídio de Kurt (ocorrido em abril de 1994) e acabou sendo a última canção inédita gravada pelo músico de Seattle.

You Know You’re Right se tornou uma das preferidas dos fãs do Nirvana, e mostra que Kurt ainda tinha muito de bom a produzir. Infelizmente, ela era a única canção que havia sido gravada para esse projeto de quarto álbum que nunca ganhou (e nem irá ganhar) continuidade.