Clássicos da música brasileira que completam 50 anos em 2024 (parte 2) | Moodgate
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Clássicos da música brasileira que completam 50 anos em 2024 (parte 2)

Na primeira parte de nossa lista de grandes lançamentos nacionais que completam 50 anos em 2024, nós, da Moodgate, falamos a respeito dos álbuns Elis & Tom (de Elis Regina e Tom Jobim), A Tábua de Esmeralda (de Jorge Ben Jor), Cartola (de Cartola), Canta Canta, Minha Gente (de Martinho da Vila) e Lóki? (de Arnaldo Baptista). Agora, nesta segunda e última parte, nós listaremos outros 5 álbuns nacionais de 1974 que não poderiam ficar de fora desta pauta:

Roberto Carlos, de Roberto Carlos

Nas décadas de 1960 e 1970, Roberto Carlos era um fenômeno de vendas no Brasil inteiro. Tanto que, a partir de 1969, ele passou a dispensar cerimônias nos lançamentos de seus discos, passando a batizá-los sempre com seu próprio nome. Por esse motivo, o álbum que completa 50 anos em 2024 se chama, simplesmente, Roberto Carlos, assim como vários outros trabalhos da discografia do Rei.

Na época deste registro, Roberto já estava há seis anos afastado da Jovem Guarda e também já havia abandonado a sua fase Soul (vivida por ele de 1968 a 1970). Há cerca de três anos, ele investia na imagem de cantor romântico, e a ideia vinha dando bons resultados, devido a sucessos como Detalhes, Amada Amante e Como Vai Você. Neste trabalho de 1974, o cantor não fez mudanças significativas na fórmula sonora que estava funcionando, mas, mesmo assim, causou grande repercussão, especialmente com os mega-hits É Preciso Saber Viver (que ganhou ainda mais fama em 1998, após a regravação dos Titãs), O Portão, Despedida e Eu Quero Apenas.

O Rei ainda vivia seu momento de ápice, em questão de criatividade artística, e ainda mantinha, com frequência, parcerias com o hoje saudoso Erasmo Carlos (co- autor de 6 das 12 faixas do álbum). Isso tudo colaborou para que este trabalho se tornasse mais um belo registro musical de Roberto, que, até então, possuía um aproveitamento quase que perfeito em seu histórico de lançamentos.

No final do ano de 1974, impulsionado pelo sucesso deste álbum, o cantor fez seu primeiro Especial para a Rede Globo de Televisão. O resto é história…

Cantar, de Gal Costa

Apesar do primeiro álbum da carreira de Gal Costa ter sido o suave Domingo (lançado em 1967, em parceria com Caetano Veloso), o reconhecimento nacional da cantora baiana veio somente a partir de trabalhos mais explosivos, como Gal Costa (1969), Gal (1969) e Fa-Tal- Gal a Todo Vapor (1971), onde ela demonstrava o enorme poder de sua voz. Porém, em 1974, a artista quebrou uma longa sequência de álbuns maximalistas, ao reafirmar a sua faceta mais contida, com o lançamento de Cantar.

Neste trabalho, a baiana se distanciou da imagem de musa do tropicalismo, apostando em canções serenas que faziam pouco uso de notas altas e dispensavam arranjos espalhafatosos. Ela, porém, já havia dado uma pista do que estava por vir em 1973, quando incluiu uma regravação de Desafinado (bossa nova composta por Tom Jobim e Newton Mendonça) como faixa de encerramento de seu álbum Índia.

O repertório de Cantar contava com regravações de mais alguns clássicos da bossa nova (no caso, Até Quem Sabe, de João Donato e Lysias Ênio; Canção Que Morre No Ar, de Carlos Lyra e, até mesmo o hino Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, sendo utilizado como música incidental em determinado momento), mas também trazia várias canções originais, como Barato Total (de autoria de Gilberto Gil), Flor de Maracujá (de João Donato e Lysias Eno) e Lágrimas Negras (de Jorge Mautner e Nelson Jacobina).

Além disso, Cantar também traz um acabamento inédito para o clássico A Rã (de João Donato). Nesta regravação feita para o álbum de Gal, a música, que era originalmente instrumental, ganhou uma letra composta por Caetano Veloso (autor de outras três faixas do álbum: Joia, Flor do Cerrado e Lua, Lua, Lua, Lua). Essa versão repaginada acabou fazendo muito sucesso e foi, posteriormente, regravada por nomes como Tim Maia, Daniela Mercury e João Bosco.

O lançamento de Cantar, porém, causou um estranhamento inicial na maior parte do público e da crítica, que não estava acostumada a ver interpretações tão delicadas vindas de Gal. Por consequência, a turnê homônima que promovia o álbum também não foi bem-recebida.

Com o passar dos anos, porém, a mudança que Gal apresentou neste trabalho passou a ser encarada com outros olhos, sendo reconhecida como uma fase de amadurecimento artístico e sofisticação musical ocorrida na carreira da cantora. Assim, Cantar acabou se tornando um dos álbuns mais cultuados de toda a trajetória da saudosa artista, chegando a entrar na lista de 100 Melhores Discos Brasileiros de Todos os Tempos, feita pelos redatores da revista Rolling Stone Brasil, em 2007.

Adoniran Barbosa, de Adoniran Barbosa

No mesmo ano em que Cartola passou a gravar as suas próprias músicas e deixou de ser conhecido apenas por seu trabalho como compositor (como já falamos na primeira parte desta lista), outro nome renomado do samba fez a mesma coisa: estamos falando do lendário Adoniran Barbosa.

Entre as décadas de 1930 a 1950, Adoniran tentou fazer sucesso como cantor de suas próprias composições, mas as músicas do sambista paulistano só foram estourar a partir do momento em que ele passou a ceder várias delas para outros artistas – especialmente para o grupo Os Demônios da Garoa, que, de 1951 a 1968, gravou várias canções de Adoniran (como Trem das Onze, Saudosa Maloca, Já Fui uma Brasa, Iracema, Malvina e Samba do Arnesto), as transformando em sucessos conhecidos no Brasil inteiro.

Entretanto, mesmo conquistando o status de compositor nacionalmente reconhecido, Adoniran não deixou de carregar consigo uma certa frustração por não ter conseguido tornar as suas músicas célebres através de sua própria voz. Por esse motivo, ele lançou, em 1974, o seu autointitulado álbum de estreia, trazendo as suas próprias interpretações das já consagradas Trem das Onze, Saudosa Maloca, Iracema, Abrigo de Vagabundo, Bom Dia Tristeza, As Mariposa, Prova de Carinho e Já Fui uma Brasa, além de 4 sambas inéditos: Apaga o Fogo Mané, Véspera de Natal, Acende o Candieiro e Deus te Abençoe.

Por mais que este álbum tenha poucas novidades, foi a partir dele que Adoniran passou a viver seu sonho antigo de colher todos os louros da arte por ele produzida. Aqueles que não sabiam quem era o compositor por trás de grandes sucessos que ficaram famosos nas interpretações d’Os Demônios da Garoa, agora, estavam devidamente apresentados ao sambista paulistano. Era a consolidação definitiva de Adoniran Barbosa como uma figura lendária na música nacional.

Antes de morrer em 1982, o artista ainda lançou mais dois álbuns de estúdio como cantor: Adoniran Barbosa (1975) e Adoniran Barbosa e Convidados (1980) – onde ele foi reverenciado em vida por nomes como Elis Regina, Djavan, Clara Nunes e Gonzaguinha.

Alvorecer, de Clara Nunes

A carreira de Clara Nunes já vinha em escalada crescente desde que a cantora mineira se converteu ao samba, em 1971, com o seu autointitulado quarto álbum de estúdio. Porém, em 1974, o sétimo lançamento da artista, Alvorecer, representou uma guinada muito maior a ela, em questão de reconhecimento nacional.

Enquanto nenhum dos trabalhos anteriores de Clara havia conseguido vender mais do que 250 mil cópias, este registro de 1974 obteve uma vendagem estimada de mais de 780 mil exemplares. Tal marca foi muito impulsionada pelo megassucesso da faixa Conto de Areia – samba inédito de Romildo Bastos e Toninho Nascimento que se tornou um dos maiores hits do repertório da cantora, chegando a ser, posteriormente, regravado por artistas como Alcione, Milton Nascimento, Simone e Mart’nalia.

Além de Conto de Areia, Clara Nunes apresentou também, em Alvorecer, composições inéditas de nomes como João Nogueira (Esse Meu Cantar) e as duplas Vinicius e Moraes e Toquinho (Samba da Volta), Luiz Gonzaga e Guio de Moraes (Pau de Arara), Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho (Alvorecer) e Antônio Carlos e Jocafi (Baianada e Canaviá), saindo do ineditismo apenas na regravação de O Que É Que A Baiana Tem? (clássico de 1939 composto por Dorival Caymmi e muito conhecido na voz de Carmen Miranda).

A partir deste álbum, Clara Nunes ganhou um lugar de reconhecimento muito maior, no time de grandes cantoras da música brasileira. Depois disso, ele não parou de crescer: a cada novo trabalho solo lançado até o ano de sua morte (em 1983), a artista obteve números estratosféricos de vendagem, chegando a um ápice com o álbum Brasil Mestiço (1980), que vendeu mais de 2 milhões de cópias.

Tudo Foi Feito Pelo Sol, de Os Mutantes

A conversão d’ Os Mutantes ao rock progressivo era um sonho antigo que o vocalista e guitarrista Sérgio Dias só conseguiu realizar em 1974, com o álbum Tudo Foi Feito Pelo Sol. A ideia começou dois anos antes, quando ele e Arnaldo Baptista expulsaram Rita Lee do grupo, alegando que ela não combinava com a linha de virtuose instrumental que os dois pretendiam seguir nessa nova fase, porém, o álbum A e o Z, que inauguraria esse ciclo em 1973, acabou sendo negado e descartado pela gravadora Polydor (vindo a ser lançado apenas 19 anos depois, pela Polygram).

Pouco depois do veto a A e o Z, Sérgio Dias ainda teve que lidar com as saídas de Arnaldo Baptista, Dinho Leme e Liminha, tornando-se, assim, o único membro da formação clássica do Mutantes ainda presente no grupo. Porém, mesmo sem os antigos companheiros de banda, o músico não desistiu de lançar um trabalho voltado ao rock progressivo, e ele conseguiu isso em 1974, quando o lançamento de Tudo Foi Feito Pelo Sol foi aprovado pela Som Livre.

Neste registro, Sérgio Dias contou com a companhia de Túlio Mourão (Teclados), Antônio Pedro de Medeiros (Baixo) e Rui Motta (Bateria). O álbum inteiro foi (inacreditavelmente) gravado pela banda em um único take, e o resultado foi tudo o que Sérgio vinha prometendo nos anos que antecederam o lançamento: músicas longas que chegavam a passar dos 8 minutos de duração, momentos instrumentais deliciosamente demorados, demonstrações de enorme virtuosismo musical e influências claras de nomes como Yes, King Crimson e Emerson, Lake and Palmer, sem ficar devendo nada para tais artistas.

Nenhuma das faixas de Tudo Foi Feito Pelo Sol tocou nas rádios, mas a proposta do disco não era trazer canções comerciais, e sim promover na música brasileira um experimentalismo instrumental que, até então, só havia sido realizado em solo internacional. Por ter sido tão bem-sucedido em sua empreitada, este álbum é considerado por muitos como uma obra-prima do rock progressivo, sendo, até hoje, amplamente reconhecido como um divisor de águas na história do rock nacional. O único defeito dele é não contar com os demais integrantes originais do Mutantes…

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