Matuê — 333
Consagrado na cena do rap e do trap, sendo destaque no mainstream da música brasileira, Matuê vem acumulando números nas plataformas de streaming e marcando presença em grandes festivais, como recentemente no Rock in Rio, onde o cantor foi uma das principais e mais aclamadas atrações do Palco Mundo.
Com tantas conquistas e um alcance gigantesco, é de certa forma natural que alguns artistas caiam no comodismo e escolham manter a receita do sucesso. Para Matuê, isso não é uma opção: sua busca pelo novo segue em voga e sua zona de conforto é justamente essa procura, através de experimentações e a incessante adoção de mais referências, Tuê usufriu ao máximo de sua criatividade e dos profissionais que estão ao seu redor. Em 333, seu segundo álbum, o rapper cearense explora em 12 faixas novas perspectivas musicais, misturando estilos, instrumentos e conceitos, além disso, destaca-se por apresentar influências de Tame Impala, Daft Punk e The Strokes.
Crack com Mussilon, o som que abre o disco e, assim como toda a primeira parte da construção do seu novo trabalho, traz uma sonoridade mais parecida com seus lançamentos anteriores. Contudo, carrega sua marca, sua particularidade. E é seguindo essa mesma pegada que Imagina esse Cenário, com participação de Veigh, entrega uma sequência que, ao ser escutada na íntegra, orna perfeitamente e traz a ideia de que, da organização das faixas à sua realização, o disco foi muito bem pensado.
Nitidamente vivendo seu auge e com liberdade para explorar seus gostos pessoais em suas músicas autorais, Matuê traz em O Som experimentações e criatividade no modo de se fazer música e usar suas referências de um jeito criativo e único. Provavelmente essa aqui seja a grande virada de chave do álbum, que inicialmente, apesar de ser um som totalmente seguro, conciso e maduro, apresenta um ritmo cadenciado já conhecido e letras que também passam uma mensagem parecida com o de outras músicas suas, mas na segunda parte é diferente. A começar pelo incremento de uma bateria ritmada, acompanhada por uma guitarra de blues que dá todo um charme para criar uma atmosfera singular. O vocal com autotune, parte fundamental na obra de Matuê, dessa vez recebe o acompanhamento de backing vocals. A letra é simples, nada muito elaborado, pois a grande intenção aqui é gerar um clima, algo para ser sentido.
O grande destaque aqui, analisando como um todo, é esta sequência final com 333, faixa que leva o nome do álbum, e a tão comentada Like This!, provavelmente a mais inovadora no sentido de trazer uma sonoridade original e que foge ao que se espera de um artista de trap. 333, por sinal, poderia facilmente ser uma música feita em parceria com o Tame Impala. A psicodelia está presente do começo ao fim, sendo introduzida com um saxofone, acompanhada por uma batida totalmente diferente das batidas de trap. Os sintetizadores aqui constroem um som suave e vêm acompanhados por um tecladinho muito bem posto no final da linha de áudio, intercalando com a bateria. É isso, é um som psicodélico executado com a mais alta finesse.
Para fechar seu trabalho em grande estilo, Matuê apresenta Like This!, com influências que parecem passar pela sonoridade do The Strokes e do Daft Punk, Tuê sabe como beber da fonte e criar algo original para si, afinal, inspirar-se é preciso, necessário; copiar é outra coisa. Ele traz influências para o seu modo de fazer música e incrementa o novo dentro do seu estilo musical. A bateria marcante do indie rock, o riff da guitarra também no tom do indie rock e um vocal em inglês muito particular que, apesar de ser difícil de definir, é fácil notar a identidade de Matuê na sua realização.
333 é, definitivamente, uma das obras musicais mais notáveis de 2024, tanto por sua qualidade quanto por sua ousadia e inovação em realizar experimentações, sendo uma grande virada de chave na carreira de Matuê.