Shawn James volta ao Brasil para seis apresentações pelo país para a turnê do épico e ambicioso Honor & Vengeance
Com um repertório que vai do folk ao blues, R’n’B, gospel, rock e metal, Shawn James começou a sua carreira como engenheiro de som em Nashville, Tennessee. Inicialmente sendo músico de rua para depois trabalhar em seu disco de estreia, Shadows, as composições de James relembram lendas do blues como Robert Johnson e Son House, abordando temas de condenação e redenção.
Um ano após o lançamento do primeiro disco, ele fundou a banda The Shapeshifters, com quem se apresenta ao vivo e colaborou em projetos subsequentes. Foi somente em dezembro de 2016 que James deu um grande salto em sua carreira, com a música Through the Valley, regravada para o trailer do jogo The Last of Us Part II, levando-o ao topo das paradas virais do Spotify no Reino Unido.
A perfeita comunhão entre Shawn e The Shapeshifters deu forma a uma sequência de apresentações que percorrem sua discografia, alternando entre momentos áridos e lentos ou passagens intensas e estridentes, sempre adoçadas por sua voz profunda. Após o sucesso da turnê de 2023 pelo Brasil, que contou com dois shows esgotados, James retorna à América Latina em outubro deste ano com a turnê do álbum Honor & Vengeance, que incluirá 12 apresentações, sendo seis delas no país. Os ingressos continuam disponíveis aqui.
Na antecipação das performances, Shawn concedeu uma entrevista exclusiva à Moodgate para discutir seu último disco, mas também suas expectativas quanto aos shows no Brasil:
MOODGATE: A nossa equipe tem estado bem animada com o seu novo disco, que é muito bom.
SHAWN JAMES: Ah, muito obrigado! Eu lembro de vocês da última vez que conversamos, e também lembro que alguns de vocês foram para o show de São Paulo da última vez (que estive no Brasil), eu acho.
M: Isso mesmo, mas desta vez, estamos aqui pra falar do seu último álbum, e também da turnê. Estamos todos muito empolgados pra te ter por aqui de novo.
SJ: E nós estamos animados para voltar. Pra ser sincero, a última vez que estivemos aí tivemos um dos melhores shows das nossas vidas. A energia era insana, então nós estamos realmente empolgados em voltar.
M: Um comentário que a maioria dos artistas internacionais que vêm ao Brasil faz é que a plateia por aqui é bastante intensa. Os fãs brasileiros devem ser um dos mais intensos e apaixonados do mundo.
SJ: Sim! Eu realmente ia falar disso. Vocês são apaixonados e, em alguns lugares em que tocamos, nós só sentimos que estamos sendo observados no palco, e é diferente. Nos shows no Brasil, o público brasileiro faz com que a plateia pareça parte do show, eles nos dão energia e nós a devolvemos; é quase como um jogo lindo de empurrar e puxar. Nós tivemos isso em outros lugares, mas nunca como no Brasil. É algo realmente especial, com certeza.
M: No ano passado, nós discutimos o A Place In The Unknown, que tinha uma sonoridade mais pesada, com influências do Black Sabbath e do Witchcraft. E apesar do seu novo disco manter algumas das características dos seus trabalhos anteriores, eu fiquei bem surpreso ao ouvir, no Honor & Vengeance, a instrumentação e os arranjos inspirados no flamenco e no Folk, e isso foi muito bacana. Como você acha que as coisas mudaram, conceitual e sonoramente, para a produção do novo álbum?
SJ: Eu sinto que, em primeiro lugar, tentei um pouco de tudo quando se trata do que eu gosto de escrever, muito baseado no que eu sinto, nas emoções, e no que eu quero fazer musicalmente. No Honor & Vengeance… Eu sempre fui um grande fã dos filmes de faroeste, especialmente das trilhas sonoras produzidas pelo Ennio Morricone e tudo o que ele fazia com a música para aqueles mundos. E eu sempre quis criar o meu próprio tipo de trilha sonora para um (filme de) faroeste, mas também ter uma história, uma narração. Então, quando eu tive alguns meses de férias, eu disse: “quer saber? é hora de criarmos esse álbum”, e daí eu comecei com os personagens, e disse “certo, então, obviamente, vai ter um bandido e um caçador de recompensas”, como se fosse o bem e o mal, sabe? Mas o que eu tinha na cabeça era definir como é que o bandido se tornou um criminoso. Eu não queria que fosse algo estereotipado. E aí eu tive a ideia de que, certo, ele está vivendo uma boa vida, no lado certo da lei, é casado, mas aí alguém vai lá e mata a sua esposa. Então ele quer se vingar e mata o assassino, o que inerentemente faz dele um criminoso. E eu não acho que ele esteja errado pelo que ele fez, mas a Lei e o governo não o veem da mesma forma. Então esse foi o começo de tudo, e quando eu comecei a criar esse projeto, eu queria ter os personagens e a história antes mesmo de escrever as músicas, e foi o que eu fiz. Eu também tinha essas ideias que seriam difíceis de tentar: “certo, nessa parte da história, os caçadores de recompensa estão galopando pelo deserto e estão atrás do criminoso, mas como eu reproduzo isso na música? Qual é a ambiência para isso?”. No fim, foi um processo criativo bem divertido, e eu nunca tinha feito algo assim, ou escrito música dessa forma. Foi uma mudança de ritmo bastante empolgante e criativa. Tem esse momento em que eles cruzam a fronteira e vão para o México, e aí foi quando veio a ideia de que, no começo, eu queria que fosse mais folk, mais faroeste, mais desértico. Mas quando eles vão para o Novo México, eu quis mudar a instrumentação e o gênero para incorporar alguma influência espanhola, com mais flamenco e coisas do tipo. Foi um processo criativo muito divertido!
M: Isso é ótimo, porque também nos leva para a próxima pergunta, que é sobre as histórias narradas no disco. Dos instrumentais às letras, tudo foi bem amarrado conceitualmente para tornar o álbum o projeto mais ambicioso da sua carreira até hoje. Teve alguma faixa que demandou mais de você em comparação com seus trabalhos anteriores?
SJ: Essa é uma ótima pergunta. Um, sabe, eu não sei se teve uma música específica… Ah, não, isso não é verdade: tiveram algumas que se destacaram, mas eu diria que fui realmente mais ambicioso do que nos meus discos anteriores. Tudo é maior, porque eu queria que soasse como uma trilha sonora. Então, na instrumentação, temos mais cordas, trompetes, tipos diferentes de violão, flamenco, guitarras e vozes diferentes. No começo do álbum, eu queria que tudo fosse bem escasso. Queria que fosse só o vento soprando no deserto, como num tipo de introdução. E aí eu acho que, dentre as faixas mais difíceis de criar pra mim, emocionalmente foi Muerte Mi Amor. Especialmente porque, do conceito às palavras e tudo mais que eu digo (na letra), foi bastante difícil de escrever e cantar. Mas eu também acredito que seja uma das músicas mais importantes no álbum, apesar de ser uma canção meio esquisita se considerarmos todo o contexto do projeto, porque não é especificamente sobre a história. É mais uma reflexão sobre a vida e a morte naquela época, mas também na atualidade, e por isso foi mais difícil de compor musicalmente. Eu também acho que The Desert’s Lullaby foi um tanto difícil pra criar por conta do clímax. É a música em que os caçadores de recompensa encontram o criminoso, e eles têm um conflito armado, mas como eu poderia reproduzir isso musicalmente? Então foi um desafio interessante, que eu acabei me divertindo muito fazendo. Também tem a última faixa, e eu não sei se vocês notaram, mas vários dos temas músicas e das melodias do disco retornam na última faixa. É como uma mistura de ideias que já foram apresentadas durante o álbum, tudo numa canção no fim, o que foi algo muito interessante que queríamos executar. E eu acho que, você sabe, usar as mesmas melodias de outras músicas, mas em um instrumento diferente foi bem especial. E nós estávamos dispostos a ter esses desafios, o que acabou sendo muito divertido durante a produção. Para ser sincero, nós tentamos um monte de coisas que não funcionaram e experimentamos um pouco, mas no fim ficamos bem satisfeitos com o resultado.
M: Você tem experiência na engenharia sonora, e eu imagino que isso permita que você se envolva ainda mais em cada aspecto de gravação e produção dos seus discos. Com isso em mente, como você escolhe as pessoas certas para colaborar com quando você começa a idealizar um álbum?
SJ: Sim, você está certo, porque o único jeito que eu poderia ter feito esse álbum da forma que fiz é com o meu estúdio, podendo acordar um dia e subir as escadas da minha casa para trabalhar. Ou então no meio da noite, ter uma inspiração e brincar com ela. É lindo ter esse tipo de conhecimento, e para esse disco, especificamente, foi crucial porque, se esse não fosse o caso, eu não poderia experimentar, ordenar e tentar coisas novas. Mas, sobre com quem colaborar, eu normalmente não faço isso, de permitir que outros compositores me ajudem, mas meu contrabaixista esteve comigo por cinco anos. O nome dele é Zach Sawyer. Eu contei para ele do projeto e pensei que, com todas as ideias interessantes que ele tem, outra mente pensante para trocar ideias poderia ser bastante interessante, o que acabou sendo bem forte para o disco. Então ele veio para cá e nós trabalhamos juntos, colaborando em quase tudo o que você ouve no Honor & Vengeance. Até porque quando se faz algo tão grande assim, quando você passa muito tempo sozinho e não tem com quem conversar, mostrar as coisas e debater, você pode acabar ficando perdido na sua própria cabeça. Então ter o Zach para colaborar com foi muito bonito. Eu escolhi ele porque eu confio nele, e já se foram muitos anos trabalhando juntos; eu sei como ele pensa. Mas quando se trata dos músicos que escolhemos para tocar, é sempre sobre a habilidade deles e como eles podem contribuir para o projeto. Por exemplo, eu não conhecia ninguém para o trompete no fim da última música, mas o Zach conhecia, então tentamos. E o que eu fiz foi assobiar as melodias que eu achei que ficariam boas no trompete, e disse “aqui está a minha ideia, e eu sei que não vai ficar a mesma coisa, mas eu adoraria ouvir. Essa é a ideia geral, mas eu quero que você faça do seu jeito e vamos ver o que sai”. Isso foi bem divertido, mas é sempre um risco. Sempre que você trabalha com outras pessoas, sempre que você faz qualquer coisa, é um risco imenso. Às vezes não dá certo, mas às vezes dá. Dessa vez, a gente usou tudo e todos que tínhamos e deu muito certo.
M: A percussão em faixas como Across the Border é bastante dramática e épica. Tem também Sundown, que é uma das minhas prediletas, porque a instrumentação nela é particularmente impressionante. Como você achou inspiração para escrever essas músicas e esses arranjos?
SJ: Ser um grande fã de filmes de faroeste e das trilhas sonoras deles foi bastante inspirador. É como quando você ouve a trilha sonora de filmes como Três Homens em Conflito, ou de Por uns Dólares a Mais, ou qualquer coisa produzida pelo Ennio Morricone. Muita coisa me inspirou, mas é claro que eu não tirei diretamente do que ele fez, mas só de ouvir os arranjos me inspirou pra pensar fora da caixa. Por exemplo, em Ballad of the Bounty Hunter, o instrumental é em beats de seis por oito, certo? E quando você ouve, a ideia que eu tive era a de que seriam os cavalos cavalgando com os caçadores de recompensa montados neles, tentando chegar lá. Então a batida tinha a intenção de imitar o som dos cavalos, basicamente. Muito das melodias veio de mim e do Zach, já que a gente sentava sozinhos na sala, só com o violão, pensando sobre a história que eu havia escrito. Então é, eu não sei de onde vem, mas, às vezes, é só inspiração. E quanto a Sundown e Across the Border, foi bastante divertido. Essa veio do Zach, que estava pensando em uma música que fosse como um interlúdio. Não é bem uma música inteira, é mais como um instrumental transicional para a próxima faixa. É como se ele estivesse correndo na direção do México e cruzando a fronteira para chegar lá, o que fez com que a gente adicionasse uma pitada de influências latinas e hispânicas. Zach teve a ideia para a melodia, e eu vim com a percussão e o arranjo. Foi uma das faixas mais divertidas de se criar, e muitas das batidas ali, sem brincadeira, foram produzidas a partir de baquetas na parte de trás dessa cadeira, com um microfone por trás. Tudo isso aconteceu por termos esse espaço (do estúdio), porque, muitas vezes, quando você vai gravar alguma coisa, você gasta muito dinheiro para estar no estúdio e produzir todas essas coisas, mas aqui é a minha casa e nós estamos aqui para relaxar e experimentar sem a pressão do tempo.
M: Falando de diversão, foi um prazer falar com você hoje, Shawn, mas a nossa última pergunta é sobre a turnê. Na última conversa que tivemos, você disse que os shows no Brasil seriam uma mistura de momentos acústicos e momentos com toda a banda. Houve uma mudança para o formato deste ano?
SJ: No sentido de termos performances com a banda toda e momentos acústicos, não mudou, até porque eu comecei como um artista acústico, sem banda, e tem algo emotivo, íntimo e especial em ter elementos tão simples assim. Mas também é bem legal ter toda a banda, com aquela dinâmica, com o baixo, a bateria e mais um monte de instrumentos trabalhando juntos para criar algo maior. Para mim, quanto mais eu faço turnês, eu gosto de criar shows que sejam dinâmicos, que possam ter um pouquinho de tudo. Então terão momentos mais acústicos, com baladas mais íntimas, e momentos em que vamos ser eu e mais um músico por alguns instantes, mas também momentos em que teremos toda a banda, num Folk Rock que, no final, vira um Rock pesado. Cria uma dinâmica mais interessante pro show, e eu pretendo continuar assim, apesar de termos um monte de mudanças na setlist, porque temos um novo álbum para puxar músicas de. Então vamos ter todas essas faixas que não conseguimos tocar da última vez, mas também, talvez, fazer alguns covers ou trazer versões diferentes de músicas antigas. Tudo isso é bem interessante pra gente, e quando eu penso em mim, se eu fosse para o mesmo show ver o mesmo artista três ou quatro vezes, se fosse o mesmo show sempre, ficaria chato. O que fazemos é sempre pensar em formas de reinterpretar a setlist, ou, se é uma mesma música que estamos tocando, talvez tocá-la de uma forma diferente que nunca fizemos antes. Então, sim, nós estamos muito empolgados para voltar e mostrar pra vocês o que temos trabalhado em.
M: Nós estamos muito empolgados também! Foi um prazer conversar com você, muito obrigado.
SJ: Eu quem agradeço, e espero ver vocês no show.
Confira a nossa entrevista na íntegra aqui.