Chelsea Wolfe — She Reaches Out to She Reaches Out to She

Às vezes, apenas a escuridão basta. Depois de colaborações com Converge e a mestre do darkwave Emma Ruth Rundle, Chelsea Wolfe retorna acompanhada por Ben Chisholm nos teclados, Bryan Tulao na guitarra e Jess Gowrie na bateria. Embora muitos a classifiquem como gótico industrial, sua obra combina elementos de doom, eletrônico e folk, mas She Reaches Out to She Reaches Out to She vai além, explorando texturas distorcidas, catedrais emocionais, alguns caixões enterrados e uma lírica indiscutivelmente vulnerável.

O título do disco traz interpretações profundas sobre o processo de cortar laços, destacando que a cura e o luto são cíclicos, não lineares. Após cinco anos desde Birth of Violence, a espera pelo novo material foi recompensada com uma aula de simetria e estilo. Enquanto trabalhos anteriores, como Pain Is Beauty, 2013, se baseavam principalmente em sintetizadores ou produções distantes, o grupo agora adota uma paleta quase oposta, criando um som mais deliberado.

Wolfe descreveu She Reaches Out to She Reaches Out to She como sua transformação pessoal, baseada em experiências com hipnose que lhe permitiram confrontar outras versões de si mesma ao longo do tempo. Essas versões navegam especialmente pelas quebras violentas de Whispering Into The Echoes: “Oferecendo todas as minhas oferendas imperfeitas, me torno minha própria fantasia, transformo o velho eu em poesia”.

Entre os singles, também é possível perceber o impulso eletrônico marcante de Everything Turns Blue, a delicadeza instrumental do piano e trip hop em Tunnel Lights, e House of Self-Undoing, que arrisca ao combinar bateria punk com guitarras clássicas de stoner-rock. O mesmo instrumental aparece novamente ao longo das 10 faixas, sustentando um formato coeso que mantém a construção selvagem unida como um todo.

A seção do meio, composta por The Liminal, Eyes Like Nightshade e Salt, perde intensidade pela semelhança e duração, ficando repetitiva quando comparada com o restante do disco. Batidas constantes, coroas de sino e instrumentos de sopro surgem como se Chelsea tivesse cortado uma árvore de cogumelos de Björk, mas a reconstrução é o principal tópico em She Reaches Out to She Reaches Out to She. Os contornos dessa transformação se tornam mais tangíveis a partir de Unseen World, esmagando cada vez mais fundo à medida que o tempo e execução avançam, não apenas para afrouxar no fim transcendental, como também ultrapassar seus próprios limites.

Cercada pelo solo de Dusk, a artista conclui o processo de cura na passagem “Watch this empire, as it burns and dissipates. Haunted, on fire, on the wings that we create” e deixa menos terra queimada do que um terreno fértil particularmente produtivo. O fato do seu som ser tão independente, cru e verdadeiro é, como a própria Chelsea Wolfe diria, algo além de um mito.

Nota: 8