1995: Há três décadas, o mundo viveu um dos melhores anos da história do Rock

O ano de 1995 trouxe lançamentos musicais que agradaram a fãs de gêneros diversos: no cenário internacional, estilos como R&B, Art Pop, Folk ou Rap estiveram representados pelo sucesso de trabalhos como Daydream (de Mariah Carey), Post (de Bjork), Me Against The World (de 2Pac), Mr. Smith (de LL Cool J), Elliott Smith (de Elliott Smith) e History: Past, Present and Future (de Michael Jackson), enquanto, aqui no Brasil, o Pagode e o Sertanejo já começavam a dominar as rádios locais – através dos lançamentos fonográficos de nomes como Raça Negra e Chitãozinho & Xororó. Porém, mesmo com toda essa grande variedade de estilos presente no cenário musical mundial, nenhum gênero se destacou tanto quanto o Rock, naquele ano.

Sim! Por mais incrível que pareça para os que estão habituados com o mercado da música atual, 1995 foi um ano em que o Rock figurou como o estilo musical que mais vendeu discos, mais tocou nas rádios, mais venceu prêmios renomados e (acima de tudo) mais proporcionou lançamentos marcantes – tanto no exterior quanto no Brasil. Nesta matéria, listaremos álbuns incríveis que completam 30 anos em 2025 e comprovam que, há três décadas, o mundo viveu um dos melhores anos da história do Rock.

(What’s The Story) Morning Glory?, do Oasis

Pouco mais de um ano após o sensacional álbum de estreia Definetely Maybe (1994) ter apresentado sucessos como Live Forever, Rock n’ Roll Star e Supersonic ao mundo, a discografia do Oasis ganhou continuidade, com o genial (What’s The Story) Morning Glory?.

Impulsionado por hits como Wonderwall, Don’t Look Back In Anger, Morning Glory, She’s Electric, Roll With It, Some Might Say e Champagne Supernova, este segundo lançamento de inéditas foi lançado em outubro de 1995 e alçou a banda dos irmãos Liam e Noel Gallagher a um novo patamar: foi através dele que o Oasis deixou para trás o status de ‘’promissora revelação do Indie europeu’’ para se tornar o grupo britânico mais aclamado de sua geração – afinal, (What’s The Story) Morning Glory vendeu mais de 22 milhões de cópias ao redor do mundo e, nas lojas do Reino Unido, ele foi o álbum mais vendido da década de 1990.

O sucesso colossal deste trabalho provou que, naquela época, a cena mundial do rock mainstream estava, definitivamente, vivenciando uma nova ‘’invasão britânica’’. Tal movimento noventista foi batizado como ‘’Britpop’’ e tinha como protagonistas não somente o Oasis, como também grupos do naipe de Radiohead, Suede, The Verve, Pulp, Supergrass e Blur – que disputavam, frequentemente, espaço nas paradas de sucesso com os irmãos Gallagher. Porém, por mais que tais bandas tenham lançado álbuns fantásticos durante as suas respectivas carreiras, (What’s The Story) Morning Glory é, até hoje, descrito por muitas pessoas como ‘’o auge do movimento Britpop’’.

Usuário, do Planet Hemp

Em 1995, os membros do grupo carioca Planet Hemp redefiniram o conceito de subversão na música brasileira e entraram no mercado fonográfico nacional ‘’chutando a porta’’. Sem a menor cerimônia, eles entregaram, já como álbum de estreia, o incrível (e polêmico) Usuário!

Logo nesse primeiro lançamento, a banda encabeçada pelos (até então desconhecidos) vocalistas Marcelo D2 e Bnegão emplacou sucessos como Mantenha o Respeito, Legalize Já, Fazendo a Cabeça, A Culpa é de Quem?, Dig Dig Dig (Hempa), Deisdazseis, Phunky Buddha e Porcos Fardados. Essas e todas as outras canções de Usuário eram caracterizadas por uma sonoridade energética de Rap Rock (fusão que já havia sido explorada por nomes como Beastie Boys, Rage Against The Machine e Public Enemy, mas que, até então, era inédita na música brasileira) e, também, por letras combativas que, sem qualquer pudor, pediam a legalização da maconha no Brasil e criticavam a violência policial do nosso país.

Ao abordar tais assuntos que, na época, eram considerados grandes tabus, o álbum de estreia do Planet Hemp atraiu a atenção de pessoas do Brasil inteiro, mas dividiu opiniões extremas: ao mesmo tempo que Usuário fez com que os integrantes do grupo carioca se tornassem vozes fortes na luta pela liberdade de expressão e descriminalização da Cannabis no Brasil, o lançamento do disco gerou, também, enorme indignação na ala mais conservadora do país – o que culminou em uma curta prisão da banda, em novembro de 1997, por alegada ‘’apologia ao uso de drogas e associação de pessoas para o uso das mesmas’’. Porém, isso não impediu que o Planet Hemp se tornasse um dos grupos musicais mais bem-sucedidos do Brasil – tanto que, nos anos seguintes, vieram outros três álbuns de inéditas com letras igualmente provocadoras: Os Cães Ladram, Mas a Caravana Não Para (1997), A Invasão do Sagaz Homem-Fumaça (2000) e Jardineiros (2022).

Usuário entrou para a história como um dos melhores e mais corajosos trabalhos de estreia da música brasileira. A partir dele, todos os integrantes do Planet Hemp construíram carreiras artísticas de sucesso, dentro e fora da banda. Os que mais conseguiram se destacar foram, certamente, os vocalistas/rappers Marcelo D2, Bnegão e Black Alien (este último viria a se tornar membro oficial do grupo apenas de 1997 a 2001, mas, já em quatro faixas de Usuário, ele se fez presente como músico convidado).

The Great Escape, do Blur

O enorme sucesso do álbum Parklife (1994) fez com que o Blur entrasse, definitivamente, no hall das bandas britânicas que estavam encabeçando o movimento ‘’Britpop’’. Por isso, quando Damon Albarn (Voz), Graham Coxon (Guitarra), Alex James (Baixo) e Dave Rowntree (Bateria) anunciaram que The Great Escape seria lançado apenas um mês antes de (What’s The Story) Morning Glory, do Oasis, muitas pessoas ficaram curiosas para saber qual das duas bandas britânicas recém-estouradas iria emplacar um sucesso comercial maior.

Percebendo que a mídia estava alimentando uma narrativa de rivalidade entre a banda de Damon Albarn e o Oasis, os executivos da Food Records (gravadora do Blur, na época) decidiram abraçar a briga, como estratégia de marketing para promover The Great Escape. Assim, o lançamento da música Country House (primeiro single promocional deste álbum) foi marcado para o mesmo dia em que seria lançado Roll With It (prévia do segundo trabalho do Oasis).

Embora Country House tenha conseguido números melhores do que Roll With It nas paradas de sucesso, o álbum do Blur não vendeu nem 1/10 das cópias que o estrondoso (What’s The Story) Morning Glory vendeu. Porém, apesar do resultado desse ocorrido que ficou conhecido como ‘’Batalha do Britpop’’, The Great Escape conseguiu superar as vendagens de Parklife e foi aclamado mundialmente, graças a várias faixas que se tornaram grandes clássicos do Blur – entre elas, Charmless Man, Stereotypes, a já citada Country House e a maravilhosa The Universal.

The Bends, do Radiohead

Embora o quinteto britânico Radiohead tenha conseguido se lançar na cena musical mundial logo que entregou o seu álbum de estreia Pablo Honey (1993), o reconhecimento que a banda recebeu através desse primeiro trabalho foi quase que totalmente atrelado ao megassucesso da faixa Creep – já que, entre as 12 canções apresentadas no disco, essa havia sido a única a cair no gosto popular. Foi apenas após o lançamento de The Bends (1995) que o grupo conseguiu fugir do rótulo de One-Hit Wonder e passou a ser observado com mais atenção.

O repertório deste segundo álbum surpreendeu muito os ouvintes, por soar bem mais autêntico e original do que a maioria das canções de Pablo Honey. Essa mudança positiva aconteceu porque, durante a produção de The Bends, a banda desistiu de tentar surfar na onda Grunge (coisa que aconteceu no primeiro disco por pura pressão da gravadora EMI) e passou a seguir uma proposta mais alternativa, sem dar tanta atenção às tendências da época e às sugestões dos executivos.

Ao lançar The Bends, o grupo inglês emplacou sucessos como Fake Plastic Trees, High and Dry, Street Spirit (Fade Out) e Just. Ainda que nenhuma das músicas deste segundo álbum tenha feito tanto sucesso quanto Creep (canção que, até hoje, permanece como o maior hit do Radiohead), o ‘’conjunto da obra’’ fez com que esse trabalho de 1995 fosse muito mais bem-recebido pelos ouvintes do que Pablo Honey – tanto que, naquele mesmo ano, as cultuadas revistas NME e Melody Maker incluíram The Bends em suas respectivas listas de ‘’10 Melhores Álbuns lançados em 1995’’.

Nos anos seguintes, a revista Rolling Stone e os livros ‘’1001 Albums You Must Hear Before You Die’’ e ‘’The Encyclopedia of Popular Music’’ chegaram a eleger The Bends ‘’um dos melhores álbuns de todos os Tempos’’. Contudo, vale lembrar que o Radiohead ainda iria superar o grande sucesso deste segundo trabalho, com o seu terceiro álbum Ok Computer (1997), mas essa é uma história que fica para outra matéria…

Mellon Collie and The Infinite Sadness, do The Smashing Pumpkins

Em 1993, o grupo americano The Smashing Pumpkins conseguiu se tornar um dos maiores nomes do Rock alternativo mundial, graças ao megassucesso de seu segundo álbum Siamese Dream. Contudo, foi somente em outubro de 1995 que a banda liderada pelo vocalista Billy Corgan lançou a sua maior obra-prima: o aclamadíssimo Mellon Collie and The Infinite Sadness.

Esse trabalho de inéditas surgiu através da ambiciosa vontade de Corgan em criar ‘’o The Wall de sua geração’’. Por mais que Mellon Collie and The Infinite Sadness não seja uma Ópera Rock, ele se assemelha à citada obra clássica do Pink Floyd, por ser um álbum duplo que segue uma linha conceitual durante as suas mais de 20 faixas.

As letras de Mellon Collie and The Infinite Sadness abordam temas como depressão, desesperança e paixão, funcionando como uma síntese do que costumava se passar na cabeça de Corgan, em um único dia de sua juventude. Por esse motivo, o repertório foi dividido em duas partes: a primeira metade do álbum constitui um ato batizado de ‘’Dawn to Dusk’’ (‘’Amanhecer e Entardecer’’), enquanto as 14 faixas restantes formam o ato ‘’Twilight To Starlight’’ (‘’Crepúsculo e Luz das Estrelas’’). Com exceção das músicas Take Me Down e Farewell and Goodnight (contribuições do guitarrista James Iha), todas as 28 canções presentes no registro foram compostas por Billy Corgan sem a companhia de qualquer colaborador.

Mesmo seguindo uma linha conceitual, este terceiro álbum do The Smashing Pumpkins passa longe de ser pautado em um único gênero musical: faixas como 1979, Bullet With Butterfly Wings, Cupid De Locke, Zero, We Can Only Come Out At Night e Tonight, Tonight diferem bastante uma da outra, devido às suas pegadas distintas de pop alternativo, grunge, art pop, metal alternativo, synth-pop e rock sinfônico, respectivamente. A alternância de sonoridades é um fenômeno que acontece várias vezes durante a audição de Mellon Collie and The Infinite Sadness e, segundo Corgan, faz parte da proposta grandiosa deste trabalho.

Ao ser lançado, o álbum conquistou aclamação mundial e, rapidamente, atingiu o primeiro lugar na parada Billboard 200 (feito que nunca havia sido alcançado pelo The Smashing Pumpkins e que, até hoje, a banda não conseguiu repetir). Poucos meses depois, Mellon Collie and The Infinite Sadness foi indicado a 7 Grammys e, embora tenha perdido na categoria ‘’Álbum do ano’’, acabou sendo honrado com o prêmio de ‘’Melhor Performance de Hard Rock’’ (pela faixa Bullet With Butterfly Wings).

Mellon Collie and The Infinite Sadness vendeu mais de 10 milhões de cópias no mundo inteiro e se tornou um dos álbuns mais cultuados da década de 1990. Além disso, ele permanece, até os dias de hoje, como o trabalho mais icônico já lançado pelo The Smashing Pumpkins.

Foo Fighters, do Foo Fighters

Em 1994, Dave Grohl teve que interromper o seu sonho de ser um rockstar, devido ao inesperado suicídio do vocalista Kurt Cobain – ocorrido que, consequentemente, significou o fim do Nirvana. Com isso, Grohl chegou a pensar em desistir da música, mas, com o passar dos meses, acabou decidindo continuar a exercer a sua paixão: naquele mesmo ano, ele fez alguns shows como baterista do Tom Petty & The Heartbreakers e só não ficou permanentemente no cargo porque quis tentar lançar um projeto próprio.

No final de 1994, Grohl criou o selo ‘’Foo Fighters” sem idealizar o mesmo como uma banda, mas sim como um projeto solo despretensioso. Assim, o ex-baterista do Nirvana montou um repertório autoral e gravou sozinho todos os instrumentos presentes no autointitulado álbum de estreia Foo Fighters – que foi lançado em julho de 1995.

Embora Grohl tenha recebido pouquíssima voz como compositor dentro do Nirvana, ele sempre teve o costume de compor. Tanto que, três das músicas presentes neste trabalho de 1995 chegaram a ser mostradas para Kurt Cobain, em vida – no caso, Big Me, Alone + Easy Target e Exhausted (a primeira foi recusada, mas as outras duas iriam integrar o quarto álbum do Nirvana).

Ao emplacar hits como Big Me, This Is a Call e I’ll Stick Around, este trabalho de estreia do Foo Fighters acabou se tornando um sucesso muito maior do que Grohl imaginava: além de ter sido ‘’Disco de Platina’’ em vários países, o registro foi amplamente descrito pela crítica especializada como ‘’um dos melhores álbuns de 1995’’. Com isso, Grohl decidiu investir mais em suas composições autorais: naquele mesmo ano, ele passou a contar com a companhia de outros músicos durante as suas gravações de estúdio e, ao lado deles, também começou a fazer turnês – transformando, assim, o Foo Fighters em uma banda. O resto é história.

Lavô Tá Novo, do Raimundos

Pouco mais de um ano após entregarem hits como Puteiro em João Pessoa, Palhas do Coqueiro, Bê a Bá e Selim em um excelente autointitulado álbum de estreia, os Raimundos reafirmaram ser uma das grandes bandas de rock brasileiras de sua geração, quando lançaram Lavô Tá Novo, em 1995. Este segundo trabalho de inéditas manteve a proposta do álbum antecessor, ao trazer, novamente, letras politicamente incorretas, guitarras distorcidas do começo ao fim e influências musicais diversas que passavam por Hardcore, Thrash Metal, Pop Rock, Rap e Forró.

Neste álbum, Rodolfo Abrantes, Digão, Fred Castro e (o hoje saudoso) Canisso apresentaram sucessos autorais como Eu Quero Ver o Oco, Tora Tora, Esporrei na Manivela, I Saw You Saying (That You Say That You Saw) e Opa! Peraí caceta. Além disso, o grupo brasiliense ainda incluiu, no repertório de Lavô Tá Novo, versões roqueiras de O Pão da Minha Prima e Tá Querendo Desquitar (composições originais de Zenilton – forrozeiro homenageado em quase todos os álbuns dos Raimundos).

Aliás, Zenilton contribui com vocais nas faixas Esporrei na Manivela e Tá Querendo Desquitar. Além dele, o disco também conta com colaborações de Gabriel Thomaz (em I Saw You Saying…) e do rapper X (em Cabeça de Bode).

Lavô Tá Novo vendeu cerca de 500 mil cópias e está entre os quatro trabalhos mais aclamados dos Raimundos – ao lado dos outros três álbuns gravados pela formação clássica do grupo: Raimundos (1994), Lapadas do Povo (1997) e Só No Forevis (1999).

Jagged Little Pill, de Alanis Morissette

Após os seus dois primeiros álbuns fracassarem comercialmente, a cantora canadense Alanis Morissette decidiu parar de insistir na linha de Dance-Pop que ela vinha seguindo em sua carreira. Em 1993, a artista, então, rompeu a sua parceria com o produtor musical Leslie Howe e se mudou para Los Angeles, com o objetivo de procurar novos colaboradores que pudessem ajudá-la a se reinventar.

Após fazer sessões de estúdio com várias pessoas, a cantora encontrou no produtor/compositor Glen Ballard tudo o que ela buscava: ao lado dele, Alanis conseguia compor canções incríveis e, ainda por cima, recebia liberdade total para seguir a linha musical que ela quisesse, sem ter que se moldar. Com isso, os dois estabeleceram uma parceria que, em 1995, resultou no álbum Jagged Little Pill.

Neste trabalho totalmente composto ao lado de Glen, Alanis adotou uma proposta sonora roqueira e bem mais autêntica do que a de seus lançamentos anteriores. Pela primeira vez, a artista canadense cantou em cima de instrumentais que não faziam uso de guitarras ou contrabaixos programados – ao invés disso, ela contou com a companhia de uma banda de apoio orgânica que incluiu, até mesmo, as ilustres presenças de Dave Navarro (ex-guitarrista do Jane’s Addiction e do Red Hot Chili Peppers) e Flea (baixista do Red Hot Chili Peppers) durante a gravação da excelente faixa You Oughta Know.

Jagged Little Pill foi o primeiro disco de Alanis Morissette a ser comercializado fora do Canadá. Através do fantástico repertório deste álbum, a cantora se lançou para o mundo inteiro e, logo de cara, causou um impacto imenso na indústria da música: ao emplacar hits como Ironic, You Oughta Know, Hand In My Pocket, Head Over Feet, All I Really Want e You Learn, este primeiro trabalho internacional de Alanis conseguiu vender mais de 33 milhões de cópias ao redor do mundo e se tornou o álbum mais vendido de 1995. Assim, a artista canadense, enfim, se estabeleceu no cenário musical, como uma das cantoras mais influentes de sua geração.

Como se não bastasse, Jagged Little Pill foi, também, o grande destaque da 38ª edição do Grammy, ao render à Alanis os cobiçados prêmios de ‘’Álbum do Ano’’, ‘’Melhor Performance Vocal Feminina de Rock’’, ‘’Melhor Música de Rock’’ (para You Oughta Know) e ‘’Melhor Álbum de Rock’’.

Different Class, do Pulp

Embora o primeiro disco do Pulp tenha sido lançado em 1983, o grupo britânico liderado pelo vocalista Jarvis Cocker só conseguiu ganhar uma certa atenção da mídia a partir de seu quarto álbum His ‘n’ Hers – que foi lançado onze anos depois da estreia e vendeu mais de 100 mil cópias. Porém, o sucesso que esse trabalho de estúdio proporcionou à banda foi bastante modesto, perto do impacto que Different Class causaria, em outubro de 1995.

Já em sua primeira semana nas lojas, este quinto lançamento do Pulp atingiu o Top 1 nas paradas britânicas de álbuns. Isso porque, alguns meses antes, o single Common People havia cumprido com louvor o seu papel de servir como prévia promocional de Different Class: a canção chegou a ocupar o 2° lugar nas paradas de singles do Reino Unido e, consequentemente, instigou milhões de pessoas a comprarem o disco ao qual ela pertenceria.

Common People, porém, não foi o único hit de Different Class: depois que o álbum foi lançado, as faixas Disco 2000, Mis- Shapes, Sorted for E’s & Wizz e Something Changed também ficaram um tempo no Top 10 das paradas britânicas – o que provou de vez que, diferente do que Jarvis Cocker pensou durante muitos anos, o Pulp possuía sim capacidade de criar canções com forte apelo pop.

O sucesso de Different Class elevou o Pulp ao patamar de ‘’gigante do Britpop’’: foi através deste trabalho que o grupo se juntou a Oasis, Blur, Suede e Radiohead, no hall das bandas britânicas mais bem-sucedidas da década de 1990. Tanto que, naquele mesmo ano, Different Class chegou a se sagrar vencedor do Mercury Prize – prêmio tradicional onde a British Phonographic Industry e a British Association of Record Dealers se unem para opinar a respeito de qual foi o ‘’Melhor Álbum Britânico ou Irlandês’’ de cada ano.

Apesar disso, o repertório do disco passou um pouco despercebido pelas rádios e emissoras televisivas de fora do Reino Unido – o que se refletiu bastante nas vendagens do álbum: entre as 1,5 milhão de cópias que Different Class vendeu ao redor do mundo, 1,33 milhão delas foram vendidas em solo britânico. Ainda assim, o álbum recebe, até hoje, grande aclamação de veículos especializados intercontinentais – como a revista Rolling Stone (americana, britânica e australiana), o jornal The Village Voice e os sites PopMatters e Pitchfork.

Tragic Kingdom, do No Doubt

Depois do álbum de estreia do No Doubt vender apenas 30 mil cópias ao redor do mundo, em 1992, a gravadora Interscope ficou um tempo sem querer investir na então novata banda americana de Ska Punk. Assim, Gwen Stefani e cia. tiveram que tirar dinheiro do próprio bolso para financiar o videoclipe de Trapped in a Box e o álbum The Beacon Street Collection. Esse segundo trabalho de inéditas se saiu um pouco melhor do que o primeiro, ao vender 100 mil cópias – um número que, mesmo modesto dentro do mercado da música, acabou sendo bom o suficiente para convencer a Interscope a dar uma nova chance ao No Doubt. Assim, em 1995, o grupo californiano conseguiu comercializar o seu terceiro álbum Tragic Kingdom.

Desta vez, os investimentos que a gravadora depositou deram muito retorno: meses antes do lançamento do disco, o enorme sucesso do single promocional Just a Girl já antecipou que Tragic Kingdom tinha grandes chances de ser um estouro… e não deu outra: este terceiro álbum do No Doubt vendeu mais de 16 milhões de cópias ao redor do mundo, graças a hits como Don’t Speak, Spiderwebs, Excuse Me Mr., Sunday Morning e o já citado Just a Girl.

O sucesso massivo de Tragic Kingdom ajudou a impulsionar um revival do Ska Punk no mercado da música mundial. Tal gênero havia sumido do mainstream após o fim do The Clash (na década de 1980), mas acabou atingindo o ápice de sua popularidade na segunda metade dos anos 1990 – graças, não somente ao No Doubt, como também aos grupos Sublime, Goldfinger, The Mighty Mighty Bosstones e Rancid.

…And Out Come The Wolves, do Rancid

Em 1994, o sucesso do álbum Let’s Go fez com que o grupo californiano Rancid conseguisse se tornar um dos principais representantes da reascensão do punk rock no mainstream mundial – assim como bandas do naipe de Green Day, The Offspring, NOFX e Bad Religion, que também conseguiram tal feito naquele mesmo ano. Contudo, foi somente em agosto de 1995 que o quarteto fundado por Tim Armstrong (Voz/Guitarra) e Matt Freeman (Baixo/Voz de apoio) entregou o trabalho mais aclamado de toda a sua discografia: o sensacional …And Out Come The Wolves.

Neste trabalho composto por 19 canções, o Rancid manteve a sua essência punk rock do começo ao fim, mas também fugiu bastante do que é considerado comum dentro desse gênero. A começar pelo fato de que este é o primeiro álbum em que a banda incorporou o ska à sua fórmula sonora – as faixas que mais demonstram isso são Timebomb, Ruby Soho, Old Friend, Daly City Train e Roots Radical.

Por mais que grupos como The Clash e The Specials já tivessem explorado a fusão de ska com punk anteriormente, o Rancid se distinguiu bastante deles, ao imprimir influências da música californiana em sua própria sonoridade. Na maioria das vezes, o ‘’elemento secreto’’ da originalidade deste álbum é o baixista Matt Freeman – que, em várias faixas do disco, atua como uma ‘’ponte’’ para o ska, ao executar linhas da baixo groovadas enquanto o restante da banda segue a linha crua do punk rock.

Aliás, já na primeira faixa Maxwell Murder, Freeman protagoniza um dos momentos mais ‘’fora da curva’’ de …And Out Come The Wolves: embora tal canção de abertura seja um punk rock veloz, ela possui um solo de baixo incrivelmente elaborado que subverte totalmente a simplicidade esperada dentro de tal estilo musical, ao lembrar grupos como o Primus.

…And Out Come The Wolves vendeu mais de 1,4 milhões de cópias no mundo e, até hoje, permanece como o trabalho de maior êxito comercial do Rancid. As faixas que mais tocaram na MTV e nas rádios foram Timebomb, Ruby Soho, Old Friend, Roots Radical e Maxwell Murder – ainda que o repertório inteiro do álbum seja extremamente aclamado pelos fãs da banda.

O sucesso deste disco reafirmou o Rancid como uma das principais bandas do punk noventista e, ainda por cima, colocou o Ska-Punk de volta ao mainstream, após mais de uma década. Em 1995, bandas como No Doubt, Sublime e Goldfinger já existiam, mas elas só foram estourar mundialmente depois que …And Out Come The Wolves otimizou o mercado fonográfico para com o estilo de música que elas tocavam.

To Bring You My Love, de PJ Harvey

Apesar do álbum de estreia de PJ Harvey ter repercutido pouco fora do Reino Unido, o subsequente lançamento de Rid of Me garantiu que a cantora/guitarrista britânica se tornasse mundialmente reconhecida como uma das grandes revelações de 1993, no meio do rock alternativo. Porém, nesse mesmo ano, a artista decidiu que, em seus trabalhos seguintes, ela não contaria mais com uma banda de apoio fixa – alegando vontade de trabalhar com outras pessoas, fora o baterista Rob Ellis e o baixista Steve Vaughan. Assim, o chamado ‘’PJ Harvey Trio’’ chegou ao fim e, em 1995, a roqueira inaugurou uma nova fase de sua carreira, ao lançar To Bring You My Love.

Neste terceiro álbum, PJ assinou como compositora única em todas as 10 faixas, mas, durante o processo de gravação, produção e mixagem delas, ela contou com o importante auxílio de alguns músicos contratados e, também, dos produtores musicais John Parish (que já havia trabalhado brevemente com a artista, na banda Automatic Dlamini) e Mark ‘’Flood’’ Ellis.  A produção de To Bring You My Love foi assinada por PJ Harvey ao lado dos dois, mas John Parish foi quem exerceu a função de ‘’braço direito’’ da cantora: além de ajudar na produção, ele também contribuiu gravando boa parte das linhas de guitarra, bateria, órgão e percussão presentes no álbum.

Se comparado a seu antecessor, To Bring You My Love explorou bem menos o punk rock e o grunge. Ao invés disso, ele se pautou, majoritariamente, no Rock alternativo e no Blues Rock – gênero que já havia marcado presença em algumas músicas de Rid of Me, mas que se fez presente de forma bem mais escancarada, neste terceiro disco de PJ Harvey (especialmente durante a faixa-título e em I Think I’m a Mother).

Ao ser lançado, To Bring You My Love foi intensamente reverenciado pela crítica majoritária e se tornou o álbum mais rentável da carreira de PJ Harvey – ao conseguir vender mais de 1 milhão de cópias no mundo, muito graças ao sucesso de faixas como Down By The Water, Long Snake Moan, To Bring You My Love e C’Mon Billy. Apesar de ter sido esnobado no Grammy, este álbum chegou a ser eleito o ‘’Melhor Trabalho Musical de 1995’’, por críticos de portais como The New York Times, Rolling Stone, People, USA Today, The Village Voice, Hot Press e Los Angeles Times.

O sucesso de To Bring You My Love fortaleceu muito a imagem de ‘’ícone feminino do rock mundial’’ que PJ Harvey vinha buscando construir desde Rid of Me. Graças a esse terceiro trabalho autoral, a roqueira chegou a ser eleita ‘’A Melhor Artista do ano de 1995’’, pela revista Rolling Stone.

Mamonas Assassinas, do Mamonas Assassinas

Antes mesmo do sucesso estrondoso, os membros dos Mamonas Assassinas já demonstravam ter talento para fazer as pessoas rirem: mesmo na época em que eles se apresentavam como ‘’banda Utopia’’, as canções humorísticas que eles faziam despretensiosamente chamavam mais a atenção do público que músicas ‘’sérias’’ como Horizonte Infinito e Outro Lado da Vida.

O desinteresse dos ouvintes na proposta sonora que o Utopia tentava vender ficou claro quando, em 1992, o autointitulado álbum de estreia da banda de Guarulhos vendeu menos de 100 cópias. Esse fracasso comercial enorme fez com que Dinho (Voz), Bento Hinoto (Guitarra), Júlio Rasec (Teclados), Samuel Reoli (Baixo) e Sérgio Reoli (Bateria) desistissem da ideia de ser um grupo com letras sérias e passassem a investir em uma linha mais humorística – mas sem deixar de lado a qualidade musical. Assim, o quinteto adotou o nome ‘’Mamonas Assassinas’’ e começou a montar um repertório 100% voltado ao Rock cômico.

Em junho de 1995, veio, então, o autointitulado álbum Mamonas Assassinas, cuja repercussão tomou conta do Brasil: naquele ano, todas as 14 músicas do disco emplacaram de forma tão intensa que ficou impossível não se deparar com hits do naipe de Pelados em Santos, Robocop Gay, Uma Arlinda Mulher, Vira-Vira, 1406 e Mundo Animal no rádio ou na TV nacional.

Apesar da presença de letras com cunho sexual, o repertório deste álbum dos Mamonas cativou pessoas de todas as idades, se tornando um fenômeno tanto entre os adultos quanto perante as crianças. Isso porque, além do humor, a banda também utilizava, como trunfo, o carisma enorme de seus integrantes e a mistura de gêneros musicais diversos: é possível identificar, facilmente, neste trabalho, influências vindas não apenas do Rock e seus derivados, mas também de estilos como Forró (em Jumento Celestino), Pagode (em Lá Vem o Alemão), Brega (em Bois Don’t Cry e Pelados em Santos) e Vira (ritmo português satirizado em Vira-Vira).

As vendas de Mamonas Assassinas no Brasil e em Portugal totalizam mais de 3,2 milhões de cópias – dado que torna este o álbum de estreia mais vendido da música brasileira e, também, o lançamento musical brasileiro com a 8ª melhor vendagem da história, em solo local. Graças a esse álbum, os Mamonas foram, por nove meses consecutivos, a banda mais bem-sucedida do Brasil – aparecendo constantemente nos principais programas de auditório da época e chegando a fazer sete shows por semana, por cachês que nenhum outro grupo nacional recebia. Porém, infelizmente, o quinteto não pôde aproveitar o sucesso por muito tempo, devido ao trágico acidente de avião que, em março de 1996, acabou matando todos eles – o que fez deste álbum aniversariante o único registro de estúdio lançado por Dinho, Bento, Júlio, Samuel e Sérgio enquanto membros do Mamonas Assassinas.

15 Álbuns que também merecem ser citados:

A Northern Soul, do The Verve

I Should Have Coco, do Supergrass

Insomniac, do Green Day

Garbage, do Garbage

Alice In Chains, do Alice in Chains

About Time, do Pennywise

Symbolic, do Death

It’s Five O’Clock Somewhere, do Slash’s Snakepit

Gol de Quem?, do Pato Fu

Astro-Creep: 2000, do The White Zombie

These Days, do Bon Jovi

Simples de Coração, do Engenheiros do Hawaii

The Gold Experience, de Prince

One Hot Minute, do Red Hot Chili Peppers

Made in Heaven, do Queen

*A seleção dos 28 álbuns listados nesta matéria foi totalmente realizada pelo redator Lucas Couto