Tal pai, tal filho. Se alguma voz lhe parece familiar, agora você sabe o porquê. Em 2012, Elijah Hewson formou uma banda de escola ao lado dos amigos Josh Jenkinson (guitarra), Rob Keating (baixo) e Ryan McMahon (bateria) e se tornaram mestres em reviver a onda pós-rock do início dos anos 80 para fazê-la ressoar com a urgência do mundo de hoje. As guitarras pop cristalinas, melodias cativantes e energia instintiva do quarteto de Dublin lembra tanto o The Strokes quanto o romantismo do The 1975. Compondo nas sombras como Inhaler (uma referência ao inalador que o vocalista usava para tratar a asma na infância), não é fácil ficar assim por muito tempo quando seu pai é Bono Vox
Bastante embebidos em U2, mas com um anacronismo valente, o primeiro single, I Want You, foi lançado em 2017, e o grupo já começou a excursionar e ensaiar sob o olhar atento de Bono, que não hesitava em dar sua opinião sobre as composições do filho. Nepotismos à parte, os irlandeses carregam suas próprias influências por meio de covers de Stone Roses, Joy Division e os subestimados Echo & The Bunnymen, além de terem construído uma pequena reputação em torno de performances carismáticas, enquanto seu primeiro álbum era aguardado por uma base de fãs já consolidada o suficiente para justificar um acordo com a gravadora Polydor.
No início de 2019, tudo cresceu exponencialmente quando a banda apareceu em quinto lugar na lista BBC Music Sound, composta pelos votos de músicos, DJs, produtores e críticos britânicos. Quase imediatamente, foi convidada por Noel Gallagher para apoiar vários shows da turnê que o ex-Oasis iniciou em Manchester. Apenas 15 meses após a estreia de It Won’t Always Be Like This — impulsionado pela sólida linha de baixo pós-punk de My Honest Face, com um videoclipe dirigido por Anaïs Gallagher, filha de Noel — e pelos singles Cheer Up Baby e When It Breaks, o Inhaler lançou o consistente Cuts and Bruises, contrariando a ideia de que o segundo álbum é sempre um tropeço.
Na fusão de charme juvenil, riffs eletrizantes e o vibrato aveludado de quem herdou heranças vocais óbvias, se em 2010 a indústria foi marcada por dinossauros como Arctic Monkeys, Catfish and the Bottlemen e The Killers, agora eles estavam fazendo sua própria releitura do gênero. Encabeçado por Anthony Genn (ex-membro de Pulp e Elastica), as 11 faixas do segundo disco apresentam relatos autênticos das experiências da banda. If You’re Gonna Break My Heart, Love Will Get You There e These Are The Days fazem parte da lista de variações sonoras, seguidas por passagens viciantes nas guitarras de Dublin in Ecstasy ou Now You Got Me. A essa altura, o grupo se livrou do preconceito associado à comparação com outro nome do século passado, criando um som e personalidade próprios.
Sabendo manter o pavio aceso no emblemático RAK Studios, em Londres, seu mais recente trabalho, Open Wide, foi produzido por Kid Harpoon, vencedor do Grammy, e aperfeiçoou as características dos dois materiais anteriores. As canções, prontas para a arena, carregadas de encanto melódico e ganchos eufóricos, continuam firmes no DNA do Inhaler. Contudo, é impossível ignorar a ideia de amadurecimento, assim como a percepção mais profunda de um fluxo interno, que se reflete diretamente na música. Agora banhados por influências de MGMT, Prince e Depeche Mode, faixas como Your House, A Question of You e Billy (Yeah Yeah Yeah) também homenageiam o indie rock de garagem que definiu a adolescência dos músicos. Cada lançamento parece um grande single, capaz de cativar qualquer tipo de público com seu frescor e autenticidade.
Buscar inspiração nas próprias raízes não é um problema, desde que elas não se tornem limitações. É natural que críticos recebam o Inhaler com certo ceticismo, considerando sua ‘realeza parental’, a rápida assinatura com uma grande gravadora ou as primeiras turnês ao lado de Gallagher. No entanto, por trás desses créditos visíveis, há uma abordagem honesta de temas familiares, como monotonia, inquietação e anseio. Por isso, aceite um conselho: evite rotular essa jovem banda irlandesa — afinal, há grandes chances de que ela rompa qualquer expectativa.