Grupo retoma boa forma do auge da carreira guiado por voz de Brandon Boyd e uma inspirada Nicole Row
Na teoria, a ideia de sair em turnê celebrando um disco clássico parece tranquila. Tocar os singles, relembrar a boa fase e reunir seus fãs mais fervorosos em um show de quase 2h é quase um paraíso para músicos consagrados. Essa era a ideia do Incubus ao anunciar a tour de seu quarto álbum de estúdio Morning View, responsável por tracks como ‘Nice To Know You’, ‘Wish You Were Here’, ‘Mexico’ e ‘Are You In?’.
No entanto, fazer jus aos tempos de glória também pode fazer com que você lute contra a sombra do que um dia você já foi. Quase 24 anos depois, hoje o Incubus possui certa nova roupagem e precisou se readaptar; parte pelos problemas vocais do ótimo Brandon Boyd, parte pelos altos e baixos de seus integrantes nos últimos anos.
O mais recente trabalho de inéditas do quinteto, o EP Trust Fall, de 2020, foi duramente criticado por sua abordagem mais dançante e comercial – mesmo tendo boas tracks como ‘Into the Summer’ e ‘Karma, Come Back’, além de ter sido afetado pela pandemia. Por isso, talvez a ideia de celebrar os tempos de aclamação tenha surgido já há alguns anos, sob a desconfiança do olhar do público acerca de novos trabalhos.



O show começou com 20 minutos de atraso, mas evidenciando o que estava por vir: uma performance pesada, com momentos acústicos e desacelerados, mas que retomava a vitalidade de uma das bandas mais importantes dos anos 90 e 2000.
A apresentação foi parcialmente sensorial. Por mais que Brandon Boyd, Mike Einziger e Nicole Row, os três “linha de frente” do grupo, sejam carismáticos, interajam com a plateia e tenham postura em cima do palco, o protagonismo é roubado única e exclusivamente pelo som: uma mistura de rock alternativo, post grunge e até um pouco de rap/nu metal.
A nova baixista, já experiente em grandes turnês por seus anos de carreira com Miley Cyrus e Panic! At the Disco, tem quase o mesmo destaque que o frontman. Tudo porque, além de carismática, a musicista deu outra vida para a banda no live. Possivelmente esse foi o show com as linhas de baixo mais marcantes que se viu em São Paulo em algum tempo. E, se tratando desse tipo de som, a parte grave e groove do todo, além de performática, é crucial para uma experiência que seduz quem tanto aguardava a celebração de tempos musicalmente mais atrativos (pelo menos nesse gênero).



Diferente do último show da banda no Brasil, há 7 meses, no Rock In Rio, a setlist foi maior, assim como o tempo para jams curtas e até alguns improvisos. Na segunda metade do show, Boyd agradeceu a presença das pessoas no Espaço Unimed: “Obrigado por deixarem nossa banda fazer parte da sua experiência”.
Essa ideia de transformar sonoridade que não revoluciona em algo quase abstrato, que parcialmente precisa de conexão para crescer de tamanho, é o que torna o Incubus uma das grandes bandas do planeta. É verdade, não há nada de transformador em um som que explora as boas tendências de um período onde o grunge e o rock alternativo dominavam as paradas. Contudo, ao vivo fica claro que a relação entre a banda e seus fãs vai um pouco além dos singles radiofônicos ou de qualquer sucesso comercial.



Se ainda havia incerteza e desconfiança sobre as cordas vocais de Boyd, agora não há mais. A sensação é que o artista retomou o auge de sua carreira como vocalista – o que faz com que a similaridade da voz ao vivo com a voz de estúdio de 23 anos atrás volte a ser pauta. Ainda bem!
Com tempo para os hits ‘Dig’, ‘Pardon Me’ e ‘Drive’, tudo soa muito redondo e no lugar, mesmo mais de duas décadas depois. Em épocas onde a falta de apelo e confiança rondam a caminhada das bandas de rock, ver o Incubus – um grupo que nos últimos anos enfrentou idas e vindas – retomar sua energia vital celebrando um de seus melhores trabalhos sem se sustentar apenas pela nostalgia traz um fio de esperança.
Drive é um clássico! ⚡️
— Moodgate ⚡️ (@Moodgate_) April 11, 2025
São Paulo dançou, pulou e cantou ecoando em uma só voz os hits do Incubus! ✨
🎥: @izzomrm pic.twitter.com/BkNvR8BrJE
Para quase 10 mil pessoas na capital paulista nesta quinta-feira, os californianos conseguiram com facilidade vencer a incerteza e entregar boas e novas memórias para o público.
Introduzindo canções não tão famosas de um ótimo disco ou apostando na trilha sonora jovial do início dos anos 2000, eles fizeram um dos melhores shows do ano sem se tornarem refém de seus dias de glória.
Agora é torcer por um novo álbum, afinal, musicalmente essa é a melhor fase da banda em muito, mas muito tempo.