Nesta terça-feira, (22), a banda islandesa Kaleo subiu ao palco da Audio, em São Paulo, para apresentar sua turnê mundial Payback Tour. Composta por JJ Julius Son (voz, guitarra, piano), Rubin Pollock (guitarra), Daniel Kristjansson (baixo) e David Antonsson (bateria), o grupo desempenhou bem sua mistura “folk rock blues” para o público paulistano – que, no entanto, soou pouco entrosado com o quarteto em alguns momentos.
Musicalmente, a banda foi impecável. JJ Julius Son demonstrou fidelidade ao timbre grave e potente de sua voz em estúdio, provavelmente a característica mais marcante do grupo nos últimos anos. De fato, ao vivo soa como se o fã estivesse escutando o disco nas plataformas de streaming. Esse foi o maior ponto positivo dos islandeses.



Por outro lado, a excelente performance não escondeu a falta de conexão de parte do público com a apresentação, que parecia estar presente apenas para ouvir a faixa de maior sucesso, ainda que a banda desempenhe muito bem todo seu repertório. Para começar, você até pode não conhecer o quarteto por exclusivamente seu nome, mas certamente já foi impactado com as faixas Way down We Go e No Good por aí. Eles tocaram no Lollapalooza Brasil antes da pandemia também sob essa sombra de underdog, mesmo com as centenas de milhões de plays nas plataformas de streaming.
Esse sucesso mundial das maiores canções automaticamente cria alta expectativa, afinal, o que se é muito escutado mundo afora tende sempre a fazer bastante sucesso no Brasil. Na prática, não foi o que pareceu além dos hits.
A banda apresentou músicas de seu amado disco “A/B”, além de explorar momentos do trabalho completo mais recente, Sufarce Sounds, de 2021, e faixas do novo disco, Mixed Emotions, que chega no início de maio.
A fórmula de composição característica do grupo, que explora muito bem as pontes e entrega o clímax no refrão, funcionou. A grandiosidade do vozerão do frontman se sobressaiu, entregando o que se espera de um grupo majoritariamente guiado pelo timbre de seu protagonista. Os arranjos folk, com uma pitada de blues e até stoner rock ganharam ainda mais vida no palco, ajudando a sustentar uma performance que valeu o ingresso.
Um hit é um hit! 🤘🏻💙
— Moodgate ⚡️ (@Moodgate_) April 23, 2025
Com sua voz grave característica, o vocalista JJ Julius Son guiou os paulistanos nesta noite de terça-feira com facilidade. A faixa mais aclamada foi “Way down We Go”, lançada em 2016.
Tecnicamente excelente!
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Entretanto, nem tudo são flores. Apesar da excelência técnica, a banda parecia distante, com JJ Julius Son mantendo uma postura mais reservada. Em alguns momentos o vocalista pediu para a produção resolver algum problema de áudio que o incomodava, o que pode ter causado algum tipo de estresse. Essa ausência de conexão emocional, no entanto, deixou o ambiente um pouco frio, dificultando a criação de uma atmosfera mais envolvente – algo considerado essencial nos shows internacionais que acontecem por aqui. No fim, pelo menos, ele vestiu uma camisa do Brasil como forma de agradecimento e arrancou alguns gritos ensandecidos dos fãs. Ufa.
Neste show de contrastes, o espetáculo ofereceu uma experiência sonora de alto nível, mas careceu do calor humano que costuma marcar o olho-no-olho entre artista e fã brasileiro. Talvez por ser numa terça-feira fria pós-feriado? Talvez. A mistura de influências agradou, mas a sensação geral foi de que, além do ótimo desempenho técnico, o show poderia ter sido mais próximo do público.



Para os fãs que priorizam a qualidade musical, a apresentação foi histórica: realmente parece que a banda dá play no CD e apenas faz um playback de tão parecido com os discos de estúdio. Para aqueles que buscavam um entendimento mais visceral dos artistas com o público, o gostinho foi de “quero mais”.
A performance demonstrou que a banda domina com naturalidade o que os levou ao topo: sua música. Contudo, se a experiência geral for o que conta, é preciso que alguns detalhes sejam acertados – e decidir o que faz um show ser perfeito é, de certa forma, quase uma visão subjetiva.