John Lennon não era conhecido por medir palavras, e isso incluía suas opiniões sobre o próprio trabalho. Ao longo dos anos, ele fez questão de destacar algumas composições que considerava entre as melhores da carreira, como Across the Universe, que chamou de “uma das melhores letras que escrevi” – All My Loving, descrita por ele como “um trabalho muito bom”. Também demonstrava apreço por faixas como Within You Without You, entre outras dos Beatles.
No entanto, nem tudo em sua trajetória com os Fab Four era motivo de orgulho. Lennon foi crítico de várias músicas — algumas compostas por Paul McCartney e outras de autoria própria. Entre elas, mencionou negativamente canções como Good Morning, Good Morning, Dig a Pony, Mean Mr. Mustard, It’s Only Love, Lovely Rita, When I’m Sixty-Four, Hello, Goodbye e, principalmente, Run For Your Life, que ele considerava a pior de todas.
“Run For Your Life”: uma letra que envelheceu mal
Lançada no álbum Rubber Soul (1965), Run For Your Life foi escrita por Lennon e frequentemente criticada por seu conteúdo considerado machista e ameaçador. Em entrevista à Rolling Stone em 1970, ele foi direto:
“Sempre odiei essa música, sabe? Nunca gostei.“
Lennon explicou que a inspiração veio de Baby Let’s Play House, sucesso de Elvis Presley de 1955.
“Havia uma linha que dizia: ‘Prefiro ver você morta, garotinha, do que com outro homem’. Escrevi a partir disso, mas nunca achei que fosse algo importante.”
Anos depois, em 1973, reforçou sua insatisfação com a faixa, chamando-a de “um erro de gravação” que nunca levou a sério. Curiosamente, ele revelou que a música era uma das favoritas de George Harrison — algo que ele mesmo nunca entendeu.
Assim, Run For Your Life se tornou, nas palavras do próprio autor, a canção mais indesejada do catálogo dos Beatles. Um exemplo de como até grandes ícones do rock reconhecem seus deslizes criativos — e não têm medo de falar sobre isso.