Gagacabana: Lady Gaga leva sensibilidade e teatro aos palcos de Copacabana

Ela veio. E, com ela, trouxe lições. Algumas para o público, outras para a organização. Mas todas de grande valor.

No último sábado (3), Lady Gaga deu o pontapé inicial no “Todo Mundo no Rio”, iniciativa da Corona, Bonus Track e Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, levando 2.1 milhões de pessoas às areias de Copacabana, local onde o show gratuito ocorreu. Durante a apresentação da Mother Monster, que ficou amplamente conhecida como “Gagacabana”, a excelência salta aos olhos, mas não é nela em que está contido o maior bem da performance de Gaga.

Com base em pilares estéticos do Gótico e estruturais da Ópera, a responsável por ‘Abracadabra’ colocou estrutura gloriosa e setlist desapegada de alguns de seus maiores sucessos sobre a mesa, ambas já apresentadas no Coachella.

Durante a apresentação, a cantora trava duelo implacável contra o caos, tornando a narrativa explícita na apresentação de ‘Poker Face’, em que batalha em um grande tabuleiro de xadrez, e na introdução, ‘The Manifesto of Mayhem’, em que alicerça a experiência do público com detalhes da narrativa.

Como esperado, em toda a apresentação, Gaga apresenta estamina acima do normal. Em meio às inúmeras coreografias, a Mother Monster encontra espaço para uma voz cristalina, que, em um microfone de lapela, baila em consonância com a respiração da cantora, conferindo naturalidade às interpretações. E é neste detalhe que há beleza e lição no “Gagacabana”: Lady Gaga está disposta a mostrar ao mundo que, não importa quão grande e detentor de múltiplos dígitos é, se há paixão, é ela quem deve imperar.

Dos figurinos reimaginados para fazer referência ao Brasil, passando pelo discurso com tradução simultânea e finalizando nos discursos envoltos em olhos marejados, Lady Gaga transborda verdade. Quando entoou em ‘ARTPOP’ que é pela música, não pelo hype, a artista não se deixou ser leviana ou pretensiosa. E é nítido. Afinal, quem, após uma das apresentações mais exuberantes das últimas décadas, teria a sensibilidade de não adentrar o camarim ao findar do show, mas, sim, voltar ao palco, cercar-se de sua equipe, admirar fogos de artifício, que seriam somente elementos para indicar ao público que cessou o espetáculo, enquanto derrama lágrimas, agradecimentos e cantos quase sussurrados e emocionados? Sim, esta pessoa é Gaga. Uma diva Pop que se permite ser gente. E que, para nós, deixa cravado: é preciso, em meios aos processos, perder-se do que sempre foi objetivo? E é preciso ao ver o outro perder-se taxá-lo insuficiente, usurpando dele as possibilidades inerentes à vida, como, por nós, público, foi feito com Gaga em lançamentos como ‘Joanne’, frequentemente apontado como fraco e declínio da artista?

Gagacabana é um convite, embora à arte, à reflexão, quiçá reposicionamento.

E momentos sensíveis, criativos e cheios de vontade, como os propostos por Gaga, preenchem lacunas que, para 2026, precisarão ser revistas, a começar pela mobilidade urbana, que, ao lidar com 2.1 milhões de pessoas pelas ruas, mostrou-se ineficaz. E tumultuada. Os telões espalhados por toda Copacabana também necessitarão de atenção especial para que os delays sejam menos incômodos e os glitches sejam extintos.

Embora precisasse de pequenos refinamentos, a 1ª edição do “Todo Mundo no Rio”, conduzida por Lady Gaga, brilha e nos faz pensar sobre quão fundamental arte e cultura são para o país. É possível, nas redes sociais, encontrar comentários de proprietários de negócios locais agradecendo pela iniciativa, já que esta escalou o faturamento mensal, trazendo alívio às balanças.

comentário feito nas redes sociais do Prefeito Eduardo Paes

É arte. É lazer. É impacto na economia. É, embora possua adversidades, um viva ao “Todo Mundo No Rio”. Um viva à excelência e sensibilidade de Gaga. E um viva ao próximo show gratuito em Copacabana.

E um último viva às publicações de Eduardo Paes. Até a próxima, Dudu!