A quinta-feira foi tudo menos comum no Rio de Janeiro. O System of a Down desembarcou na cidade para sua terceira apresentação na capital fluminense, diante de um público eletrizante de mais de 60 mil pessoas no Estádio Nilton Santos.
Sem introduções demoradas, o show começou com a bateria avassaladora de John Dolmayan em X, incendiando a multidão logo nos primeiros segundos. “Não precisamos nos multiplicar”, diz a canção — uma linha que parecia reafirmar a importância única de cada presença ali, em um espetáculo com ingressos esgotados já nos primeiros dias de venda.
O clima de êxtase se intensificou com Prison Song e Aerials, que ressoaram com força total sobre o público. No topo do palco, uma fileira de latas de luz caía como ogivas, evocando o caos de um bombardeio — metáfora visual perfeita para a contundência da banda, conhecida por seu som furioso e suas letras politicamente carregadas, que abordam opressão, violência e guerras pelo mundo.
Aerials no ar e o Rio inteiro flutuando! A vibe psicodélica tomou conta, e o céu parecia mais perto com Serj conduzindo a multidão em cada verso.
— Moodgate ⚡️ (@Moodgate_) May 9, 2025
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Dolmayan foi uma força da natureza na bateria. Shavo Odadjian, com seu jeito peculiar, parecia fundido ao ritmo hipnótico de seu baixo. Daron Malakian dominava o palco como guitarrista e verdadeiro maestro da noite, e Serj Tankian completava o quarteto com uma performance vocal intensa, entre o grito e a prece — quase litúrgica em sua entrega emocional.
O setlist trouxe gratas surpresas para os fãs mais antigos. Músicas raras como 36, não tocada desde 2002, surgiram em cena — uma preciosidade ouvida anteriormente apenas em Lima, no Peru. Pictures e Highway Song, do disco Steal This Album!, também emocionaram os mais fiéis, até que Needles reacendeu o frenesi coletivo com seu peso clássico.



Em dado momento, pairava uma pergunta no ar: ainda há quem ache que arte não deve ser política? O System of a Down segue como exemplo poderoso de engajamento musical, seja denunciando o genocídio armênio ou criticando a corrida armamentista atual.
A catarse seguiu com Soldier Side e BYOB, esta última marcada pelo refrão impactante: “Por que eles sempre mandam os pobres?” O estádio, agora à meia-luz, foi iluminado por milhares de lanternas de celular e luzes vermelhas, enquanto sinalizadores transformavam o campo numa visão infernal e poética — uma cena simbólica para quem captou a referência.
B.Y.O.B. no palco = o caos total! A energia tá lá em cima, a galera surtando com cada "WHY DO THEY ALWAYS SEND THE POOR?!".
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Serj e Daron detonando enquanto o público grita e se perde no frenesi da música! Quem ainda tem fôlego? 😤⚡
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Rodinhas punk se formavam em diversos pontos. Em uma delas, uma criança sobre os ombros do pai girava no redemoinho humano — imagem pura da conexão que só a música proporciona. Como de praxe, objetos voavam: tênis, copos de cerveja, camisinhas infladas como balões — cruzando o show de luzes montado pela produção. Surreal e belo.
O System prefere deixar que a música fale por si. Nada de discursos longos. De pé sobre tapetes armênios, reafirmando suas raízes, os integrantes mergulharam de corpo e alma no ritual sonoro, esmagando cabeças com o peso de seus riffs.



Na reta final, Bounce transformou o estádio em um transe coletivo, com Serj comandando o salto frenético. Psycho foi uma das mais cantadas da noite, enquanto Chop Suey! — como esperado — causou uma comoção unânime. Lonely Day e a querida Forest vieram na sequência, preparando o terreno para o clímax.
Então, Toxicity explodiu nos alto-falantes. O público virou um só corpo em movimento, em transe, rendido à vibração coletiva. Mais sinalizadores tingiram o céu, preparando o terreno para o encerramento apoteótico: Sugar encerrou a noite com a energia no limite, selando uma das apresentações mais intensas que o Rio de Janeiro presenciou nos últimos anos.
Depois de uma década de espera, a dívida foi paga — e com juros emocionais. Confira o setlist completo do show: