Estrada, poesia e resiliência: Ziggy Alberts reflete sobre sua jornada, liberdade criativa e expectativas para o show no Brasil

Considerado como um dos nomes mais promissores do folk contemporâneo, Ziggy Alberts vem diretamente da Austrália para renovar o gênero de maneira única. Suas músicas carregam suas confissões e sentimentos mais profundas. Se você ainda não conhece o trabalho dele, não se preocupe — ainda dá tempo. Se está em busca de um artista sincero cujas canções podem servir como uma trilha sonora, momentos de calmaria, amor, solidão e liberdade, com certeza deveria dá-lo uma chance.

O cantor, compositor e poeta australiano Ziggy Alberts iniciou sua trajetória artística em 2011, se apresentando nas ruas da Austrália. Desde o começo, seguiu de forma independente, assumindo o controle criativo da própria carreira. Ao longo dos anos, lançou álbuns que evocam sua autenticidade e uma sinceridade visceral — entre eles, Made of Water (2013), Land & Sea (2014), Laps Around The Sun (2018), Searching for Freedom (2021), DANCING IN THE DARK (2022) e New Love (2025). Indo além da música, Ziggy também explora seu lado literário com livros de poesia como Brainwaves (2021) e Sun Memos (2024), que revelam seu lado mais sensível e íntimo. A fusão entre canções e poemas acontece de forma orgânica em seus shows, tornando o ambiente ainda mais introspectivo e resiliente.

Foi com essa ideia que Ziggy Alberts deu início à New Love Tour, turnê mundial que conta com passagem pela América do Sul. O músico marcará presença em São Paulo no dia 28 de junho. Em entrevista exclusiva à Moodgate, o artista compartilhou sua filosofia criativa, refletindo sobre a dualidade entre compor canções e escrever poesias, suas experiências como artista independente e fundador de sua própria gravadora, e é claro, revelou suas expectativas para o show no Brasil, que promete não só uma performance carregada de emoção, mas também um bom churrasquinho com direito a picanha no pós-show.

MOODGATE: Você começou sua carreira como artista de rua, certo? Então você continuou como um artista independente, até criar sua própria gravadora. E o que te levou a tomar essa decisão de permanecer independente e não assinar com outras gravadoras?

ZIGGY ALBERTS: Começar de forma independente foi algo muito direto, muito próximo das pessoas. Eu estava fazendo minha própria música, e nós mesmos organizávamos os shows — tudo era feito de maneira muito, digamos, “punk”. Talvez não fosse o caminho mais convencional para uma carreira musical, mas eu tinha uma grande paixão por estar ali, existindo junto ao público nos meus shows.

Com o tempo, a gente foi crescendo e, eventualmente, começaram a surgir propostas de gravadoras. Mas você acredita que uma das maiores influências na minha decisão de continuar independente foi o Chance the Rapper? Na época, ele era um artista independente mas ele fazia muito sucesso. Foi um ótimo exemplo para mim. Eu pensei: “talvez o melhor seja mesmo continuar assim”.

E é uma decisão muito complicada, mas tem sido realmente incrível. Já se passaram, uau, cerca de sete anos desde que criamos nossa própria gravadora. Hoje ela é muito mais que isso: cuidamos de marketing, logística de turnê, merchandising… tudo. Virou uma empresa musical completa, com uma equipe de cerca de uma dúzia de pessoas — a maioria mulheres — fazendo um trabalho maravilhoso. Tem sido uma jornada insana.

MOODGATE: Você acha que isso [assinar com outra gravadora] poderia ter influenciado sua liberdade criativa?

ZIGGY ALBERTS: Eu estava preocupado com minha liberdade criativa se eu assinasse com outra pessoa, então, sim. Agora temos nossa liberdade criativa, mas também temos três turnês mundiais em três anos, o que é um grande sucesso para a gravadora também.

MOODGATE: Além de ser compositor e cantor, você também escreve livros, certo? Então, Brainwaves e Sun Memos são livros de poesia e ambos têm um significado íntimo e profundo, mas quando você está compondo músicas, você também tenta refletir esse seu lado íntimo e pessoal nas letras? Ou você acaba se abrindo mais apenas quando está escrevendo poesia?

ZIGGY ALBERTS: Eu diria que a minha música é mais extrovertida, enquanto a poesia é mais introspectiva. Acho que ambas são muito íntimas, mas, quando estou escrevendo poesia, isso acontece em um espaço mais silencioso, mais interior. Já a música tem algo que você precisa dizer, algo que quer colocar para fora. A poesia, por outro lado, é como se viesse até você.

MOODGATE: Você vem ao Brasil em junho. Eu sei que esta não é sua primeira vez aqui, mas, como desta vez você está tocando um show solo, você sente que há mais pressão ou está nervoso com isso?

ZIGGY ALBERTS: Eu realmente gosto de shows solo, na verdade, porque é a minha coisa mais consistente. Me sinto mais confortável tocando solo do que com uma banda. Talvez um dia eu monte uma banda, mas por enquanto me inspiro em artistas como Ed Sheeran, que também fazem tudo sozinhos.

Tenho meu bumbo, e agora até adicionamos poemas — às vezes termino uma música e logo emendo com um poema, enquanto me preparo para a próxima canção. Isso tem deixado o público muito empolgado. Nós desenvolvemos muito nos últimos dois anos.

Estou simplesmente empolgado. Eu ficaria animado para subir no palco sozinho e dizer: vá ao show.

MOODGATE: E quando você veio ao Brasil, experimentou alguma comida típica ou tem algo que você está disposto a experimentar na sua próxima viagem?

ZIGGY ALBERTS: Ah, com certeza! Eu sou apaixonado por carne — adoro picanha, churrasco, tudo isso. Fico superanimado com a ideia de experimentar comidas novas. Aliás, a gente costuma fazer churrascos ao lado do ônibus da turnê, o que é sempre divertido. Imagine só: chegamos na cidade e já preparamos um churrasco ali mesmo, do lado do ônibus, enquanto as pessoas passam olhando, curiosas.

Então, se houver algo tradicional de vocês, algo típico do Brasil que não temos por lá, eu vou adorar experimentar. Na verdade, estou ansioso para voltar e comer o máximo que conseguir.

MOODGATE: Você morava em uma van, certo? Você ainda faz isso? Como foi essa experiência?

ZIGGY ALBERTS: Foi uma fase muito boa, porque na época eu era artista de rua e consegui economizar o suficiente para montar um pequeno palco e, depois, formar minha primeira banda. Era incrível, porque eu conseguia levar meus equipamentos musicais, minhas pranchas de surfe e ainda tinha uma cama. Podia tocar em um show, dirigir sete horas e tocar em outro no dia seguinte. Fiz isso por anos. Hoje em dia, isso é até comum na Austrália, mas, para mim, foi o jeito perfeito de começar a carreira.

Ainda tenho a mesma van, há mais de dez anos. Gosto de acampar com ela de vez em quando, mas, com os anos intensos de turnê, foi preciso encontrar outra forma de viver. Agora moro em uma pequena casa contêiner. É bom ter um lugar para se enraizar, para parar um pouco, porque passo o ano todo vivendo em movimento, no ônibus da turnê. Então, quando volto para a Austrália, é importante ter esse lugar fixo.

A van foi essencial: sem ela, não teria conseguido fazer tudo isso no início. Era uma verdadeira aventura. Eu escrevia músicas nela, na praia, ou até em lavanderias — lavando roupa com o violão do lado, compondo ali mesmo. Na Austrália o clima é bom, é seguro, então às vezes você acorda com uma vista de milhões de dólares à beira-mar. Estar o tempo todo na estrada me fez viver muitas experiências. Foi, sem dúvida, um período muito especial da minha vida.

MOODGATE: Tem algo que você queira dizer sobre a turnê, sobre o show no Brasil e na América do Sul?

ZIGGY ALBERTS: Estou realmente muito grato por finalmente fazer meu primeiro show em São Paulo. Desde 2013, quando comecei a tocar nas ruas, já apresentava minhas músicas ao vivo para muitas pessoas brasileiras.

Então, ter agora um show solo em São Paulo, como atração principal, é algo muito especial. Estou animado para poder agradecer pessoalmente a todos pela paciência ao longo desses anos.

É a realização de algo que esperava há muito tempo — mais de dez anos depois que alguns brasileiros ouviram minha música pela primeira vez, finalmente vou poder me apresentar para eles no Brasil. Isso me deixa muito feliz.