Antes de uma obra ser lançada, é impossível, para qualquer artista, saber que ela se tornará atemporal. Embora álbuns e singles existam justamente com o propósito de registrar músicas para a eternidade, mente quem diz ter certeza de que uma criação recente continuará relevante duas décadas depois de ser lançada, pois tal longevidade é um feito que poucos conseguem alcançar. Por isso, quando nós listamos os seguintes álbuns nacionais que completam 20 anos em 2025, nós não estamos promovendo mera nostalgia… estamos celebrando trabalhos clássicos que conseguiram resistir ao teste do tempo e merecem ser escutados (ou re-escutados) por todos os amantes de música brasileira.
E como a música do nosso país é uma das mais ricas do mundo, nós fizemos questão de expor isso, listando trabalhos que passam por samba, MPB, rock, rap, pop, metal, jazz…
Se liga no Mood:
Céu, da Céu

No final da década de 1990, a cantora paulista Céu (Maria do Céu Whitaker Poças) morou um tempo em Nova York . Lá, ela expandiu muito a sua formação musical (que, até então, era quase que unicamente pautada em ritmos brasileiros) e estabeleceu uma parceria profissional importante com o compositor de trilhas Antônio Pinto (que já era relativamente famoso, graças às suas composições inclusas em filmes nacionais como ‘’O Menino Maluquinho’’ e ‘’Central do Brasil’’). Quando Céu voltou a morar em São Paulo, Antônio apresentou ela a vários nomes renomados no meio da música brasileira – entre eles, estavam o produtor Beto Villares e o guitarrista Alec Haiat, que foram essenciais para que, em 2005, a artista conseguisse lançar o seu autointitulado disco de estreia Céu.
A produção deste álbum foi realizada por Beto Villares em parceria com Antônio Pinto e com a própria cantora paulista. O repertório, por sua vez, incluiu releituras dos já conhecidos clássicos Concrete Jungle (Bob Marley) e O Ronco da Cuíca (João Bosco), mas também trouxe 12 músicas originais onde Céu atuou ativamente como compositora – as faixas Rainha e Bobagem foram criadas somente por ela, enquanto as demais foram compostas na companhia de parceiros, como Beto Villares (co-autor de Véu da Noite, Vinheta Quebrante, Valsa Pra Biu Roque e Roda), Danilo Moraes (co-autor de Mais um Lamento) e Alec Haiat (co-autor de Lenda, Malemolência, 10 Contados, Ave Cruz e Samba Na Sola).
A sonoridade do repertório de Céu (2005) é muito pautada em gêneros musicais latino-americanos (como a MPB, o Samba, o Reggae e a Bossa Nova), mas também reflete bastante as influências que a cantora absorveu enquanto morava em Nova York: em diversos momentos deste álbum, os ouvintes podem reconhecer elementos sonoros característicos de Jazz, Soul Music e, até mesmo, Hip-Hop (embora o disco não inclua raps, faixas como Lenda, Mais um Lamento, Roda e Ave Cruz apresentam grande uso de scratching, enquanto 10 Contados se enquadra muito no subgênero Trip-Hop).
Essa mistura de música brasileira com gêneros tradicionalmente americanos fez com que este álbum de estreia se tornasse um megassucesso, tanto no mercado nacional quanto no circuito estrangeiro: além de ter vendido cerca de 300 mil cópias dentro do Brasil, Céu (2005) alcançou uma vendagem de mais de 150 mil cópias nos Estados Unidos e chegou a atingir o 57º lugar no tradicional Ranking de Álbuns da Billboard americana (a melhor posição que uma artista brasileira mulher ocupou nessa lista desde que Astrud Gilberto participou do álbum Getz/Gilberto cantando The Girl From Ipanema, em 1963). Consequentemente, Céu acabou sendo indicada ao Grammy de ‘’Melhor Álbum de World Music Contemporânea’’ e ao Grammy Latino de ‘’Melhor Artista Revelação’.
Anacrônico, da Pitty

O megassucesso do álbum de estreia Admirável Chip Novo (2003) fez de Pitty a maior roqueira brasileira revelada no século XXI, mas também estabeleceu um padrão de qualidade bastante alto que a cantora teria que manter, em seu 2° lançamento. Contudo, por mais que os fãs dela tenham criado expectativas enormes em torno do sucessor de Admirável Chip Novo, ninguém ficou decepcionado quando Pitty entregou Anacrônico, em 2005.
É fato que este segundo trabalho da artista baiana não emplacou um número tão grande de sucessos radiofônicos quanto Admirável Chip Novo havia feito – e isso acabou contribuindo para que ele não repetisse a extraordinária vendagem de 250 mil cópias alcançada pelo disco de estreia da cantora. Porém, ainda assim, os resultados comerciais de Anacrônico passaram longe de ser decepcionantes: este álbum vendeu mais de 180 mil cópias ao redor do Brasil e trouxe os hits Na Sua Estante, Memórias, Anacrônico e Déjà Vu – que, até hoje, são essenciais nos shows de Pitty.
Vale lembrar que Anacrônico foi o primeiro trabalho que Pitty gravou com o guitarrista Martin Mendonça. A partir disso, os dois estabeleceram uma parceria sólida que dura até hoje (Martin participou de todos os álbuns e turnês solo que Pitty realizou de lá para cá e, em 2011, os dois chegaram a fundar juntos o duo Agridoce, que era voltado à folk music).
Felicidade Instantânea, do CPM 22

O baixista Portoga deixou o CPM 22 pouco antes d’a banda paulistana começar a gravar o aguardado sucessor dos álbuns A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum (2000), CPM 22 (2001) e Chegou a Hora de Recomeçar (2002). Por isso, no início de 2005, o guitarrista Luciano Garcia foi quem gravou todas as linhas de baixo desse trabalho intitulado Felicidade Instantânea.
Na época, Badauí (Vocalista), Japinha (Baterista), Wally (Guitarrista) e Luciano Garcia (Guitarrista/Baixista) descreveram esse quinto álbum do CPM 22 como ‘’experimental’’, pois, pela primeira vez, a banda estava tocando em uma afinação mais baixa do que a padrão (para dar mais peso ao som e, ao mesmo tempo, facilitar os vocais de Badauí). Porém, apesar disso, a maioria dos ouvintes considerou que o repertório de Felicidade Instantânea não apresentou grandes alterações na sonoridade do grupo.
Algumas músicas do álbum foram taxadas como ‘’repetitivas’’ e a totalidade do repertório foi bastante descrita como ‘’mais irregular do que a dos três trabalhos anteriores da banda’’. Porém, ainda assim, Felicidade Instantânea ficou positivamente marcado pelo megassucesso das excelentes faixas Um Minuto Para O Fim Do Mundo, Irreversível e Apostas e Certezas – que renderam diversos prêmios importantes e estão, até hoje, entre as músicas mais clássicas do CPM 22.
O três hits citados foram essenciais para que, antes mesmo do término de 2005, Felicidade Instantânea vendesse mais de 100 mil cópias no Brasil – o que fez deste o único álbum brasileiro de rock a ganhar o certificado de ‘’Disco de Ouro’’, naquele ano.
Teoria Dinâmica Gastativa, do Forfun

Embora a sonoridade do Forfun tenha começado a incorporar gêneros como Reggae, Dub e Rap a partir do álbum Polisenso (2008), as origens do grupo carioca vêm do Pop Punk – e isso fica extremamente evidente, quando ouvimos o álbum de estreia Teoria Dinâmica Gastativa (2005).
Antes desse trabalho que completa 20 anos em 2025, a banda de Danilo Cutrim (Vocalista/Guitarrista), Rodrigo Costa (Vocalista/Baixista), Vitor Isensee (Vocalista/Guitarrista) e Nicolas Christ (Baterista) já havia lançado várias canções autorais na fita demo Das Pistas de Skate às Pistas de Dança (2003), mas tal registro chegou aos ouvidos de pouquíssimas pessoas, pois se tratava de um lançamento totalmente independente. Por esse motivo, quando o Forfun assinou contrato com o lendário produtor Liminha, em 2005, os quatro membros do grupo fizeram questão de reaproveitar algumas das músicas daquela demo, no álbum – as escolhidas foram História de Verão, Cara Esperto, O Melhor Bodyboarder da Minha Rua, Terra do Nunca, Seu Namorado É Um Cuzão e Constelação Karina, que, sob o comando de Liminha, acabaram ganhando regravações mais bem-produzidas e se tornaram hits.
Além disso, para completar a tracklist de Teoria Dinâmica Gastativa, o quarteto carioca ainda gravou 10 canções totalmente inéditas: El Blend, Valer a Pena, Blake Metal, Viva La Revolución!, 4 A.M, Mentalmorfose, V.I.P (Very Important Por Que) e os hits Hidropônica, Costa Verde e Good Trip.
Naquela época, a sonoridade das músicas autorais do Forfun se baseava totalmente na proposta pop punk/hardcore melódico de grupos como Blink-182, Charlie Brown Jr, CPM 22, Yellowcard, Sugar Kane, New Found Glory e Sum 41. Por consequência disso, Teoria Dinâmica Gastativa é um álbum de repertório bastante coeso/linear que, em 2005, acabou agradando, especialmente, aos ouvintes brasileiros jovens – e isso colocou o Forfun no ‘’hall’’ dos principais representantes do rock nacional dos anos 2000.
Imunidade Musical, do Charlie Brown Jr.

Em abril de 2005, os músicos Champignon (baixista), Marcão Britto (guitarrista) e Renato Pelado (baterista) decidiram deixar o Charlie Brown Jr simultaneamente, alegando que havia um clima insuportável entre eles e o vocalista Chorão, há bastante tempo. A saída conjunta desses três instrumentistas que pertenciam à formação original do Charlie Brown Jr. deixou Chorão completamente sozinho na banda, mas o cantor contornou bem essa situação difícil: em poucas semanas, ele conseguiu trazer de volta o guitarrista Thiago Castanho (que também fazia parte da formação original do Charlie Brown Jr, mas estava afastado do grupo desde 2001) e, para preencher as vagas de baixista e baterista, contratou Heitor Gomes e Pinguim Ruas, respectivamente. Com esse time de peso, o grupo ganhou continuidade, lançando o álbum de inéditas Imunidade Musical, em agosto de 2005.
Se os fãs possuíam alguma dúvida sobre se o Charlie Brown Jr. iria seguir entregando canções de qualidade sem Champignon, Marcão e Pelado, essa dúvida se esvaiu totalmente, após o lançamento de Imunidade Musical: o excelente repertório deste 7° álbum da banda trouxe os hits Senhor do Tempo, Ela Vai Voltar, Lutar Pelo Que é Meu, Aquela Paz e Dias de Luta, Dias de Glória, além de várias pérolas subestimadas – como É Quente, No Passo a Passo, Skate Vibration, Cada Cabeça Falante Tem Sua Tromba de Elefante (esta, gravada com participação especial de Rappin’ Hood), I Feel So Good Today e uma releitura reggae-rock do hino anti-ditadura Pra Não Dizer Que Eu Não Falei das Flores (original de Geraldo Vandré).
A maior parte do repertório de Imunidade Musical é resultado da parceria entre Chorão e Thiago Castanho (que se mostrou mais afiada do que nunca, neste álbum), mas Heitor Gomes também demonstrou ter uma sintonia criativa enorme com Chorão, ao compor os marcantes riffs de baixo das faixas Senhor do Tempo e O Futuro É Um Labirinto Pra Quem Não Sabe o Que Quer. O único membro dessa formação que não se adequou muito bem ao Charlie Brown Jr foi Pinguim Ruas – que atuou mais como um baterista contratado, não assinou nenhuma composição e saiu do grupo em 2008, após vários conflitos pessoais com o vocalista.
Muitas pessoas costumam descrever Imunidade Musical como ‘’o melhor álbum do Charlie Brown Jr.’’, devido ao evidente entrosamento que existia entre Chorão, Thiago Castanho e Heitor Gomes.
Em 2011, Champignon e Marcão Britto acabaram retornando à banda (o que não afetou a permanência de Thiago, mas causou a saída de Heitor em circunstâncias amigáveis). Porém, antes disso, o Charlie Brown Jr. ainda lançaria mais dois álbuns: Ritmo, Ritual e Responsa (2007) e Camisa 10 Joga Bola Até Na Chuva (2009) – onde Chorão seguiu sem deixar a peteca cair.
Sujeito Homem 2, de Rappin’ Hood

Em 2001, Rappin’ Hood chamou bastante a atenção ao lançar, em seu álbum de estreia Sujeito Homem, não somente canções pautadas no rap purista, mas também a inovadora faixa Sou Negrão – que foi gravada ao lado de Leci Brandão e ficou amplamente reconhecida como ‘’o marco zero do Samba-Rap’’ (fusão que se tornou ainda mais popular nas rádios brasileiras após Marcelo D2 lançar o álbum ‘’À Procura da Batida Perfeita’’, em 2003, muito influenciado pela estrutura sonora de Sou Negrão). Quando Rappin’ Hood percebeu que o seu pioneirismo havia criado uma nova tendência de mercado, o artista paulistano decidiu lançar mais raps com pegada tipicamente tupiniquim, em seu segundo disco de inéditas Sujeito Homem 2 (2005).
Neste álbum que completa 20 anos em 2025, fica evidente que Rappin’Hood mergulhou fundo na missão de mesclar o seu rap autoral, não somente com o samba, mas também com a MPB: durante as gravações de Sujeito Homem 2, ele colaborou com os ilustríssimos Caetano Veloso (em Rap Du Bom Parte II), Arlindo Cruz (em Muito Longe Daqui), Jair Rodrigues (em Disparada Rap), Zélia Duncan (em Zé Brasileiro), Dudu Nobre (em Se Toca), Gilberto Gil (em Axé), Maria Fernanda Luiz (em Tudo o Que eu Preciso), Mauro Sérgio (em Quanto Morros), Péricles e Thiaguinho (esses dois últimos em À Minha Favela) – sendo que boa parte desses cantores convidados não gravou refrãos originais para o disco, mas sim interpolações de clássicos como Odara (Caetano Veloso), Disparada (Jair Rodrigues) e Preciso Me Encontrar (composição de Cartola que, aqui, foi regravada por Zélia Duncan).
Sujeito Homem 2 traz um total de 12 faixas onde Rappin’ Hood funde o rap com ritmos de origem brasileira, sob a benção de nomes lendários do samba e da MPB. Porém, vale ressaltar que o repertório deste álbum também conta com 6 faixas que apostam em uma sonoridade de rap mais tradicional – são elas, Segundo Ato, Us Playboy, Ex-157, Tudo o Que Eu Preciso, Us Guerreiro e Eu Tenho Um Sonho (essas duas últimas, aliás, contam com a participação especial do filho de Rappin’ Hood, Martin).
Em suma, Sujeito Homem 2 é um trabalho que foi criado com o intuito de quebrar preconceitos, demonstrar o quão diversas são as possibilidades existentes dentro do rap e, consequentemente, fortalecer tal gênero dentro da cultura popular brasileira.
Aystelum, de Ed Motta

Nos anos 2000, Ed Motta ainda não havia parado de tentar enquadrar alguns de seus álbuns à cartilha comercial do mercado brasileiro de música, mas, ao mesmo tempo, o cantor carioca já fazia questão de alternar discos pop como Manual Prático Para Festas, Bailes e Afins (1997) com lançamentos do naipe de Entre e Ouça (1990) e Dwitza (2001) – que apresentaram canções que ele compôs por puro desejo criativo, com base no seu próprio gosto musical e sem preocupação alguma com o impacto comercial restrito que gêneros como o jazz possuem no Brasil. Por isso, dois anos depois de entregar o radiofônico Poptical (2003), Ed lançou o ousado Aystelum (2005).
Assim como Dwitza havia feito em 2001, Aystelum também apresentou várias faixas que iam contra o que Ed costumava chamar de ‘’ditadura da letra existente no mercado da música brasileira’’: como o sobrinho de Tim Maia nunca escondeu que considera letras de música um elemento estrutural menos importante do que instrumentais, timbres e melodias de qualidade, ele decidiu incluir, no repertório de Aystelum, as faixas Awunism, É Muita Gig Véi, Balendoah, Patidid, Aystelum e Guezagui – a primeira é 100% instrumental, enquanto as outras cinco são inteiramente cantadas em scat singing (recurso jazzístico que consiste no ato de fazer improvisações vocais cantando palavras aleatórias sem significado, apenas para utilizar a voz como instrumento melódico). Porém, a tracklist deste oitavo álbum de Ed Motta também apresentou 6 canções letradas: Pharmácias, O Musical Medley, Na Rua, Canção em Torno Dele, A Charada e Samba Azul (esta última conta com a participação especial de Alcione).
Quando escutamos Aystelum na íntegra, percebemos a presença de vários dos estilos que Ed aprecia: o repertório deste álbum apresenta elementos muito evidentes de Free Jazz (em Awunism, É Muita Gig Véi, Aystelum e Balendoah), Soul/Funk Music (em A Charada e Patidid), Samba-Jazz (em Pharmácias e Samba Azul), Soul-Jazz (em Guezagui) e, até mesmo, de trilhas sonoras dos musicais mais clássicos da Broadway (como Ed sempre foi um grande fã do lendário Stephen Sondheim, o cantor tijucano se inspirou nele para compor as faixas O Musical Medley, Canção em Torno Dele e Na Rua, ao lado de Cláudio Botelho. Em 2007, essas três músicas integrariam a peça ‘’7- O Musical’’).
No Brasil, o lançamento de Aystelum repercutiu de forma esperada: as vendagens foram modestas e o repertório do disco não emplacou nenhuma música nas rádios nacionais, por ter uma proposta bem distante do padrão mainstream daqui. Porém, este álbum recebeu diversos elogios da crítica especializada e foi muito bem-aceito entre os consumidores de música underground – especialmente por ouvintes estrangeiros (o que ajudou Ed Motta a consolidar a sua carreira internacional).
Cidadão Instigado e o Método Túfo de Experiências, do Cidadão Instigado

A discografia da banda cearense Cidadão Instigado teve início com um EP autointitulado (que foi lançado em 1998) e com o álbum de estreia O Ciclo da Dê.Cadência (2002). Porém, apesar desses dois trabalhos serem ótimos, nenhum deles repercutiu tanto quanto o álbum Cidadão Instigado e o Método Túfo de Experiências (2005), que veio em seguida.
Neste 3° lançamento, o grupo liderado por Fernando Catatau (vocalista/guitarrista/produtor musical que, naquela época, já era uma figura conhecida na cena nordestina) manteve a sua essência ao apostar, novamente, em uma sonoridade bastante alternativa e experimental que é impossível de ser enquadrada em um único gênero – ainda que este álbum seja um pouco mais contido que os dois lançamentos anteriores da banda.
Cidadão Instigado e o Método Túfo de Experiências conta com 8 canções que misturam rock psicodélico com gêneros variados (a exemplo de música eletrônica, Jazz e Samba-Reggae), mas também traz as lindíssimas baladas Te Encontra Logo e O Tempo – que inauguram uma aproximação da banda com o gênero ‘’Brega Romântico’’ e são bem mais palatáveis para as rádios que as demais faixas.
A leve guinada pop ocorrida neste terceiro álbum também fica ilustrada quando percebemos que ele conta com menos presença de Jazz Fusion que os dois trabalhos anteriores do grupo e não possui nenhuma faixa com mais de 7 minutos e meio de duração (diferente de O Ciclo da Dê. Cadência, que contém músicas que chegam a durar quase 12 minutos).
A qualidade e a originalidade presente em canções como O Tempo, Silêncio na Multidão, Te Encontra Logo, Apenas Um Incômodo, Os Urubus Só Pensam em Te Comer e O Pobre dos Dentes de Ouro fizeram com que Cidadão Instigado e o Método Tufo de Experiências se tornasse um dos álbuns nacionais mais elogiados de 2005. Isso aumentou a visibilidade da banda cearense dentro do cenário alternativo brasileiro e contribuiu para que Catatau se tornasse um músico/produtor ainda mais requisitado – a partir daí, ele passou a trabalhar constantemente ao lado de artistas como Los Hermanos, Arnaldo Antunes, Céu, Don L, Maria Bethânia e Juçara Marçal (ou seja, nomes oriundos de várias regiões do Brasil).
4, do Los Hermanos

Em 1999, o autointitulado trabalho de estreia do Los Hermanos apostou no Ska Punk, no Hardcore Melódico e, claro, no Pop Rock chiclete Anna Júlia. Porém, no álbum seguinte (Bloco do Eu Sozinho, de 2001), ficou evidente que o grupo carioca havia abandonado completamente tais propostas sonoras para se tornar uma banda de Indie Rock com fortes influências de MPB e Samba. Como era de se esperar, essa mudança radical dividiu opiniões entre os fãs que haviam gostado do álbum de estreia do Los Hermanos e afunilou o público que comprava os discos e comparecia aos shows do grupo, mas, mesmo assim, a banda de Marcelo Camelo (Voz/Guitarra/Violão/Baixo), Rodrigo Amarante (Voz/Guitarra), Bruno Medina (Teclados) e Rodrigo Barba (Bateria/Percussão) se manteve fiel ao Indie até o seu quarto (e último) lançamento de inéditas: o álbum 4 (2005).
Este trabalho que completa 20 anos em 2025 é, certamente o álbum mais divisivo da carreira do Los Hermanos, por ser quase que totalmente composto por canções extremamente melancólicas, arrastadas e introspectivas que possuem ainda menos apelo comercial que as músicas lançadas nos álbuns Bloco do Eu Sozinho (2001) e Ventura (2003). As únicas faixas de 4 que fogem de tal descrição são as enérgicas Horizonte Distante, Morena, Condicional e O Vento – sendo que essas três últimas foram escolhidas como os singles promocionais do disco, justamente por causa disso.
Até mesmo alguns dos maiores fãs do Los Hermanos alegam que a melancolia intensa de 4 torna este um álbum de difícil digestão. Porém, ainda assim, ele vendeu 50 mil cópias no Brasil e faixas como Morena, Condicional, Pois É e O Vento (maior hit deste disco) foram aclamadas pela maioria dos fãs – a ponto de terem sido inclusas em todas as turnês que o Los Hermanos realizou de 2005 para cá.
Vale lembrar que 4 navega por Indie Rock (em O Vento, Morena, Primeiro Andar, Os Pássaros, Horizonte Distante, Pois É, Condicional e É De Lágrima), música caribenha (em Paquetá) e MPB (em Fez-se o Mar, Dois Barcos e Sapato Novo), trazendo participações especiais de Fernando Catatau (autor do solo de guitarra de Fez-se o Mar) e Edu Morelenbaum (responsável pelo arranjo de sopros em Dois Barcos e Horizonte Distante).
Gates of Metal Fried Chicken of Death, do Massacration

Em 2002, o programa humorístico de televisão Hermes & Renato (que, naquela época, era exibido na MTV Brasil) passou a incluir um quadro recorrente onde os comediantes Bruno Sutter, Fausto Fanti, Marco Antônio Alves, Felipe Torres e Adriano Pereira interpretavam membros de uma banda fictícia de heavy metal chamada Massacration. Todas as aparições televisivas desses personagens batizados como Detonator (Bruno), Blondie Hammett (Fausto), Metal Avenger (Marco), Jimmy The Hammer (Felipe) e Headmaster (Adriano) satirizavam com muito exagero proposital os estereótipos comumente associados ao Metal e, ocasionalmente, apresentavam alguma música cômica criada pelos cinco humoristas.
De 2002 a 2004, não havia pretensão alguma de estender o Massacration para além da televisão, pois, embora todos os cinco envolvidos no projeto fossem grandes fãs de heavy metal, somente Bruno, Fausto e Marco eram músicos. Porém, o que começou como uma brincadeira acabou se tornando uma banda de verdade: em meados de 2004, o Massacration estreou nos palcos realizando um show descompromissado em uma festa de aniversário fechada de João Gordo, e isso fez com que o baterista Igor Cavalera (que estava presente naquela festa) convidasse o quinteto para abrir alguns shows do Sepultura (aliás, Igor gostava tanto do Massacration que tocou bateria com o grupo em todos esses shows, de forma voluntária). Após uma das apresentações dessa pequena excursão, veio o convite da Deckdisc para que a banda registrasse as suas canções de metal cômico em um álbum de estúdio.
Esse trabalho de estreia do Massacration foi produzido por João Gordo e chegou às lojas em outubro de 2005, com o título Gates of Metal Fried Chicken of Death. Atualmente, a tracklist deste álbum faz ele parecer uma coletânea – afinal, por mais que o grupo carioca tenha lançado outros dois álbuns de inéditas nos anos seguintes, faixas como Metal Is The Law, Evil Papagali, Metal Massacre Attack (Aruê Aruô), Metal Bucetation e Metal Milkshake foram apresentadas neste 1° disco e, até hoje, estão entre os hits mais famosos do Massacration.
Bruno Sutter (Vocalista), Fausto Fanti (Guitarrista) e Marco Antônio Alves (Baixista) foram os únicos responsáveis por compor as músicas do álbum, mas, na hora de gravar elas, o trio contou com colaborações, não somente dos músicos Fernando Lima (baterista presente em todas as faixas) e João Gordo (responsável pela voz macabra da Intro), mas também dos humoristas Sérgio Mallandro (presente em Metal Glu-Glu), Costinha (presente em The God Master) e Gil Brother Away (presente em Away Doom).
Embora o humor seja parte essencial de Gates of Metal Fried Chicken Of Death, este álbum também possui grandes méritos musicais: ele conta com uma sonoridade pesada surpreendente que é carregada pelos vocais agudos poderosos de Bruno Sutter e pelos ótimos riffs de guitarra criados pelo hoje saudoso Fausto Fanti (cujas influências principais eram grupos obscuros como Mercyful Fate e Annihilator). Mesmo assim, quando o disco foi lançado, vários fãs de metal mais tradicionalistas torceram o nariz e alegaram, de forma maldosa, que o Massacration tirava o espaço das ‘’bandas de verdade’’.
Apesar disso, Gates of Metal Fried Chicken of Death foi extremamente aclamado por todos os milhares de headbangers brasileiros que entenderam a pegada humorística do Massacration como um diferencial inventivo dentro do heavy metal – tanto que este trabalho teve uma vendagem de quase 50 mil cópias e venceu o Prêmio Dynamite de Música Independente, na categoria ‘’Melhor Álbum de Metal Brasileiro de 2005’’.
Cansei de Ser Sexy, do CSS: Cansei de Ser Sexy

Os EP’s Em Rotterdam Já É Uma Febre (de julho de 2004) e A Onda Mortal/Uma Tarde com PJ (de janeiro de 2005) fizeram com que o grupo paulista CSS: Cansei de Ser Sexy saísse do total anonimato e ganhasse uma certa visibilidade na cena underground. Porém, o sexteto formado por Lovefoxxx (Vocalista), Ana Rezende (Guitarrista), Carolina Parra (Vocalista de apoio/Multi-instrumentista) Luiza Sá (Guitarrista), Iracema Trevisan (Baixista) e Adriano Cintra (Baterista/Produtor Musical/Multi-instrumentista) só se tornaria um fenômeno da música alternativa mundial após o lançamento do seu primeiro álbum, em outubro de 2005.
Batizado simplesmente como Cansei de Ser Sexy e lançado através da gravadora Trama Virtual, este disco de estreia foi totalmente produzido por Adriano Cintra (principal mente criativa da banda, naquela época). Porém, a maior parte do repertório dele é resultado da parceria de Adriano com Lovefoxx (co-autora de 11 das 14 faixas).
O repertório incluiu as faixas Bezzi e Meeting Paris Hilton (que o grupo já havia lançado no EP Em Rotterdam Já É Uma Febre), mas também apresentou 12 canções totalmente inéditas – entre elas, estão os hits Alala, Superafim, Let’s Make Love and Listen to Death From Above, Off The Hook, Fuck Off Is Not The Only Thing You Have To Show, Acho um Pouco Bom e Music Is My Hot Sex.
A sonoridade de Cansei de Ser Sexy (2005) é constantemente descrita como ‘’Eletroindie’’, pois inclui elementos fortíssimos, tanto de música eletrônica quanto de Indie Rock – embora a presença simultânea desses dois gêneros não seja sempre em proporções igualitárias.
Este álbum foi lançado logo no início de outubro de 2005, mas só foi emplacar comercialmente em solo brasileiro três meses depois (mais especificamente, depois que o single Superafim foi incluso na trilha sonora da 6ª edição do Big Brother Brasil) e, ainda assim, o disco vendeu apenas 20 mil cópias por aqui. Porém, no mercado estrangeiro, Cansei de Ser Sexy foi um sucesso instantâneo: a inclusão da faixa Meeting Paris Hilton no reality show americano ‘’The Simple Life’’ impulsionou a divulgação da banda em vários países do mundo – e isso fez com que, em julho de 2006, o sexteto lançasse uma versão internacional do álbum, intitulada simplesmente como CSS. Essa nova versão trouxe apenas as músicas em inglês do disco original e vendeu mais de 60 mil cópias nos Estados Unidos e na Europa, muito graças aos singles Let’s Make Love and Listen to Death From Above (que alcançou o 32º lugar nas paradas britânicas) e Music Is My Hot Sex (que alcançou o 63° lugar nas paradas americanas).
Durante a turnê de divulgação deste álbum de estreia, o CSS foi a banda brasileira mais popular do cenário estrangeiro: de 2006 a 2008, o grupo se apresentou em vários países, passando, até mesmo, por festivais internacionais gigantes como o Coachella (EUA), o Glastonbury (Escócia), o Itunes Festival(Inglaterra), o Rock en Seine (França) e o Summer Sonic (Japão). Porém, isso não significa que o álbum Cansei de Ser Sexy tenha causado um impacto inexpressivo em solo nacional: por mais que o repertório deste disco não tenha marcado muita presença nas paradas mainstream daqui, ele foi bastante divulgado pela MTV Brasil e acabou sendo aclamado pelos brasileiros que apreciavam música alternativa – tanto que o CSS se tornou referência na cena Indie nacional, influenciando fortemente na moda e no comportamento de vários jovens brasileiros.
14 Álbuns que também merecem ser mencionados…

–Achados e Perdidos, do Curumin
–Futura, da Nação Zumbi
–Estudando o Pagode Na Opereta Segregamulher e Amor de Tom Zé
–Nossa Missão, do Natiruts
–No Gravity, do Kiko Loureiro
–Reason, do Shaman
–Pista Livre, do Cachorro Grande
–Acústico MTV, d’O Rappa (Ao vivo)
–Toda Cura Para Todo Mal, do Pato Fu
–Canções Dentro da Noite Escura, do Lobão
–O Que te Faz Feliz?, da Abril
–Ana & Jorge, de Ana Carolina e Seu Jorge (Ao vivo)
–Idem, do Móveis Coloniais de Acaju
–Grandes Infiéis, do Violins
(Seleção dos álbuns: Lucas Couto)