Emo Vive: uma noite histórica e que reacendeu as chamas de uma geração no Rio 

Se alguém ainda tinha qualquer dúvida se o comeback emo era real, o festival Polifonia mostrou toda a força de toda uma geração com a edição Emo Vive. Na última sexta-feira (6), a Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, virou um refúgio para muitos em meio ao caos da Lapa. Com shows do mae, Emery, Anberlin e Fresno previstos para começar a partir das 20h, a emoção de viver uma noite com grandes referências do movimento emo durou mais de 5h, mas parece ter passado em um piscar de olhos e deixou todo mundo querendo mais.

Essa é a primeira vez do mae no Brasil, banda formada em Virginia, nos Estados Unidos, em 2001. Eles tocaram o álbum The Everglow (2005) na íntegra, e, embora a casa de show ainda não estivesse tão cheia quando o grupo subiu no palco, o público presente soube representar muito bem o jeitinho caloroso e animado dos brasileiros. Músicas como Someone Else’s Arms, Breakdown, Cover Me e a faixa autointitulada fizeram a galera cantar, pular e estender os braços no ritmo do som. Foi uma ótima maneira de começar a noite e se preparar para a enxurrada de lágrimas e arrepios que viriam adiante.

Para a alegria dos fãs, o intervalo entre uma apresentação e outra foi bem curtinho, então não demorou muito para o Emery aparecer mostrando toda a sua potência. A banda norte-americana já havia se apresentado no Brasil uma vez em 2008, mas o vocalista Toby Morrell pareceu incrivelmente animado de retornar ao país e até comentou sobre o privilégio de tocar no festival. O álbum escolhido para formar o setlist foi o The Question (2005), que também celebra 20 anos este ano – mas, diferente do mae, o Emery não tocou o disco completo e incluiu outros grandes sucessos no repertório.

Nas primeiras notas de So Cold I Could See My Breath, música que abriu o show, já foi possível ver a empolgação da plateia. Muitos ali finalmente estavam realizando o sonho de ver a banda ao vivo, e em diversos momentos a entrega tanto do Emery quanto dos próprios fãs foi de arrepiar. Studying Politics foi um dos auges do show, mas a inclusão de faixas como The Party Song, do I’m Only a Man (2007), e The Ponytail Parades, do The Weak’s End (2004), também foram ovacionadas. Para fechar, o grupo ainda tocou Walls, também do The Weak’s End, com direito a uma grande rodinha punk bem próxima do palco e uma pessoa com deficiência sendo levantada pelo público.

Pouco antes das 23h, foi a vez do Anberlin subir no palco da Fundição e tocar o Never Take Friendship Personal (2005) na íntegra. O álbum originalmente conta com o vocalista Stephen Christian, mas foi regravado recentemente com Matty Mullins, do Memphis May Fire, nos vocais e foi muito bem recebido pelos fãs. Mullins assumiu a posição de frontman do Anberlin há dois anos, quando Christian decidiu parar de acompanhar a banda em turnês por tempo indeterminado.

Para quem sempre teve vontade de ouvir esse disco icônico ao vivo, foi uma noite muito especial. A faixa autointitulada já começou com a energia lá em cima, e a presença de palco de Mullins deixou tudo ainda mais excitante. Quando chegou a vez de Paperthin Hymn, então, a plateia vibrou com uma só voz. The Feel Good Drag foi outro sucesso aclamado e que fez todo mundo cantar, pular e vibrar. Parece que a cada música tocada a euforia só aumentava, até chegar ao ápice, que foi Dance, Dance Christa Päffgen. Épico. E não parou por aí! Se já estava tudo perfeito, o Anberlin ainda foi além e incluiu The Resistence, do New Surrender (2007), e Godspeed, do Cities (2006) no encore. Além disso, a banda também tocou High Stakes, single lançado em 2024 com Mullins.

Com o término da apresentação do Anberlin, finalmente chegou a hora mais esperada por muitos ali: a Fresno tocando músicas dos seus três primeiros discos. Durante os outros shows, foi possível ver o vocalista Lucas Silveira e o guitarrista Gustavo Mantovani (Vavo) assistindo tudo de camarote no segundo andar da Fundição. Uma atitude não apenas de respeito, mas de admiração mesmo por todas as bandas com quem eles estão compartilhando o palco neste festival. Afinal, assim como o próprio Lucas lembrou em um determinado momento da noite, se a Fresno existe hoje é graças a influência do mae, Emery e Anberlin, que sempre foram grandes referências para o grupo. 

A primeira parte do setlist foi dedicada ao álbum Quarto dos Livros (2003). Começou com Teu Semblante, e já deu uma palhinha do que viria a seguir: muitas lágrimas, muita emoção e uma verdadeira viagem de volta ao passado com músicas que moldaram emos de todo o país. Em seguida, Se Algum Dia Eu Não Acordar abriu espaço para um respiro e preparou o público para um dos momentos mais aguardados da noite: Stonehenge. “Você não merece tudo que eu ouso sentir” é uma frase que perfura e que mexe com qualquer pessoa que já passou por alguma desilusão amorosa.

Então chegou a hora do segundo disco, O Rio, A Cidade, A Árvore (2004). Onde Está foi a música que deu início ao repertório, com o público cantando em coro. Mas foi quando tocou Evaporar, uma das faixas mais aclamadas da Fresno do Velho Testamento, que ficou claro porque essa é considerada a melhor banda do Brasil por muitos: a conexão entre os fãs e o grupo parece ser algo de outro mundo. Em vários momentos, a plateia cantava tão alto que era até difícil ouvir o Lucas cantar. Para fechar a segunda parte do set, eles ainda tocaram Duas Lágrimas e Verdades Que Tanto Guardei.

Já se encaminhando para o final do show, a Fresno entrou na última parte do set, que celebrava o Ciano (2006). O palco assumiu tons de azul, e a primeira música tocada foi A Resposta. Curiosamente, em seguida Lucas acabou retornando para o primeiro álbum e cantou Cartas, antes de seguir com Alguém Que Te Faz Sorrir, Absolutamente Nada e O Que Hoje Você Vê. Foi então que chegou a hora de um dos maiores hinos da Fresno que fez até a Fundição Progresso estremecer: Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco Das Minhas Lágrimas. Todos cantando em uníssono do início ao fim, transformando aquele pequeno espaço em um verdadeiro templo do emo. No gran finale, não podia faltar Quebre As Correntes para fechar essa noite histórica com chave de ouro.