O Turnstile está de volta. Quatro anos após o aclamado GLOW ON, a banda de Baltimore lança seu quarto álbum de estúdio, Never Enough, marcando uma guinada sonora que deve surpreender fãs antigos e atrair novos ouvintes. Com menos de 50 minutos, o projeto deixa o hardcore em segundo plano para explorar, com coragem, influências do new wave e do indie rock.
A trajetória da banda é notável: surgida no início dos anos 2010 na cena hardcore americana, o Turnstile se destacou com EPs explosivos e os álbuns Nonstop Feeling e Time & Space — este último lançado pela Roadrunner Records —, que consolidaram sua identidade agressiva e crua. Mas foi com GLOW ON, em 2021, que o grupo deu um salto artístico e comercial: uniu punk, dream pop e ambient music em uma fórmula inédita, alcançando o grande público, ganhando indicações ao Grammy, capas de revista e turnês internacionais.
Essa fase consagrou a banda, que passou a dividir palcos com nomes como Blink-182 e a conquistar uma base sólida de fãs também no Brasil, com shows caóticos no Lollapalooza 2022 e em casas lotadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ainda assim, a pergunta era inevitável: como superar ou suceder um disco tão marcante como GLOW ON?

Never Enough, lançado em 6 de julho, é a resposta, e ela vem em forma de reinvenção. Se o disco anterior partia do hardcore para flertar com o indie, aqui a equação se inverte: estamos diante de um álbum essencialmente indie, que apenas visita suas raízes mais pesadas. Os sintetizadores ganham protagonismo, as melodias são mais suaves e acessíveis, e a produção é mais limpa e expansiva. Há refrões pensados para arenas, uma atmosfera menos urgente e uma clara vontade de abrir novos caminhos.
O single de estreia, NEVER ENOUGH, já entrega essa nova proposta com uma introdução ambiente e seções melódicas que lembram MYSTERY. Em faixas como SOLE e DREAMING, essa sensação de déjà vu é proposital: a banda acena para o passado, mas desloca os elementos para novos contextos. A grande virada, no entanto, está em I CARE, com estrutura inspirada no new wave dos anos 1980 e guitarras que ecoam The Cure e The Police. O baixo de Franz Lyons, apesar do talento evidente, muitas vezes desaparece na mixagem, talvez reflexo da nova formação, com Meg Mills oficialmente na banda, mas ausente nas gravações.
Ainda assim, há faixas que mantêm a energia crua como estamos acostumados. LIGHT DESIGN, DULL e SUNSHOWER são intensas, diretas e remetem ao som pré-GLOW ON, mas com uma produção mais robusta. Em LOOK OUT FOR MORE, a banda ousa ainda mais: mistura riffs pesados com bateria quase industrial, samples da série The Wire e uma atmosfera que beira o eletrônico europeu. Funciona. É um dos momentos mais criativos do disco.
A reta final do álbum traz SEEIN’ STARS com uma sutil contribuição vocal de Hayley Williams, servindo como um interlúdio antes da explosiva BIRDS, que condensa em dois minutos toda a urgência e fúria do Turnstile clássico com roupagem moderna. Já o encerramento, dividido entre SLOWDIVE, TIME IS HAPPENING e MAGIC MAN, aponta definitivamente para a nova fase: uma despedida ambiente que mostra onde a banda quer chegar.
No fim das contas, Never Enough é um sucessor lógico de GLOW ON: um álbum que capitaliza o sucesso anterior, mas busca ir além. Em alguns momentos soam como extensões do trabalho anterior, mas demonstra coragem ao abraçar novas sonoridades. Quem chegou ao Turnstile pelo último disco provavelmente verá aqui uma continuação natural. Já os fãs mais ligados à veia hardcore podem estranhar. Mas é inegável: a banda está olhando para frente – e o novo horizonte parece promissor.