A apresentação que os brasileiros mais querem assistir no quarto (e último) dia do festival Best of Blues and Rock 2025 é, inegavelmente, a do icônico grupo britânico Deep Purple – que está escalado para encerrar o evento com chave de ouro, a partir das 20 horas e 20 minutos. Porém, neste texto, nós iremos convencer vocês de que, no dia 15 de junho, valerá muito a pena chegar no Parque Ibirapuera algumas horas antes disso, para conferir o show de Judith Hill.
Muitos não associam o nome à pessoa de forma imediata, mas Judith já cantou com vários gigantes da música mundial: de 2001 a 2008, ela foi se firmando aos poucos no ramo, exercendo a função de backing vocal para artistas como Robbie Williams (no álbum Intensive Care), Michel Polnareff (na turnê Ze(ro) 2007) e Evelyn ‘’Champagne’’ King (no álbum Open Book), mas o grande ponto de virada na carreira dela aconteceu quando ninguém menos do que Michael Jackson a selecionou para ser backing vocal na turnê This Is It, que aconteceria em 2009. Embora tal turnê tenha sido cancelada antes mesmo de começar (uma vez que Michael morreu de overdose, duas semanas antes do início dos shows), os ensaios dela foram registrados em vídeo e acabaram sendo lançados no DVD documental Michael Jackson’s This is It. Com isso, milhões de pessoas puderam assistir Judith se destacando em I Just Can’t Stop Loving You – canção onde ela fez dueto com o Rei do Pop, durante a preparação para os shows que acabaram nunca acontecendo. Porém, antes mesmo desse DVD ser lançado, a família de Michael escalou Judith para cantar o hit Heal The World no velório do lendário artista – e a incrível performance vocal dela foi televisionada em tempo real, para o mundo inteiro.
Confira ela cantando com Michael Jackson:
Judith, então, se tornou uma cantora bastante requisitada: de lá para cá, ela não somente foi chamada para trabalhar com Stevie Wonder (em alguns shows realizados em 2011), Elton John (nos álbuns The Union e Diving Board), Rod Stewart (no álbum Soulbook), Eric Clapton (no single How Could We Know), George Benson (no álbum Inspiration: A Tribute to Nat King Cole), Incubus (no EP Trustfall Side A), Gerard Way (no single Here Comes The End), Gregg Allman (no álbum Low Country Blues), Hozier (no álbum Wasteland, Baby!) e vários outros artistas renomados, como também passou a ser contratada para fazer shows-solo e para contribuir em diversas trilhas de cinema – Judith gravou backing vocals para os filmes ‘’Happy Feet 2’’ (2011), ‘’O Lórax: Em Busca da Trúfula Perdida’’ (2012) e ‘’Rocketman’’ (2019), mas a sua contribuição mais expressiva foi na trilha sonora de Red Hook Summer (2012): a pedido do diretor Spike Lee, ela cantou sozinha todas as 10 músicas originais presentes neste filme e, ainda por cima, foi a responsável pela composição de cada uma delas.
A trilha original de Red Hook Summer foi o que lançou Judith Hill como uma cantora de Soul/Funk Music autoral e, poucos meses depois, dois ocorridos estabeleceram ela ainda mais firmemente no mercado da música: em 2013, a artista apareceu no multipremiado documentário 20 Feet to Stardom (que contou a história dela e de várias outras backing vocals que acompanhavam artistas renomados) e, no mesmo ano, ela se inscreveu na 4ª edição americana do programa The Voice, para continuar investindo em visibilidade – Judith terminou a competição em 7° lugar, mas os holofotes proporcionados pelo talent-show renderam a ela um convite para abrir alguns shows de John Legend, um contrato com a Sony Music e, o mais importante de tudo: a atenção de Prince.
Durante uma entrevista concedida na época da 4ª temporada do The Voice, Judith revelou que trabalhar com Prince era o seu ‘’maior sonho’’ e, quando o genial autor de Purple Rain soube dessa declaração, ele, logo, convidou a cantora para uma festa que aconteceria em sua gravadora Paisley Park. Lá, os dois se conheceram pessoalmente e, eventualmente, acabaram entrando no acordo de que Prince seria o produtor musical do 2° disco de Judith. Assim, logo no início de 2015, o espetacular álbum Back in Time foi lançado, trazendo 11 composições autorais da cantora que contaram com grandes contribuições de Prince: ele não somente foi produtor e co-arranjador deste trabalho, como também gravou a maior parte das guitarras, contrabaixos, baterias e vocais de apoio presentes nele.
Ouça uma das faixas do álbum Back In Time:
Durante as gravações de Back In Time, a parceria profissional entre Judith e Prince acabou evoluindo para um relacionamento amoroso que durou até a morte do cantor acontecer, em abril de 2016. Porém, antes dessa tragédia causada por uma overdose acidental de medicamentos, os dois ex-namorados chegaram a trabalhar juntos mais uma vez, gravando em dueto a canção Million $ Show – que foi lançada no penúltimo álbum de Prince, Hit n’ Run Phase One (2015).
Mesmo depois de perder o importante suporte de Prince, Judith não desistiu de ter uma carreira na música autoral: de 2016 para cá, a discografia da cantora se expandiu bastante, não somente através dos álbuns de inéditas Golden Child (2018), Baby, I’m Hollywood (2021) e Letters From a Black Widow (2024), mas também através dos singles Footsteps (2018) Upside (2019), In The Air Tonight (2020), Thank You (2020) e Right Here, Right Now (2023), que foram lançados isoladamente. Assim como a trilha original de Red Hook Summer (2012) e o álbum Back In Time (2015), esses trabalhos são amplamente reconhecidos como grandes joias da Black Music moderna.
As canções autorais de Judith Hill são majoritariamente pautadas pela Soul Music e pelo Funk americano, mas também apresentam influências fortes vindas do Jazz e do Blues. Embora o trabalho da artista não se enquadre tanto aos padrões da música mainstream atual, Judith é um nome extremamente aclamado dentro da cena alternativa/underground mundial.
A única vinda anterior da cantora ao Brasil aconteceu em 2011, quando ela fez backing vocals para Stevie Wonder, em um show único no palco Mundo do Rock in Rio. Ou seja, a apresentação que Judith Hill realizará 18 horas e 50 minutos, durante o último dia do festival Best of Blues and Rock 2025, será a grande estreia solo dela, em nosso país.