O avesso do avesso do avesso do avesso – Livro destrincha a relação entre Caetano e BandaCê
Lado C. ‘C’ de Caetano, de BandaCê, de álbum Cê, de um lado que vem depois do B, ou seja, a reinvenção da reinvenção. Ou, para ficar dentro do universo “caetânico”, podemos dizer que o ‘Lado C’ em questão é a confirmação de que Caetano Veloso é mesmo o avesso do avesso do avesso do avesso de si mesmo. Mas, antes de falar sobre a BandaCê e tudo mais, uma ressalva importante: Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes, os autores do livro “lado C: a trajetória musical de Caetano Veloso até a reinvenção com a bandaCê”, já de cara, desde o começo, acenam (conscientemente ou não), para a atualização da questão levantada pela professora Liv Sovik, em 2018, quando, ao falar sobre o Caetano enquanto objeto de pesquisa, diz que o artista “comenta seu próprio mundo, de tal forma que o torna mágico, e esse mundo, por sua vez, lança holofotes sobre o Artista. […] a visão do mundo e o retrato de Caetano se confrontam e se confundem, empatando quem tenta se aproximar e separar obra e artista.”
De fato, se tratando de Caetano, é impossível separar obra e artista. Os autores entenderam e souberam aproveitar isso muito bem. A sensação que dá, ao ler o livro, é que nós, os leitores, estamos ali junto com Caetano – seja nos estúdios de gravação ou pelas estradas Brasil e mundo afora, nas turnês sempre agitadas e, muitas vezes, recheadas de momentos inusitados e engraçados. Bom, voltemos ao início. E, aqui, cabe uma brevíssima explicação. A BandaCê, para quem não sabe, foi uma banda idealizada por Caetano, em 2005, e que contava com os músicos Pedro Sá (guitarrista e produtor), Marcelo Callado (baterista) e Ricardo Dias Gomes (baixista e tecladista) – todos trinta ou quarenta anos mais novos que Caetano. Juntos, numa espécie de aproximação com a ideia de uma “banda de garagem”, eles criaram uma linguagem musical nova que caminhava pelo indie rock/rock alternativo – o “transrock” e o “transamba”. O que os autores chamam de “reinvenção com a BandaCê” é, em resumo, esse reencontro de Caetano com o experimentalismo musical (e por que não, também, comportamental?) e a sua renovação de público, esse contato direto, intenso e dialético com a juventude dos anos 2000 e 2010.
“Mas não é isso que Caetano faz desde sempre? Se reinventar?” – você pode estar se perguntando. Sim – te respondo. De fato, essa palavra parece mesmo estar no DNA do artista. De devoto de João Gilberto em “Domingo” (1967) a tropicalista em “Caetano Veloso” (1968), experimentalista em “Araçá Azul” (1973), puxador de trio elétrico em ‘Muitos Carnavais’ (1977) e cantor “pop” em “Caetanear” (1985), Caetano sempre teve essa pulsão de vida pela transformação – que, ao longo da década de 1990, parecia não estar se perdendo, mas se escondendo, digamos, ficando adormecida. Fazendo shows com orquestras e produzidos com elegância por Jaques Morelenbaum, se quisesse, Caetano poderia tranquilamente entrar na velhice em velocidade de cruzeiro, com o céu limpo, azul e tranquilo, vestindo roupa social e cantando somente sucessos. O jogo já estaria ganho para sempre. Mas não seria o Caetano. A reunião com os meninos da BandaCê foi, naquele começo de década, para o artista, seguindo nessa metáfora do jogo, como um time que entra renovado para o segundo tempo, partindo para o tudo ou nada. Essa metáfora, na verdade, talvez não seja das melhores. Caetano, em recortes de entrevistas mostrados no livro, definitivamente não estava preocupado em “ganhar” nada e nem em “perder” fãs que se assustassem com seu novo som, mas somente ser fiel aos seus desejos artísticos. “O artista não deve procurar ser o que o público pensa que ele é”, disse, à época da divulgação do primeiro álbum com a banda, o ‘Cê’.
Juntos, Caetano e a BandaCê fizeram três álbuns – “Cê” (2006), “Zii e Zie” (2009) e “Abraçaço” (2012) -, a chamada “trilogia Cê”, todos com gravações ao vivo de CD e DVD e turnês nacionais e internacionais. As correlações entre esses trabalhos de Caetano e outros mais antigos como “Transa” (1972) e “Livro” (1997), e com outras bandas também, como a Outra Banda da Terra e a Banda Nova, recheiam o livro e dão as pistas para entendermos a mente criativa de Caetano: um artista inquieto, com as antenas sempre ligadas e que, como bem disse o Le Monde em resenha do show de ‘Zii e Zie’, em 2010, num festival em Paris, adora “desconstruir os fundamentos”. Ao descobrirmos as referências e inspirações que culminaram na trilogia Cê, como o álbum “Pixies at the BBC” (1998), da banda norte-americana Pixies, conseguimos entender o que está por trás, na estrutura das coisas, e entramos na cabeça do Caetano – mesmo que de mentira, mesmo que só um pouco. Alcançamos, assim, ao menos uma tentativa de pensar como o artista. Tarefa, é claro, bem difícil.
O interessante, também, para quem assim como eu é muito fã do Caetano e acompanha seu trabalho, é, ao ler sobre a BandaCê, pensar no Caetano de hoje, com 80 anos, que ainda dá muitas entrevistas e faz muitos shows, e lembrar do “Meu Coco” (2021), seu álbum de estúdio mais recente, lançado quase dez anos depois de “Abraçaço”. Pensamento confirmado pelos autores, que, no epílogo, traçam diretamente esse paralelo. As influências, rupturas e descobertas musicais e comportamentais da trilogia Cê, definitivamente, vieram na trajetória de Caetano para ficar e para comprovar – acredito que eternamente – a relevância sempre atualizada de Caetano não somente para a música, mas para o Brasil como um todo. O “”Meu Coco”, o coco do Caetano, seguindo essa faísca de transformação que não acaba, mas se transmuta, está aí e segue aberto (sempre aberto!), para quem quiser entrar.
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