Rapsódia de uma Rainha Como Queen criou a Maior Ópera Rock do Mundo!
Você já ouviu essa canção pelo menos uma vez.
Provavelmente não foi nada parecido com o que você já ouviu antes. Estamos falando sobre o lendário single da banda Queen “Bohemian Rhapsody”, uma canção que, mesmo 40 anos depois, é uma das mais memoráveis e influentes da nossa geração. Mas você já pensou porque esse single de seis minutos que ninguém imaginou que seria um sucesso se tornou uma das músicas mais famosas já escritas?
“Bohemian Rhapsody” foi uma canção há muito tempo em construção, que oficialmente começou a ser produzida no verão de 1975, quando Freddie Mercury começou a escrevê-la como uma peça operística intitulada “Real Life”. Após o sucesso de seu último álbum “Sheer Heart Attack”, o Queen recebeu total liberdade criativa e controle sobre sua próxima peça. E é óbvio que eles tomaram essa liberdade criativa e deram asas à criatividade.
Qualquer pessoa que ouça “Bohemian Rhapsody”, pela primeira vez, sente uma estranheza. Ela tem um efeito raro nas pessoas. Você sente como se não tivesse ouvido nada parecido antes. É o tipo de canção que faz você parar o que está fazendo e se perguntar, “Que P#&%@ é essa?” Pouquíssimas canções fazem isso. Essa faz.
“Bohemian Rhapsody” foi diferente para sua época e ainda é hoje. Ao contrário da maioria dos hits pops que duram cerca de três minutos, foi um single pop de seis minutos que tem uma ópera.
Uma ópera!
Uma ópera bem no meio da música. Uma canção que conseguiu se tornar uma parte onipresente da cultura, é algo que nunca sai do rádio e nunca vai parar de ser cantado nos karaokês e bares. Usada em filmes, e está em todos os lugares, porque ninguém ainda fez nada que soe assim. Um dos motivos é sua estrutura.
Na sua estrutura, “Bohemian Rhapsody” soa muito diferente. A canção não é nem um a capella, uma balada, uma ópera ou um rock. É, na verdade, todas essas influências em apenas uma canção. Ela evolui uma tradição do que é chamado de Suite na música pop, o que significa que ela não é uma canção contínua. Não têm verso, coro, verso, coro e estrutura de ponte que é a norma agora e também era em 1975. Ela é uma mistura homogênea de canções diferentes na sua essência. Na verdade, dizer que “Bohemian Rhapsody” é uma canção, é um termo impróprio. Ela é três ou quatro canções em uma só.
“Bohemian Rhapsody” pode ser dividida em cinco seções diferentes:
Uma introdução a cappella,
“Is this the real life…”
Uma balada,
“Mama…”
Ópera,
“Thunderbolts and lightning “ “ Very very frightening me “
Hard rock,
“So you think you can stone me and spit in my eye…”
Por último, um CODA reflexivo.
“Nothing really matters…”
Também era muito incomum para um single pop não incluir um coro, enquanto combinava diferentes estilos musicais e letras. É por definição uma transição de gênero. Essa inovação começou no meio dos anos 60. Começou basicamente com os Beach Boys e The Beatles.
Essas canções acima são consideradas épicas. Elas uniram ideias diferentes em um todo coesivo. Queen, em “Bohemian Rhapsody”, pegou essa ideia e a elevou ao topo. A letra nomeia personagens do teatro clássico Italiano, cita o Alcorão e o demônio Belzebu. A parte que parece que estamos num coro enorme de pessoas cantando? Eram apenas três pessoas. Freddie Mercury, o baterista Roger Taylor e o guitarrista Brian May. Não são apenas os vocais. Têm harmonia em toda parte, até mesmo nos instrumentos que parecem ecos. Essa técnica foi fortemente inspirada por um método de produção chamado “Parede de Som” desenvolvido em 1960 pelo produtor Phil Spector. A técnica funcionava da seguinte forma: Ele colocava uma quantidade de músicos em apenas uma sala. Três pianistas, por exemplo, tocam a mesma parte, mas em instrumentos similares, como um piano elétrico ou o cravo e gravando-os ao mesmo tempo para criar um som que nunca foi ouvido antes. Foi exatamente isso que o Queen fez.
Quando as pessoas falam dessa canção, elas também falam da produção. Para conseguir o som que eles queriam, Queen usou uma técnica conhecida como “reduction mixing”, também chamado de gravação ping pong. A maioria das canções que você ouve hoje usa várias faixas de áudio, cada faixa reservada para instrumentos e vocais diferentes combinados para fazer uma canção. Naquela época, a tecnologia limitava a quantidade de faixas de áudio que podia ser usada. Por exemplo, a canção “Sgt. Pepper’s” do The Beatles foi gravada numa gravadora de quatro faixas análogas. Para encaixar mais do que quatro faixas em uma quatro faixas, eles gravavam todas as quatro faixas e depois jogavam todas as faixas dentro de uma faixa, gravavam, jogavam novamente, e, repetiam o processo. Jogar as faixas numa só faixa combinava todas as faixas em uma só, fazendo com que aumentasse o som daquela faixa particular, assim, aumentando o volume de todas as partes individuais dentro daquela faixa. Parte do desafio desse processo é que você tem que se comprometer com o mix, com a fusão de tudo que você tocou, você tinha que prever e ter uma imagem clara de onde você estava indo. Quando Queen fez “Bohemian Rhapsody”, nós estávamos em 24-faixas. Pelo padrão de hoje, são poucas faixas. Eles tinham uma certa quantidade de vocais e uma certa quantidade de guitarras. Eles colocaram 180 faixas individuais dentro de um 24-faixas. Qual o problema? Se você errar, não tem como voltar atrás nesse processo, como fazemos hoje. O processo é físico e muito complexo para explicar, mas todo corte era feito como uma peça de edição de cinema. Você cortava a fita e cortava aquilo que você queria que saísse. Hoje é tudo mais fácil digitalmente. Você corta na tela. Tudo hoje é anti-destrutivo. Tudo que eles fizeram era destrutivo, então necessitava de compromisso, muito conhecimento e um nível de habilidade profundo e muito, muito intenso para juntar tudo isso e soar mais macio. O nível da qualidade técnica fica mais evidente quando você remove os instrumentos e deixa só os vocais.
Antes dos The Beatles e Beach Boys, uma canção era apenas uma canção. Em um piano, “Bohemian Rhapsody”, tocada do início ao fim, parece selvagem. Mas você não diria que seria um sucesso que duraria 40 anos. Tudo graças ao som que eles criaram.
E, claro, atrás da canção tem o homem que a canta, Freddie Mercury.
De acordo com Brian May, essa era uma canção que estava “toda na cabeça do Freddie” antes mesmo de ser começada a gravar. Freddie Mercury disse numa entrevista que a canção era um “experimento de som”. Eu gosto de interpretar que o experimento era feito para saber se o que estava na sua cabeça, suas concepções, poderiam sair de lá. Não é o tipo de experimento que alguém apenas entra no estúdio para saber o que vai acontecer. Ele era famosamente estrito com produção, notas, arranjos e som. O som que estava dentro da cabeça dele. O experimento era para ver se algo único poderia se tornar… som. Essa gravação é uma extensão oral da autoconsciência de Freddie Mercury sem nenhuma vergonha. É música, de alguma forma fazendo com que a sua sensibilidade saia do armário.
Como artista, não havia um Freddie Mercury antes de Freddie Mercury. Além de todas as notas, letras e performances, o que realmente faz “Bohemian Rhapsody” grande é que ele encarna o que toda peça musical deve ser: o talento e a unidade para empurrar os limites e criar algo
que nos une, mesmo 40 anos depois. Em um tempo onde as músicas pops geralmente soam iguais, talvez seja por isso que ainda não conseguimos parar de ouvir “Bohemian Rhapsody”.
Com apenas esta música, Freddie Mercury e Queen se tornaram algo que poucos artistas conseguiram alcançar: uma lenda.