Fall Out Boy – So Much (For) Stardust
Em 24 de março deste ano o Fall Out Boy lançou o álbum So Much (For) Stardust, prometendo um trabalho sincero que conversa com os antigos fãs e que é muito mais focado em trazer uma identidade própria – e ao mesmo tempo conhecida – para quem já é familiarizado com a sonoridade da banda.
Com o oitavo disco de estúdio, o quarteto retorna para a gravadora Fueled by Ramen, responsável também pelo álbum Folie à Deux (2008). As similaridades entre ambos os projetos, apesar dos 15 anos que os separam, não param por aqui.
Em entrevista para a Rolling Stone britânica, Patrick Stump, o cantor, além de ressaltar a semelhança com Folie à Deux, também explicou que Neal Avron – encarregado pela produção dos quatro primeiros álbuns da banda – retornou para o novo LP: “Eu queria esse sentimento que eu tive com o ‘Folie’ de novo, então todo o projeto conseguiu se auto-guiar muito bem. Nós não estávamos preocupados com as influências externas ou em fazer hits”, explica Stump. “Não é um álbum de rock. É um álbum da mesma banda que fez o Folie à Deux.”
E, de fato. Deixando de lado muitos dos elementos que marcaram a trajetória do Fall Out Boy em Save Rock And Roll (2013), American Beauty/American Psycho (2015) e MANIA! (2018), como o rock eletrônico presente, principalmente, no disco de 2018, So Much (For) Stardust pode ser descrito como um álbum de pop punk. E, também, traz muito da sonoridade “emo” que a banda cultivou em seus primeiros anos e muitas referências ao R&B e disco.
O LP começa com os dois singles escolhidos pela banda. Love From the Other Side conta com uma estrutura completíssima, característica que se apresenta como uma constante no álbum. Além do baixo, guitarra e bateria, instrumentos comuns nos arranjos de pop punk, as melodias são integradas por pianos e violinos.
A letra engata bem como lead single e como abertura do álbum, já que busca uma tratativa relacionada a uma síndrome do impostor, muito provavelmente um sentimento comum à banda após o lançamento do último álbum, MANIA!, que não conseguiu sucesso do público e fugiu bastante da sonoridade mais “roqueira” do Fall Out Boy. A impressão que dá é a busca por um recomeço com este álbum sendo lançado como subsequente do Folie à Deux em um “universo paralelo”.
Muito do LP fala sobre o sentimento de crescer e amadurecer. Afinal, é comum que composições de músicas enquadradas no pop-punk discorram sobre a adolescência, rebeldia, vida escolar e outros tópicos universais ao gênero. Em Hold Me Like a Grudge isso vem à tona, assim como em Flu Game, que busca uma perspectiva mais ligada ao medo de envelhecer, como se fazer um álbum mais parecido com os primeiros fosse uma tentativa de comprovar que eles ainda conseguem entregar pop punk de qualidade e “o som que os fãs esperam”.
Apesar do álbum todo proporcionar um sentimento de felicidade, musicalmente, as letras puxam para temáticas mais densas, com a banda se utilizando de elementos clássicos do ritmo proposto à obra para oferecer um ar mais descontraído. Fake Out e Heaven, Iowa provocam o exato sentimento produzido por um diálogo informal com um amigo que introduz os relatos mais deprimentes sobre sua vida pessoal antes de convidar o interlocutor para uma cerveja no bar mais próximo, proporcionando uma impressão de familiaridade e proximidade.
Além disso, So Much (For) Stardust referencia o cinema do início ao fim, seja através dos títulos das músicas, trechos das letras, diálogos explícitos e capas de singles replicando cartazes de filmes, como em I Am My Own Muse, traz uma versão própria do pôster promocional de Amadeus, de 1984. Mais do que isso, a participação da London Metropolitan Orchestra traz uma atmosfera cinematográfica para o álbum, com altos e baixos e uma dramaticidade instrumental dignos de trilha sonora.
The Pink Seashell é um diálogo de Ethan Hawke no filme Caindo na Real (1994), o que torna a faixa a mais experimental do álbum todo. O personagem de Hawke fala sobre como seu pai nunca esteve presente para ele, mas, quando descobriu que tinha câncer, tentou uma reaproximação com o filho e o entregou uma concha rosa, falando que, dentro dela, estavam todas as respostas sobre questões da vida. Quando o personagem percebe que a concha é vazia, ele assume que a vida não tem sentido, e, por isso, passa a aproveitar as coisas simples. Essa sensação é, aliás, um tema central em vários momentos do disco.
As referências citadas só mostram como So Much (For) Stardust é um lançamento visceral do Fall Out Boy, em que eles colocaram seus íntimos à mostra para a audiência através de uma reinvenção dentro da própria “comodidade” – apesar da alusão parecer contraditória – justamente porque já conquistaram o sucesso anos atrás. Músicas como The Kintsugi Kid (Ten Years), que referencia uma técnica japonesa de consertar objetos com cola e ouro, falam sobre o histórico dos membros do Fall Out Boy na luta contra problemas de saúde mental, algo que piorou após a pandemia de COVID-19.
Como penúltima música do LP, What a Time To Be Alive eleva o tom instrumental para algo mais dançante, com referência direta à disco music oitentista dentro do multiverso Fall Out Boy. A faixa — e todo o álbum, na verdade — transita nessa sensação que ouvimos o nostálgico, mas, ao mesmo tempo, futurista. Próximos ao fim do álbum, a banda faz uma ode à vida, um agradecimento principalmente após o que a humanidade vivencia desde 2020, já que ainda convivemos com as consequências da pandemia.
Por fim, a última canção, que deu o nome ao álbum, abaixa o tom bruscamente, num gesto também perceptível em outros fragmentos do projeto. A faixa traz um piano quase fúnebre para acompanhar uma letra pessimista, que contrasta com What a Time To Be Alive – já que estão dispostas uma após a outra –, que reflete sobre o pedestal que a humanidade se coloca apenas por ter sua origem em “pó de estrela”, uma referência científica e etérea ao mesmo tempo, então reforçada pelo coral presente.
So Much (For) Stardust é um álbum que soa nostálgico e maduro que mostra como o Fall Out Boy pensa e lida com as problemáticas de ser uma banda com duas décadas de existência que fundou e concretizou a carreira com temas ligados à adolescência. O medo de envelhecer, problemas de saúde mental, corações partidos, pandemia e a necessidade de provar que eles ainda sabem como agradar os fãs são os temas centrais da obra. O que poderia cair no limbo da zona de conforto passa longe disso. Apesar da sonoridade obviamente semelhante com os anos iniciais, o oitavo disco de estúdio do grupo é mais polido, bem construído e referenciado, mostrando que uma banda de 20 anos de existência pode, sim, se reinventar dentro da própria sonoridade e explorar horizontes palpáveis sem cair na mesmice.