Florence + The Machine em 10 canções

Uma das bandas mais renomadas do Indie Rock, o Florence + The Machine surgiu em 2007 em Londres. Florence Welch e a tecladista Isabella Summers se conheceram na faculdade de arte e começaram a tocar juntas em pequenos shows na capital britânica e logo depois se juntaram com outros músicos e formaram o grupo.

Com uma discografia recheada, a banda vem conquistando ao longo dos anos um espaço entre as maiores bandas do indie rock. O primeiro álbum, Lungs, chegou em 2009 e se tornou um grande sucesso comercial e critico, atingindo o topo das paradas britânicas e recebendo vários prêmios como o Álbum Britânico do Ano no Brit Awards, e também alcançando o 1.º lugar no Reino Unido. Se o debut já mostrava a força da banda, o disco seguinte, Cerimonials, de 2011, foi sucedido por uma série de álbuns de aclamação crítica e sucesso comercial. Em 2015, a banda lançou How Big, How Blue, How Beautiful e, já em 2018, o disco High as Hope. Mais recentemente, o lançamento do LP Dance Fever seguiu a tendência ao receber inúmeros reviews positivos. Por muito tempo, as letras de Welch foram concentradas em desabafos melancólicos e pessoais da cantora, que também é o eu-lírico de diversas de suas composições.

Primariamente compostas por Florence, as letras da banda são ainda mais potencializadas pelo vocal poderoso de Welch, encarregado de trazer letras profundas e poesias melódicas envolventes. A sonoridade ainda combina elementos do rock, do indie e da música pop para criar uma assinatura particular e reconhecível que é, sobretudo, reconhecida pelo público por seu potencial sinestésico. As produções do Florence + The Machine contam com referências das mais diversas graças à riqueza cultural do trabalho da banda e, em especial, da vocalista. Não é incomum encontrar metáforas particulares, figuras mitológicas e alusões às forças da natureza, que regem a religião pagã seguida por Welch.

O grupo britânico volta ao Brasil para duas apresentações no MITA Festival, que acontece no dia 28 de maio no Rio de Janeiro e 4 de junho em São Paulo. Conhecida por suas aprestações intensas e teatrais, assistir ao show da Florence and the Machine é, com certeza, uma experiência imperdível. Com um carisma diferenciado, Florence Welch é uma artista que se conecta de forma visceral, criando uma atmosfera emocionante e empolgante. Qualquer que seja a ocasião, você sempre pode confiar na banda para oferecer momentos verdadeiramente inesquecíveis, como seu show na edição de 2013 do Rock In Rio.

Para se preparar para esse mood incrível, listamos 10 músicas para você se aprofundar na discografia da banda.

Cosmic Love

Um dos destaques do Lungs, primeiro álbum da banda lançado em 2009, Cosmic Love foi composta e o genericamente arranjada em meia hora por Welch no estúdio de Summers. A música é embalada pela produção etérea, encadeada por harpas, percussão e piano e examina as consequências de entregar-se ao amor, experiência que, para a vocalista, se assimila a se entregar também para a escuridão e estar disposto a ficar cego.

Como uma das faixas de maior sucesso já no início da banda, Cosmic Love ajudou a pavimentar o caminho que o Florence + The Machine seguiria nos anos seguintes da carreira graças à sonoridade energizante. No clipe, a artista se aventura por lugares excessivamente iluminados e repletos de espelhos, mas também por uma floresta escura. Essa dicotomia parece representar as duas possibilidades dentro do amor.

What the Water Gave Me

Comprovando que Welch é mais do que uma compositora comum, What the Water Gave Me atesta o talento da artista em reunir referências diversas e culturalmente ricas em seu trabalho. Enquanto o título da faixa é uma alusão ao quadro Lo que el agua me dio, de Frida Kahlo, a letra estabelece um paralelo entre Florence e a escritora e poetisa Virginia Woolf, um dos maiores nomes da literatura estadunidense. A artista menciona ter viajado para uma casa de campo que Woolf costumava frequentar com outros autores.

Há, no entanto, um subtom fúnebre na canção, tendo em vista que Woolf tirou a própria vida ao se afogar em 1941. “Acho que frequentemente sinto algo que é grande demais para descrever, e a água é uma boa metáfora para designar algo que parece tão grande e fora do seu controle que é impossível colocar em palavras”, comentou Welch numa entrevista para a San Diego Tribune.

Shake It Out

Lançada em 2011 como o primeiro single de seu segundo álbum de estúdio, Ceremonials, a música é conhecida por sua batida animada que, apesar disso, não reduz o significado da letra, centralizada em deixar para trás os erros do passado e seguir em frente. A faixa começa com um arranjo orquestral dramático que inclui violinos e tambores para formar uma batida crescente, no plano de fundo para a voz de Florence.

Florence canta sobre como, às vezes, precisamos “sacudir” nossos problemas e traumas e nos libertar das coisas que nos impedem de progredir. Ela incentiva os ouvintes a abraçar a mudança e a aceitar que todos cometemos erros, mas podemos aprender com eles e crescer. A música tornou-se uma das músicas mais populares e emblemáticas da banda, e continua a ser uma canção inspiradora que encoraja as pessoas a deixarem para trás seus problemas e seguir em frente com a vida.

Never Let Me Go

Never Let Me Go é uma canção que já emociona e toca os corações de muitas pessoas na versão gravada em estúdio mas, ao vivo, tem seu potencial amplificado em uma magnitude absurda graças à entrega emocional e a energia de Florence Welch em sua performance.

Lançada em 2012 como parte do álbum Cerimonials, a letra é uma declaração de amor intensa e apaixonada do eu-lírico, que profere e expressa seus sentimentos de forma sincera e vulnerável. A protagonista da faixa fala sobre a importância de ter alguém que a apoie de perto e com intensidade mesmo nos episódios mais difíceis de sua trajetória, também recorrendo a um aspecto quase espiritual e cosmológico quando Welch dirige-se ao universo, pedindo-o que ele, também, nunca a abandone.

What Kind Of Man

What Kind of Man é o primeiro single do How Big, How Blue, How Beautiful, o terceiro álbum da banda lançado em 2015. A faixa é caracterizada pela batida forte e a letra intensa que explora um relacionamento destrutivo, bem como a complexidade generalizada de relações românticas. A batida pulsante e o riff energético de guitarra consagram a canção como uma das pérolas na discografia do Florence + The Machine, com a produção e os vocais capazes de expressar a raiva e a frustração do eu-lírico em relação a um amante que a desapontou.

A letra de What Kind of Man é uma reflexão sobre a natureza dos relacionamentos e o desafio de equilibrar o amor e o respeito próprio. Florence canta sobre as dificuldades do amor e como ele pode ser difícil de entender e navegar, também tratando das emoções que surgem quando alguém é ferido por outra pessoa que ama, além da subsequente luta para recuperar-se desse tipo de dor.

How Big, How Blue, How Beautiful

Sendo a primeira música que Welch escreveu para o disco de mesmo nome, lançado em 2015, How Big, How Blue, How Beautiful tem o céu de Los Angeles como inspiração, tido como uma imagem serena em meio ao caos que a artista vivenciava em sua vida profissional e pessoal. Menções aos elementos da natureza já não era mais novidade na discografia da banda, mas a faixa-título do terceiro álbum de estúdio ganha o ouvinte pela progressão instrumental dividida em seções marcadas por violões, violinos e instrumentos de sopro.

A conclusão tem um arranjo catártico que cresce até sua extinção total. A composição, por outro lado, aborda um relacionamento ambientado entre símbolos característicos de Los Angeles, como a placa de Hollywood. Além disso, How Big, How Blue, How Beautiful menciona ideais e noções cosmológicas para produzir uma atmosfera reflexiva, quase sideral.

Delilah

Inspirada no período em que Florence esteve em Miami, Delilah aborda uma noite particularmente pesada para a artista, em que o álcool e as pílulas a tiraram do eixo enquanto, na manhã seguinte, ela aguardava uma ligação de seu namorado. A contraposição afetiva estabelecida na canção também é uma referência a história bíblica de Sansão e Dalila, além de, segundo Welch, “a agonia que os celulares proporcionam em nossas vidas”.

Em Delilah, a cantora declara-se como uma pessoa perigosa — não fisicamente, mas emocionalmente. O videoclipe retrata a artista em ambientes marcados pelas cores saturadas, cercada de indivíduos dos mais diversos, sozinha ou na companhia de um outro homem, que ela corta os cabelos. A solidão surge na presença de uma criatura que a assombra durante o sono, além de ser também demonstrada pela coreografia intensa que, em parte, também remete a um sentimento de liberdade.

Ship To Wreck

Ship to Wreck é uma canção poderosa que trata de um relacionamento conturbado. Foi lançada em 2015 como parte do álbum How Big, How Blue, How Beautiful e, como todo o repertório da banda, foi escrita por Welch, que aqui preconiza uma relação fadada ao fracasso. Florence discorre sobre a sensação de estar à beira de um desastre motivado por uma conduta autodestrutiva, também responsável por arruinar seu relacionamento.

Os vocais da cantora ganham destaque na música e o refrão ecoa como uma das passagens mais notórias no catálogo da banda. A passagem é sucedida pela metáfora central da canção, que compara o relacionamento a uma embarcação sem rumo. Bem como o vínculo descrito na faixa, Welch se questiona se construiu esse navio fictício apenas para vê-lo afundar.

Hunger

Hunger é uma faixa poderosa e emocionalmente densa que trata de temas universais, como a carência sentimental, a necessidade de conexão humana e a luta para encontrar significado e propósito na vida. Lançada em 2018 como segundo single do álbum High as Hope, a música foi escrita por Welch, Tobias Jesso Jr. e também Emile Haynie, aqui também responsável pela produção da canção.

A letra é bem escrita e o timbre único de Florence Welch traz um grande impacto emocional à música. Uma das características mais marcantes da faixa é a mistura singular de instrumentos acústicos e eletrônicos, criando uma atmosfera etérea e misteriosa. Em sua seção final, Hunger explode em uma catarse assombrosa, também aliada a um coral gospel que provoca ainda mais comoção.

King

“Não sou mãe, nem noiva; sou Rei”. O mantra que demarca o primeiro single do Dance Fever referencia os recentes dilemas vivenciados pela cantora, que, apesar de sempre ter estado certa sobre seu desejo em seguir sua carreira na música, “tem sentido mudanças de prioridade”, como contou numa entrevista para a Vogue no ano passado. Num arranjo carregado de instrumentos de corda, Florence canta sobre a possibilidade de ser mãe, reconhecendo a maternidade como uma experiência que poderia afastá-la de sua artisticidade.

Além de tudo, King soa como uma reflexão sobre os papéis de gênero na indústria da música. “Agora como uma mulher na faixa dos trinta anos, [penso que] ser uma performer, mas também querer ter uma família, talvez não seja tão simples pra mim quanto é para artistas masculinos”, comentou Welch em nota para a Apple Music. “Me modelei quase que exclusivamente à imagem de performers homens mas, pela primeira vez, sinto esse bloqueio entre mim e meus ídolos, já que agora tenho que fazer uma decisão que eles não precisaram”.