Roger Waters – The Dark Side Of The Moon Redux
Não foi somente a capa preta e o prisma em cores espectrais que se incorporaram ao DNA do rock progressivo. Pela perspectiva atual, The Dark Side Of The Moon abordou temas originais de loucura, alienação, medo existencial, morte e violência. Agora, Redux chega com um propósito mascarado de limpar o feno de velhas brigas, dinheiro, tempo ou danos cerebrais. Músicas reduzidas e nuas (sem solos heroicos do antigo adversário David Gilmour), foram gravadas pelo apóstolo do Floyd, Jonathan Wilson e baterista Joey Waronker na tentativa falha de sublinhar sua validade.
A fraqueza de Roger Waters ainda é seu senso de missão. Nem mesmo a abertura do disco foi poupada desse incansável murmúrio atrevido. As memórias de um homem em sua velhice são os feitos de um homem em seu auge – versos proféticos já usados para Obscured By Clouds (1972). Aplicando literalmente a lógica de suas afirmações, o artista desconsiderou qualquer instrumentação que pudesse ser atribuída aos ex-cúmplices, além de acrescentar textos falados, nos quais ele divaga – ou melhor, “pondera” à vontade – por minutos a fio para ilustrar de forma mais didática observações iniciais que não compreendemos.
O sabor psicodélico que forjou a reputação de Pink Floyd continua exposto, mas é muito menos avassalador do que o público estava acostumado. Se reconhecermos facilmente a partitura musical (embora com algumas novidades, cantos de pássaros ou um violino discreto), ela surge solitária em relação à história. Apenas a ponte instrumental de Us And Them foi valorizada, mesmo que o solo de saxofone de Dick Parry seja substituído por um órgão distante. Salvo a homenagem ao falecido amigo Donald Hall, os vocais nobres de Clare Torry em The Great Gig In The Sky também foram transformados em zumbidos indistintos, suavizando qualquer traço da composição de Richard Wright.
Faixas instrumentais como Speak to Me, On the Run e Any Color You Like agora são engolidas por monólogos constantes. Quando falamos sobre passagens em que o músico recita o verso “bem-vindo ao inferno”, isso precisa ser entendido literalmente. Se Money condenava o capitalismo, essa nova revisão supérflua encoraja a celebração do individualismo de Waters.
Assim como em Comfortably Numb (2022) e The Lockdown Sessions, o antigo líder dos Pink Floyd optou por subtrair qualquer aspecto musical familiar para dar foco à mensagem, entretanto a sua inovação residiu na onipresença de vozes sombrias e cruel falta de relevo. Ele se lembraria de pensamentos idealistas anteriores, mas provavelmente é uma daquelas espécies raras que foram mais sábias na juventude do que na velhice.
Alexandre Leitão
Ótima abordagem, realmente esse redux deixou a desejar!!! Muito difícil melhorar o que é incrível.
Rogerio
Me dói falar isso, pois sou fã do Pink Floyd, fui aos shows do Roger mas esse Redux é impossível de ouvir de tão ruim!!! Roger deixa claro que é sim um gênio das letras, mas sem Gilmour, Rick e Nick não consegue fazer música.
JANISON CAETANO DA SILVA
Outrora beirava a genialidade, hoje é apenas um homem decadente e egocêntrico que quer a qualquer custo desvalorizar seus ex companheiros e atrair toda atenção para si. Uma pena ver um cara que ajudou a forjar os maiores clássicos da história do rock progressivo estar afogado em seu egoísmo e soberba.
Maurício
Tentativa falha de uma.regravacao do que era e sempre será perfeita.
Uma pessoa sem princípios morais tentando rebaixar uma banda épica.
Um álbum pobre, sem contexto, sem verbalização, já na primeira música se vê as falhas e como não se consegue ouvir o resto do mesmo
Rafael
E a soberba dele só tende a piorar, com esse álbum que ninguém curtiu.
Carlos Mira
Redux é uma espécie releitura minimalista de uma obra prima que deveria ser intocada. Mesmo respeitando a abordagem e o fato de que o cara é uma lenda, Redux não agrada. Lento e um pouco preguiçoso me parece um monólogo desleixado. Sobre o Roger, continuo escutando o album anterior…
Is This The Life We Really Want? Album de 2017 que é excelente e me dá sensação de que quando ele vira a chave e produz algo novo e não releituras ainda é um cara diferenciado. Convido a quem não conhece o album escutar…. vale o tempo. Seguimos.
Carlos
Quanta pretensão da autora do texto: pretende fazer um julgamento definitivo do artista por uma obra (uma regravação de um disco).. Quanto ódio! Alguém está precisando de uma terapia (e de senso do ridículo), e não é o Waters ….
CHARLES ANGELO MACIEL
Concordo. Há muito debate sobre posicionamento político seja favorável ou não à ideologia do baixista e compositor inglês. Não pretendo navegar nesses mares turbulentos. A questão é musical. E Roger Waters, ao embarcar em sua releitura, acaba negligenciando todo o brilho e sagacidade dos solos de David Gilmour ou os acordes jazzísticos de Rick Wright…e até mesmo a cadência hipnótica de Nick Mason. Todo esse campo harmônico foi lançado ao nada, condena o Redux de Waters e expõe a obscuridade de uma obra que já nascera pronta e definida. A obra original é um monolíto negro e atemporal. A atitude de Waters em seu Redux demonstra a necessidade em depreciar seus ex colegas de banda, numa tentativa de provar ao mundo quem é o Pink. Esforço inútil. Roger Waters, melhor do que ninguém, sabe que o verdadeiro Pink, o diamante louco, habita um outro plano. E seu espectro que reside justamente na versão original de “Dark Side of the Moon, fica “eclipsada” pelo ego “animalesco” do compositor inglês. Preso num “muro” de lamentações eternas. Talvez seja ressentimento por perder os direitos de usar o nome Pink Floyd.
Adalberto Cunha
Uma nova obra não nega e nem apaga a outra obra – imortal. Passeia, dá as suas voltas e encanta de uma forma singular. Ficou muito intimista e forte sem parecer pedante. Muito bom, lindo, maravilhoso, isso sim. O jovem homem envelheceu muito bem, parabéns para o imprescindível Roger Waters. Enfim, muito mais foda, forte do que os pastiches do David Gilmour. Abra um vinho, bom ou nem tanto, que o velhinho pede passagem.