Doce Maravilha: A potencialidade criativa da música brasileira em sua segunda edição
É chegado o tempo de celebrar a música brasileira e admirar todo o seu potencial criativo, seja através de reimaginações do acervo de homenageados ou, simplesmente, de colaborações multigeracionais. Sim, é tempo de Doce Maravilha.
Em sua segunda edição no Rio de Janeiro, a ‘Festa da Música Brasileira’, como se autointitula, o Doce Maravilha, que é conduzido irretocavelmente por Nelson Motta e Mangolab, traz, mais uma vez, inúmeras experimentações e convergências. Com um line-up, dividido em dois dias, o festival promoverá o encontro entre Maria Bethânia e Xande de Pilares – que, há pouco, nos presenteou com versões sublimes de Caê -, e Nação Zumbi e Lia de Itamaracá, além de nos proporcionar Jorge Ben Jor apres. É Coisa Nossa.
Porém, mesmo em meio ao bombardeamento de figuras célebres e de grande êxito comercial e crítico, algumas manchas, advindas da primeira edição desta festança, assombram possíveis frequentadores.
Com as fortes chuvas, em 2023, a produção do Doce Maravilha viu-se em posição pouco amigável: lama, falhas técnicas e cancelamentos repentinos fizeram presença. Em segundos, o amargor espalhou-se pelo público pagante e, diga-se de passagem, não-pagante, já que os que acompanhavam de casa viam-se indignados com a inviabilidade da apresentação mais aguardada da noite, que ficaria por conta de Caetano Veloso e a celebração dos 50 anos de Transa, magnum opus do baiano. Sempre sensíveis às demandas de sua audiência, Motta e Mangolab encaminharam seu público para, em 2024, viver a experiência sem empecilhos no Jockey Club, espaço que, independente das condições climáticas, entregará excelente qualidade. Com os percauços sanados, resta desfrutar do ouro desta nova edição: a cocriação.
Em edição anterior, o Doce Maravilha destacou-se por propor molde inovador ao setor cultural. Através das mesclas de distintas idades, mostrou que, para os mais velhos, é possível curtir os mais novos; para os mais novos, é possível curtir os mais velhos. Nesta nova edição, mergulha em ousadia e, mesmo dentro de seu formato que já não é novidade, encanta ao fortificar a necessidade da soma de habilidades, experiências, sons e visões para entregar ao público o que há de mais forte na arte: o manipular para criar. Se, sozinha, Deize Tigrona forneceu material para que Diplo e M.I.A. ganhassem prestígio enquanto criadores, ao lado de Nova Orquestra, Buchecha e Gabriel do Borel, espera-se, mais uma vez, grandes holofotes nas experimentações possíveis dentro do recriminado – por vezes, pasteurizado e higienizado – Funk; se, em sua mente, Letrux nos presenteou com Letrux Como Mulher Girafa, é possível esperar que O Último Romântico, clássico de Lulu Santos, adentre, sob novas luzes, o imaginário social e garanta, por mais bons anos, espaço para inspirar novos artistas; e o que esperar de Mano Brown? Em seu estúdio, deu vida a Boogie Naipe, dançante e com raízes no Pop, Funk – o estadunidense – e disco. Agora, sobe aos palcos para reimaginar o próprio acervo e o de Criolo e Rael, que divirão o palco com o integrante do Racionais MC’s.
Mais uma vez, estamos prestes a presenciar a subversão proposta pelo Doce Maravilha, restando, aos olhos que enxergam e ouvidos que escutam, a necessidade de sensibilizar-se e, após muito acompanhar enlatados e pré-fabricados, permitir-se ir de encontro ao regozijo de coproduzir, coarranjar e coapresentar em prol do renovo.
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