Tecnicamente brilhante, City and Colour encanta São Paulo com show íntimo e honesto | Moodgate
Um novo sentimento para a música
5970
post-template-default,single,single-post,postid-5970,single-format-standard,bridge-core-3.0.1,qode-news-3.0.2,qode-page-transition-enabled,ajax_fade,page_not_loaded,,qode-title-hidden,qode_grid_1400,vss_responsive_adv,vss_width_768,footer_responsive_adv,qode-content-sidebar-responsive,qode-overridden-elementors-fonts,qode-theme-ver-28.7,qode-theme-bridge,qode_header_in_grid,wpb-js-composer js-comp-ver-7.9,vc_responsive,elementor-default,elementor-kit-7

Tecnicamente brilhante, City and Colour encanta São Paulo com show íntimo e honesto

Dallas Green é um storyteller. No metal ou no folk, poucos conseguem criar cenários do imaginário de forma tão detalhada como o canadense de 43 anos, natural de Sethor Catarines. 

Soa até óbvio, mas a dualidade do artista é evidente não apenas na discrepância no som de seus dois projetos de vida, o Alexisonfire e o City and Colour, mas também nas ideias que o músico tem para cada um dos grupos. 

Se na banda fundada em 2001 os riffs distorcidos e os berros sempre foram os destaques de canções que abordavam temas políticos influenciados pelo movimento punk, em seu projeto solo – uma mescla classuda entre blues e folk rock -, o protagonismo fica por conta da delicadeza de se narrar os altos e baixos das relações. 

Enquanto uma já ganhava notoriedade no metal durante o início dos anos 2000, Dallas enxergou na carreira solo um escape dos andamentos acelerados e das distorções de praxe. Foi nessa necessidade de respiro que nasceu o City and Colour, banda que completa 20 anos de existência em 2024 e que chegou ao Brasil neste fim de semana. 

A nova turnê, que divulga o ótimo The Love Still Held Me Near, desembarcou no país na sexta-feira, (14), com show memorável no Rio de Janeiro (leia nossa análise aqui). Neste domingo, Dallas encerrou a passagem brasileira ontem, (16), empolgando os paulistanos que estavam presentes no Tokio Marine Hall.

Com público empolgado e ávido por presenciar a magia de Green ao vivo, o show se iniciou com atmosfera intimista e envolvente. O fato evidencia a ideia que esta turnê, inclusive, talvez tenha sido pensada para casas de shows menores e festivais a meia-luz. Enquanto desfila hits e novos sucessos, o City and Colour parece querer aproximar a audiência com as histórias que ali estão sendo contadas. Green, elegante como de costume, até questiona: “vocês têm sido generosos uns com os outros?“. 

A pergunta em questão se agiganta quando o espectador dá o play no novo álbum, que fala sobre perdas e ganhos no processo do luto. Funciona quase como um processo de cura.

Talvez essa tenha sido a ideia de criar um “sideproject” que mal conversa com o Alexisonfire: poder falar sobre vulnerabilidade de forma brutalmente honesta. É assim que Green enxerga na arte, também, uma forma de encontrar paz para curar suas cicatrizes. 


O sentimentalismo inerente endossa o discurso que passeia entre a necessidade natural de um amor que envolve e até a dor de se compreender a partida. As novas canções – que ilustram muito bem a ideia – já estavam na ponta da língua dos fãs e ditaram o ritmo da performance. Meant To Be e Underground foram celebradas em alto e bom tom.

Hits como Comin’ Home, Sleeping Sickness, Weightless e Lover Come Back ecoaram as vozes das 4 mil pessoas presentes no local, mas não diminuíram a amplitude e o impacto das notas alcançadas pelo artista que, nessa altura do campeonato, parece ter nas cordas vocais – além das composições – seu maior atrativo. Que voz espetacular. 


Ao longo da noite, a qualidade técnica do grupo se escancarou muito além da setlist; até porque, em diversos momentos, os músicos de apoio se sentiam confortáveis o bastante para criarem jams entre uma faixa ou outra. Outro ponto alto: a qualidade técnica de cada um dos integrantes. A extraordinária e bluesy “Bow Down To Love” lembrou nomes clássicos da história do blues e do folk rock.

Entre os extremos de seus dois projetos de vida, Dallas Green parece entender bem o papel que exerce em relação aos fãs, mas mais do que isso, hoje, na indústria, poucos ainda optam por permanecerem fiéis à própria verdade. 

É claro, a ideia retrógrada sobre “se vender” ou abraçar tendências não deve ser vista como demérito. No entanto, não há como negar: o impacto real em uma vida é muito maior quando a música, que naturalmente já é a protagonista, oferece muito além de sonoridades que agradam. E essa qualidade para ser brutalmente honesto e vulnerável poucos têm.

About the Author /

matheusizzo@outlook.com

Post a Comment