Após 40 anos de estrada, o Sepultura merecia ainda mais sucesso em sua turnê de despedida
Desde março deste ano, Andreas Kisser (Guitarra), Paulo Xisto (Baixo), Derrick Green (Voz) e Greyson Nekrutman (Bateria) estão rodando o mundo com a turnê Celebrating Life Through Death. Trata-se de uma excursão feita não apenas para comemorar as recém-completadas quatro décadas de carreira do Sepultura, mas também para dar aos fãs a oportunidade de assistir à banda ao vivo pela última vez – já que o encerramento das atividades do grupo está marcado para acontecer no segundo semestre de 2025, ao fim dessa série de shows.
Apesar da vontade dos membros seminais (Andreas e Xisto) em aposentar a banda brasileira mais conhecida do mundo, o clima das apresentações dessa turnê derradeira está sendo de alegria, amizade e celebração. Isso porque o fim do Sepultura não se deve a nenhuma briga interna, mas sim ao desejo que os membros do grupo sentem de tentar coisas novas.
Nos preparativos para a turnê, porém, houve sim um momento de tensão: poucos dias antes de botar o pé na estrada, a banda sofreu a baixa do virtuoso baterista Eloy Casagrande – que, contrariado com o fim do Sepultura, deixou o grupo brasileiro para ingressar no Slipknot. Apesar do inevitável estresse causado por esse ocorrido, Andreas, rapidamente, recrutou o americano Greyson Nekrutman (Ex-Suicidal Tendencies, de apenas 22 anos) para assumir as baquetas, e o novo integrante vem cumprindo, impressionantemente, a difícil missão de satisfazer os altíssimos padrões de qualidade estabelecidos por Eloy.
Andreas e Xisto sempre cobriram as baixas do Sepultura contratando músicos exímios, porém, ainda assim, a banda se depara, até hoje, com muitos fãs cobrando a volta dos irmãos Max e Igor Cavalera – membros fundadores que deixaram o grupo em 1997 e em 2006, respectivamente. Em várias entrevistas realizadas entre março e junho deste ano, Andreas declarou que não descarta a possibilidade de uma breve reunião acontecer durante algum show da turnê de despedida, mas, em julho, o vocalista Max Cavalera (atualmente, no Cavalera Conspiracy e no Soulfly) quebrou a expectativa dos fãs, ao alegar publicamente que não sente vontade disso.
O fim da formação clássica composta por Andreas, Xisto, Max e Igor é, inegavelmente, um motivo que levou o Sepultura a não ser ainda maior do que é: na década de 1990, o sucesso mundial dos álbuns Beneath the Remains (1989), Arise (1991), Chaos A.D (1993) e Roots (1996) foi tão estrondoso que muitos fãs acreditam que, se Max não tivesse deixado a banda, o Sepultura estaria, hoje, no mesmo patamar de popularidade global de nomes como Metallica e Iron Maiden – tocando apenas em estádios/arenas gigantes e sempre constando como atração principal em qualquer show/festival.
Apesar de (infelizmente) não ter chegado a esse ponto, o Sepultura nunca deixou de ser globalmente reconhecido como o maior representante brasileiro do Heavy Metal e um dos nomes mais respeitados pelos fãs deste gênero musical (o que é ilustrado pela enorme admiração que personalidades como Dave Grohl, Flea, Mike Patton, Lars Ulrich e Corey Taylor já demonstraram ter pelo grupo). Mesmo com as mudanças de formação, o prestígio conquistado no auge do sucesso sempre garantiu à banda shows lotados em dezenas de países, mas, ainda assim, o Sepultura se recusou terminantemente a viver apenas do passado: com Derrick Green nos vocais, foram lançados os álbuns de inéditas Against (1998), Nation (2001), Roorback (2003), Dante XXI (2006), A-Lex (2009), Kairos (2011), The Mediator Between Head and Hands Must Be The Heart (2013), Machine Messiah (2017) e Quadra (2020), que obtiveram menos retorno comercial do que os da ‘’Era Max’’, mas foram, em sua maioria, muito bem-recebidos pelos ouvintes – tanto que várias das músicas lançadas em tais trabalhos marcam presença nos setlists da turnê atual.
A excursão Celebrating Life Through Death já passou por nove países e está prevista para rodar por outros 31, até meados do próximo ano. O Brasil é, por enquanto, o país mais prestigiado na agenda desta despedida, com 15 shows já realizados e outros nove marcados para acontecer nos próximos meses, por aqui. Todas as apresentações em solo nacional estão sendo lotadas, mas, ainda assim, é chocante constatar que, dentro da terra-natal do Sepultura, nenhum dos shows está sendo realizado em arenas com capacidade para abrigar mais de 18 mil pessoas.
Parte disso se deve ao saudosismo que muitos fãs nutrem pela antiga formação da banda, mas o motivo principal é o triste fato de que, dentro de seu país de origem, o Sepultura nunca foi tão valorizado quanto deveria. Esse fenômeno é reconhecido pelos próprios membros do grupo desde a ‘’Era Max’’ e está ainda mais impulsionado atualmente, devido ao espaço cada vez menor que é destinado ao Metal no mercado da música nacional.
Em um mundo mais justo, o grupo estaria lotando vários estádios brasileiros por aí, nessa turnê de despedida. Por mais que, ao longo dos anos, a banda tenha perdido alguns integrantes importantes, ela ainda é um patrimônio nacional e a sua formação atual também merece muito respeito. Porém, a verdade é que, devido ao complexo de vira-lata que habita na maioria dos brasileiros, muitas pessoas só irão perceber isso depois que o Sepultura acabar.
Josigleide Gomes
Parabéns, texto perfeito
Lucas Couto
Oii Josigleide! Eu escrevi esse texto e fiquei muito feliz com seu elogio! Muito obrigado por fazer o meu dia! Tenha uma ótima semana!