Em São Paulo, Fresno prova porquê é o maior nome emo do país
Banda entregou ode à nostalgia e abraçou o auge da carreira em um Espaço Unimed lotado
“P*** que pariu, é a melhor banda do Brasil: FRESNO!!!!!”, gritam as quase 9 mil pessoas em um Espaço Unimed lotado. Embalando o “sextou” dos paulistanos, a Fresno, que completou 25 anos de história, está no auge da carreira em pleno 2024.
A banda, frequentemente envolvida em ações sociais, como lives e shows beneficentes em prol das famílias afetadas pela COVID-19 e as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, criou uma conexão tão gritante com quem os acompanha que a sensação de pertencimento que os fãs têm nas turnês do grupo se tornou presente até demais. Em partes, o show soa quase como uma reunião de família. Os mesmos rostos conhecidos de 10 anos atrás, a molecada, amores a serem revisitados e até alguns reencontros.
O trio formado por Lucas Silveira, Vavo e Guerra – e que conta com uma excelente banda de apoio no live -, acabou de lançar a segunda e última parte do novo disco, “Eu Nunca Fui Embora”, um paralelo criado pela banda em relação ao revival do emo (por mais que eles finjam que não). A Fresno nunca abandonou o movimento, que ganhou força nos anos 2000 e 2010, e agora parece estar tendo outro momento de muita atenção do mainstream.
São duas décadas e meia de composições sentimentais que engrandecem os altos e baixos do viver.
Lucas é um sonhador melancólico que flerta com o romantismo desenfreado, divagando sobre a existência como poucos compositores no Brasil. Essa honestidade inerente de não só representar, mas também ecoar o grito entalado de uma geração vista como “azarona”, é o que torna a Fresno, provavelmente, o grupo brasileiro que possui a melhor relação com a própria audiência.
O novo show, que no palco conta com telões iluminados e pedestais de luzes que alternam entre o branco, o rosa e o azul, similar ao que faziam os britânicos da The 1975 há alguns anos, é um dos melhores do rock nacional na atualidade.
A apresentação passeia pela discografia do grupo, visitando quase todos os discos, mas com maior espaço para o último lançamento – recebido de forma mista pela galera. Ainda que seja mais pop, o trabalho dividido em duas partes conta com canções que até podem não convencer com tanta facilidade em estúdio, mas que ao vivo se agigantam de forma natural.
“Quando O Pesadelo Acabar”, “Me and You (Foda Eu e Você)”, “Camadas” e a faixa-título foram cantadas aos berros pelos fãs, já com as letras decoradas na ponta da língua. O momento de maior destaque? A energia de “Se Eu For Eu Vou Com Você”, primeira faixa oficial em colaboração com o Nx Zero após tantos anos.
Assim como a influência na estrutura do palco, não se surpreenda se ao escutar a canção você se lembrar de “About You” ou “Me & You Together Song”, também da The 1975.
Parece que Lucas mergulhou de cabeça nos últimos trabalhos dos ingleses antes de compôr parte das novas canções. Agora eles tem até saxofone – que, inclusive, deixaram a saideira “Casa Assombrada” ainda melhor. Mais um acerto para os brasileiros, que mesmo com referências recentes que parecem ir de Highly Suspect e Nothing But Thieves, ainda permanecem fiéis ao que sempre fizeram, mantendo características e reforçando a identidade que os tornou um dos maiores nomes da música nacional.
Faixas do que, para muitos, é o melhor disco do trio, “Sua Alegria Foi Cancelada”, tiveram espaço, mas talvez não tanto quanto mereciam. O álbum não teve divulgação ao vivo pois foi lançado na pandemia, então, o sentimento é que algumas tracks poderiam ser aproveitadas um pouco melhor – (“We’ll Fight Together” e “Isso Não É Um Teste” mereciam mais!!!).
Os clássicos levaram os fãs à loucura: “Diga, Parte 2”, “Porto Alegre”, “Infinito”, “Quebre As Correntes”, “Desde Quando Você Se Foi” e “Eu Sei” são as favoritas da galera com todo mérito do mundo. Apoteose! Um show para agradar novos e velhos fãs dos caras.
Contrariando àqueles que achavam que a banda teve seu auge de popularidade nos anos 2000, Silveira, Vavo e Guerra, utilizaram da magia do tempo para provar que nem sempre as tendências ditam o ritmo desse jogo manipulado e violável a qual é a indústria fonográfica.
A Fresno nunca foi embora e, durante todo esse tempo, se manteve crente de suas próprias virtudes e verdades, buscando força nas vivências pessoais de cada integrante e, mais do que isso, se fortalecendo por meio do bem mais precioso que um artista pode ter: os fãs. Lucas encerrou a apresentação dizendo “Vida longa à Fresno”. Que assim seja. Sorte terá o público de continuar apreciando essa história ser escrita em tempo real. Ainda bem.
Willar
Meu sobre a Fresno e o the 1975 fiquei maluca quando ouvi aquele saxofone só os maiores colocam nas músicas e um fato legal é que as cores de dois álbuns deles são iguais, a famosa cor #ccff00 cor safc é também é a cor do álbum “Notes On A Conditional Form”, e o “Vou Ter Que Me Virar” e “Being Funny In A Foreign Language” contam com o mesmo tom de azul.