Como Alanis Morissette superou a pressão do sucesso com o Supposed Former Infatuation Junkie

Quando o nome de Alanis Morissette surge em qualquer rodinha de conversa, o primeiro trabalho que vem a mente para se comentar é Jagged Little Pill (1995), e não é por menos: o álbum foi mais do que um sucesso, atingindo um patamar de fenômeno cultural e comercial, o que consolidou a artista como uma das maiores da década de 1990. Além das mais de 33 milhões de cópias vendidas, quatro Grammy – incluindo álbum do ano – e de ser eleito um dos 500 melhores álbuns de todos os tempos pela revista Rolling Stone, o disco é conhecido por ter reestruturado o pop-rock, principalmente no que tange às artistas femininas.

Avril Lavigne, Olivia Rodrigo, P!nk, Kelly Clarkson, Hayley Williams, Demi Lovato e até mesmo Taylor Swift já citaram a cantora como inspiração por conta do estilo mais emotivo, além dos elementos post-grunge num trabalho essencialmente pop, mas muito mais sentimental e sensível do que obras lançadas sob essa mesma roupagem. As perspectivas sobre temas como raiva e vulnerabilidade feminina comuns à época com certeza foram desafiadas por Alanis, já que a cantora sempre preferiu abordar suas próprias questões de uma maneira mais crua e confessional.

E são exatamente essas distinções que tornaram Supposed Former Infatuation Junkie, o álbum subsequente a Jagged Little Pill, uma joia pouco compreendida. Após o sucesso absoluto do disco anterior, é fato que seria uma tarefa muito difícil arrebatar o mesmo êxito ou até mesmo se sobrepor a ele. E, na verdade, foi exatamente o posicionamento contrário que Alanis tomou. Sem a preocupação com os padrões tradicionais da mídia, ela afastou-se no auge de sua fama para uma viagem de crescimento pessoal a um país que viria a influenciar muito a sua próxima obra: a Índia.

Entre 1996 e 1997 Morissette decidiu fazer uma viagem espiritual. A forma como a fama passou a ser parte intrínseca de sua vida foi, de certa forma, exaustivo, principalmente por ter acontecido de forma “repentina”. A jornada de autodescoberta que procedeu a esse esgotamento mental levou a um mergulho na espiritualidade, o que levantou questionamentos como o significado de todo o seu sucesso e a necessidade de validação externa – algo visto na música Thank U, principal single do álbum, por exemplo.

Com todas essas descobertas, Alanis adotou uma abordagem ainda mais introspectiva e espiritual na vida pessoal e na carreira musical: mais aberta a temas intimistas, aquilo iria influenciar todas as suas obras seguintes. E foi essa busca por equilíbrio e autenticidade ajudou a moldar sua trajetória, permitindo que ela se mantivesse fiel a si mesma. Esses aspectos alteraram o lado lírico e melódico das músicas de Morissette, e o contato com o Budismo foi uma das maiores influências. Os cinco preceitos da religião, por exemplo, estão estampados na capa do projeto.

Na música Baba a protagonista sai em uma jornada espiritual e encontra um guru – e, como é costumeiro na Índia, refere-se a ele como Baba, que significa “pai” em hindu. Essa canção é um bom exemplo sobre a atmosfera geral da era Junkie, em que a artista não poupou esforços para misturar gêneros como o rock alternativo e música eletrônica, com instrumentais pesados em certos momentos. As músicas, apesar de parecerem excessivamente longas em diversos momentos, mesmo assim conseguem manter um bom fluxo ao longo da experiência, já que há mais espaço na mixagem para buscar aquele tom etéreo – o que, de certo modo, também faz com que as narrativas densas soem de forma mais natural.

Em Supposed Former Infatuation Junkie, Alanis consegue se expor ao máximo, mesmo com a sua personalidade naturalmente introspectiva citada anteriormente – e a nudez apresentada no clipe Thank U é uma forma literal de refletir a honestidade crua com a qual a cantora escolheu trabalhar. Uma crítica comum ao álbum é que Morissette colocou palavras e ideias demais em cada música, mas até isso tem uma explicação: ela experimentou composições mais complexas e não convencionais, incluindo o fluxo de consciência, frequentemente se desviando das estruturas tradicionais de verso e refrão. Essa abordagem resultou em um som mais rico e texturizado, que incorporou novas ideias musicais sem perder seu característico estilo vocal.

Após 1995, Alanis Morissette poderia ter seguido um caminho muito fácil e clichê, escorando-se em seu mais novo sucesso para continuar emplacando hits e vendas. Mas, talvez, tenha sido exatamente a sua capacidade de se manter relevante sem seguir tendências passageiras ou confortáveis que tenham alçado ele a um status tão importante culturalmente. Ao longo dos anos, ela continuou fiel à sua arte, sempre explorando novas formas de expressão sem perder sua essência. Sua influência pode ser vista em várias artistas atuais que priorizam autenticidade e vulnerabilidade, algo que, em grande parte, foi potencializado com o impacto da cantora nos anos 1990. E ela, definitivamente, redefiniu a presença feminina na indústria.