Olivia Rodrigo e Alanis Morissette: o legado de um Pop Rock confessional que nunca sai de moda

A indústria da música, muitas vezes, se vê em uma sinuca de bico no que tange à renovação. Quando já escutamos um pouco de tudo parece ser difícil inovar e sair da caixa. Mas são artistas como Olivia Rodrigo que demonstram que nem sempre é preciso reinventar a roda para sair do óbvio. Com uma carreira que ascendeu como um foguete, desde o lançamento de seu primeiro álbum, SOUR (2021), Olivia se viu comparada em diversas maneiras com Alanis Morissette — um dos maiores ícones da música alternativa dos anos 1990.

Sem se limitar ao gênero musical, já que Rodrigo conseguiu incorporar diversas vertentes do rock em suas canções pop, a intensidade das composições e a maneira semelhante de canalizar as experiências para suas criações são dois dos elementos fundamentais que ressoam com os fãs de ambas. Alanis, por exemplo, explodiu ao redor do mundo com o álbum Jagged Little Pill (1995), que misturava elementos do rock e do pop com letras confessionais e repletas de angústia, abordando temas como desilusões amorosas, autodescoberta e frustrações do cotidiano. Será que lembra uma certa cantora californiana?

O impacto desse disco foi tão grande que influenciou toda uma geração de artistas, e, claro, Olivia Rodrigo é uma das herdeiras dessa tradição. Desde o lançamento de SOUR muitos críticos e fãs apontaram a influência direta de Alanis em suas músicas, especialmente em faixas como good 4 u, que tem um espírito rock n’ roll e sonoridade próxima ao pop-punk, remetendo a sucessos como You Oughta Know.

A conexão entre as duas artistas foi oficialmente reconhecida quando Alanis e Olivia compartilharam o palco para um bate-papo na Rolling Stone’s Musicians on Musicians em 2021. Na conversa, Alanis elogiou Olivia por sua autenticidade e pelo impacto que suas músicas estavam causando nos jovens, refletindo uma experiência semelhante à sua própria ascensão. Ambas destacaram a importância da vulnerabilidade na composição musical e como transformar emoções intensas em arte pode ser libertador.

“Tento escrever todos os dias e escrevo exclusivamente para mim. Acho que se tentasse sentar ao piano e ficar, tipo, ‘Vou escrever uma música que todos gostem e que ressoe com as pessoas’, nunca ficaria bom. Tenho tentado lançar músicas e perceber que não são mais minhas. Eu não posso te dizer quantas músicas eu escutei e fiquei tipo, ‘Oh, meu Deus, aquele artista escreveu totalmente para mim e para minha situação’, e eles nunca fazem isso realmente”, disse Olivia.

Além da sonoridade e do lirismo que se cruzam, há também uma semelhança na forma como ambas lidam com o estrelato e as pressões da indústria musical. Alanis, após o estrondoso sucesso de Jagged Little Pill, precisou lidar com expectativas altíssimas e uma intensa exposição midiática. Olivia, no início de sua carreira, já demonstra consciência sobre esses desafios e frequentemente fala sobre a importância de manter o controle sobre sua própria narrativa artística.

“Por volta dos 22 anos, parei de ler tudo, porque não era realmente relevante para o meu crescimento e evolução pessoal. Eu tinha muitas pessoas ao meu redor que apontavam os pontos cegos, eu quisesse ou não. E eu adoro terapia, então sempre tive uma enorme equipe de terapeutas. Mas no final do dia tornou-se ‘estou me sentindo muito vista‘”, disse Alanis.

Olivia Rodrigo, então, continua. “Tive uma experiência muito parecida. Lançar música na era das redes sociais pode ser realmente assustador, e acho que as pessoas consideram as mulheres jovens um padrão incrivelmente irreal. Eu segui o mesmo caminho que você e simplesmente não olhei para isso”.

Olivia Rodrigo não apenas bebe da fonte de Alanis Morissette, mas também contribui para a evolução desse estilo confessional no pop contemporâneo. Se Alanis abriu caminho para que artistas femininas expressassem suas emoções de maneira visceral e intensa, Olivia segue essa tradição ao trazer essas mesmas temáticas para um novo público, com uma roupagem moderna e acessível. O legado de Alanis continua vivo na música de Olivia, e essa conexão entre gerações mostra como a sinceridade na arte nunca sai de moda.

Faltam poucos dias para Olivia Rodrigo desembarcar no Brasil para seus dois shows em território nacional. No dia 26 de março o Estádio Couto Pereira contará com a presença da estrela pop para o único show solo da cantora no país. Já na sexta-feira, 28, é a vez do Autódromo de Interlagos receber a artista no primeiro dia de Lollapalooza 2025.