Nenhuma Estrela, quinto álbum de estúdio do Terno Rei, chega com a essência da banda e muito mais sentimento, e mergulha discretamente em novas sonoridades.
Se fosse possível materializar a sonoridade de uma banda, a do Terno Rei seria como um afago nas costas vindo no momento certo. Esse sentimento transparece não apenas na harmonia que chega aos ouvidos por meio do instrumental e da voz de Ale Sater, como pela intensidade das letras.
Ouvir Nenhuma Estrela provoca o mesmo sentimento dos álbuns anteriores, mostrando que a banda consegue manter a sua essência tão característica, mesmo que haja evolução. E nem falo de uma evolução para melhor, mas sim de explorar o novo da melhor forma para se adequar à identidade construída ao longo de tantos anos na estrada e não desvirtuar a rota.
Peito é uma faixa de abertura marcante que, inclusive, é capaz de nos fazer imaginar a banda entrando no palco para começar o show de uma nova turnê. Então, a breve melancolia é rapidamente esquecida pelo embalo de Nada Igual, perfeita para cantar alto ao vivo. Se fosse um pouco mais rápida, seria uma ótima música de uma banda de hardcore.
A faixa Nenhuma Estrela, que dá nome ao álbum, segue o ritmo animado da anterior, nos fazendo refletir de forma lúdica sobre não nos deixar se perder. Próxima Parada se mostra mais Terno Rei do que nunca, pois tem a assinatura musical da banda com um toque de amadurecimento sonoro, entregando ainda mais referências que remetem às canções dos anos 1980 e 1990.
Essas referências, por sinal, fazem parte da identidade do Terno Rei desde o início. É fácil perceber a interação entre um instrumental que remete às mais badaladas dos anos 1980, com as letras mais melódicas e reflexivas dos anos 1990. Essa mistura vai crescendo a cada lançamento de álbum, e parece se consagrar de vez em Nenhuma Estrela.
Casa Vazia traz uma letra sobre sentimentos esquisitos e nos prepara para as próximas pedradas. A agitação dá espaço ao delicioso groove de Relógio, faixa que conta com participação do renomado cantor e compositor Lô Borges.
A música Pega traz uma diversidade sonora, diria até mesmo que experimental. A faixa consegue entregar uma mistura de referências, que começa no rock alternativo, passa pela MPB dos anos 1980 e até remete às bandas de “real emo” da década de 1990. Quem ouve o gênero, sabe exatamente do detalhe em questão.
Programação Normal, ironicamente, volta um pouco para o tradicional: aquele Terno Rei reflexivo e romântico, que dói o peito. São quatro minutos para sentir demais. Ou de menos, depende do momento atual da sua vida. Quer mais reflexão sobre a nossa existência? Se joga em 32 e sua brincadeirinha sobre maturidade, um dos temas mais presentes no álbum.

A faixa Coração Partido segue no ritmo perfeito da identidade da banda, que logo é ofuscada pelas batidas dançantes de Tempo. Definitivamente, aqui, você consegue imaginar Terno Rei tocando em uma balada alternativa, principalmente as que se apegam na temática dos anos 1980. A cereja do bolo fica com a voz delicada de Clara Borges, da banda Paira.
Quase no fim do disco, a balada Viver de Amor se mostra uma ótima escolha para ouvir em uma madrugada em que nossos pensamentos mais intimistas ecoam em nossa mente. Aqui, Terno Rei entrega uma balada reflexiva intensa em menos de três minutos.
O álbum é fechado com Acordo, que embalou tão bem o encerramento quanto Peito abriu as portas para esta nova imersão. “Eu já falei demais aqui”, canta Ale Sater para fechar o, talvez, álbum mais reflexivo, maduro e criativo da carreira.
Terno Rei tem o poder de fazer música para embalar todas as fases da vida. Apostando mais uma vez em letras carregadas de sentimento e embaladas por melodias que acalentam o coração, a banda entrega um ótimo trabalho com Nenhuma Estrela. O grupo se arrisca sutilmente em novos desafios, mas suficiente para mostrar evolução sonora e amadurecimento como artistas.