Revitalizar o hard rock voltando décadas atrás não parece uma tarefa fácil, mas Ghost faz isso em Skeletá, seu sexto álbum de estúdio, como se fosse. Acompanhado do pop e de influências dos anos 80, como Journey, Blue Öyster Cult, Iron Maiden e trilhas sonoras de filmes góticos da mesma época, o disco revigora a essência da banda ao mesmo tempo em que mantém seu aspecto teatral e oculto, traços visivelmente bem executados em arranjos e riffs minuciosos, bem como nas famosas interpretações de Tobias Forge, vocalista e o único integrante permanente de Ghost.
Como em seus álbuns anteriores, o álbum perpetua seus personagens já criados para trilhar as narrativas e interpretações feitas durante seus trabalhos. Em Skeletá, há personas atuando na história e cada uma delas é uma personalidade que assume o vocalista e líder da banda Tobias Forge, que agora assumiu o ciclo do Papa V Perpetua.
Os papas, grandes ícones para a banda, são personagens centrais na narrativa teatral criada em cada álbum. Cada Papa representa uma era específica do Ghost e sempre há um novo para cada uma delas. Eles também são acompanhados pelos Nameless Ghouls, músicos que permanecem anônimos e ajudam a criar a atmosfera vista nos clipes e nas turnês. Dessa forma, a banda usa essas personas para explorar temas como religião e ocultismo de forma teatral, o que, naturalmente, persiste em Skeletá.
Skeletá se deriva do grego, σκελετός (skeletós), e em tradução livre pode significar para além de “esqueleto”, como também “murcho” e “seco” no sentido literal.
Lachryma e Satanized, singles do projeto, têm clipes marcantes. O de Lachryma lembra cenários do filme Drácula (1971), embora aqui sejam bem iluminados com tons de azul e roxo, com a presença de Papa V e os outros integrantes caracterizados com roupas elegantes, chapéus e máscaras em meio a neblina. Já o Satanized, é em preto e branco e se passa em um convento ou igreja, onde um homem está possuído e precisa ser exorcizado.
A letra da música mostra o sofrimento do personagem para além do visual: “Me salve do monstro que está me comendo, eu estou vitimizado”. Já o clipe é uma sátira a igreja, visto que as freiras e os monges estão dançando, tocando instrumentos e cantando de forma teatral. Ao final dele,Papa V aparece e o clipe termina ganhando cor.
Por outro lado, a letra de Lachryma se refere a um relacionamento nada saudável, que acabou, e utiliza metáforas da vivência de um vampiro para com a situação (“Rasgando todo poema, como um vampiro deveria fazer”).
No geral, as duas canções têm ecos de guitarra e vocais potentes e virtuosos, sendo boas escolhas para singles.
Cenotaph se inicia com um instrumental semelhante à música tema da franquia Halloween (1978). O ritmo acelera e guitarra ganha destaque, com riffs pesados e nostálgicos, correndo contra o tempo. A canção é feita para ser tocada ao vivo, dado os instrumentos aguçados e virtuosos, bem como a voz de Tobias.
Missilia Amori tem um ritmo forte, com sintetizadores e riffs ainda mais pesados. Aqui, há solos marcantes junto da influência oitentista, tanto quanto do rock de arena, também presente em Cenotaph, mas aqui um pouco mais exagerado e comercial.
Excelsis finaliza o álbum com um ritmo mais lento e um vocal mais sentimental, acompanhado de ecos orquestrais e solos de guitarra ao fundo. Parece, realmente, uma música de encerramento de alguma obra. Além de abordar a morte e a dor do fim, a faixa é potente e nostálgica.
Durante sua carreira como um todo, Ghost transcendeu expectativas ao transformar o oculto em arte teatral, ao mesmo tempo que sempre provocou reflexões em um cenário de incertezas políticas e sociais. Em Skeletá, há uma mistura única de melodias inspiradas nos anos 80 e letras introspectivas, repletas de angústia. No disco, a banda reforça os limites da apreciação musical, provando, mais uma vez, que ser subversivo pode ser, acima de tudo, irresistivelmente divertido.
Em cenários multifacetados visualmente harmônicos diante da narrativa de seus personagens, o álbum traz conceito e estilo em seus clipes, mas especificamente na cinematografia e no figurino, bem como um charme instrumental e melódico no ritmo das faixas.
Skeletá mistura o pop junto ao hard rock, o que o torna um pouco comercial em determinadas canções. No entanto, ele não deixa de surpreender com referências nostálgicas e góticas, bem como com o rock de arena, que deixa a sonoridade mais explosiva, acima de tudo, e todas as referências que fazem parte dele.