Rock, nostalgia e carnaval: entrevista com Dibob | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Rock, nostalgia e carnaval: entrevista com Dibob

Quando se pensa no pop punk tradicional dos anos 2000, uma das bandas mais imediatamente memoráveis é o Dibob, grupo com origem no Rio de Janeiro formada por Dedeco, Gesta, Miguel e Faucom. Em hiato desde 2015, o quarteto voltou a se apresentar e lançar novas músicas em 2022 para a alegria dos fãs.

Com um som energético e animado, Dibob criou sucessos que conquistaram fãs em todo o Brasil e lotaram casas de shows. Em 2022, a banda lançou dois singles Só Chamar, além do clipe da faixa, que conta com a participação de Diogo Defante e Kayky Brito. Fake News, no entanto, é o lançamento mais recente.

E para completar esse rolê carioca, nesse carnaval, no dia 21 de fevereiro, o Dibob é uma das atrações do CarnaMango, um evento produzido pelo laboratório cultural MangoLab e a Vibra. A festa promete misturar diversos ritmos, indo dp Furacão 2000 à Ibrejinha com um toque mais que especial do Dibob. O CarnaMango vai acontecer entre os dias 17 à 25/02 e conta com mais de 40 apresentações diferentes ao todo. Mais informações podem ser encontradas aqui.

A redatora Juliana Mencarini entrevistou o baixista Gesta e o baterista Faucom, para saber sobre as expectativas desse show, os últimos lançamentos e sobre como a banda amadureceu nos últimos anos. Confira abaixo um pedaço da nossa entrevista ou assista na íntegra abaixo.

CarnoMango

Juliana Mencarini: Vamos começar falando do CarnaMango, o que vocês estão esperando desse show, vocês já participaram de algum show de carnaval antes?

Gesta: Em relação a essa experiência de carnaval, tô tentando lembrar agora se a gente já tocou com especificamente em evento de carnaval assim, como o carnaval assim como o CarnaMango. No carnaval passado, a gente tocou em um evento, mas era só banda de rock. Era um evento lateralizado, tentando fugir do carnaval, que foi fora de época, né.

Juliana Mencarini: Foi na Sad Club Fest, né? Eu fui nesse show!

Gesta: Exatamente! Com CPM e Detonautas, foi muito maneiro! Mas o evento mais próximo de carnaval que a gente tocou mais recentemente foi na Copa do mundo que era aquele clima de carnaval! E a gente já tá um pouco acostumado, que foi com a mesma galera, o pessoal da Ibrejinha tocou lá também, só não rolou o Furacão 2000. Então a gente já está preparado já, a gente tá super feliz!

Faucom: Eu não tô lembrando de nenhum evento de carnaval assim que a gente tenha tocado, não. Mas esse do BudX que foi com a galera da Mango também, parecia bem um carnaval né, era um clima bem parecido.

Gesta: Total. Às vezes a gente cria uma expectativa antes de criar o evento porque a gente não sabe como vai ser, por misturar ritmos e bandas diferentes. Aí tem, tipo, funk, uma banda de sopro que tem umas características de carnaval, mas que tocam pop também e aí a gente toca rock fica meio que um misturadão, assim. E aí eu acho que o pessoal se amarra, não fica uma coisa meio que “ó tá tendo um carnaval e vai ter uma banda de rock aqui, os caras vão estragar o evento de vocês e depois vai voltar”. É meio que uma confusão, mas uma confusão do bem e acaba rolando bem.

Juliana Mencarini: Eu acho super legal porque faz com que outras pessoas conheçam a banda, né. Às vezes, a pessoa não conhece e acaba conhecendo naquele dia, e se interessa e gosta. Acho super legal para divulgar a banda.

Faucom: Total.

Gesta: Sabe uma coisa que eu lembrei? Que apesar da gente ser uma banda de rock e “não fazer parte do carnaval”, volta e meia todo carnaval mandam para a gente algum bloco tocando alguma música nossa e a gente fica tipo “caraca, muito irado!”. Nunca chamaram a gente para tocar ou participar, pelo menos eu nunca fui chamado para tocar as nossas músicas para essa galera, então a gente de alguma forma tem feito parte do carnaval carioca aí ao longo dos anos. Sempre recebo esses vídeos no Instagram, do pessoal marcando a gente, é bem legal.

Juliana Mencarini: O Dibob é a cara do Rio, né, e o Carnaval também, então uma hora as duas coisas iam se encontrar ali. Hoje em dia também tem o Bloco Emo, então pode ter certeza que as músicas de vocês são tocadas lá. É só um dia vocês derem um pulinho lá, para juntar as duas coisas! Acho que é no domingo.

Faucom: Tem o bloco Aí Sim! Eles chamaram o Dedeco para participar do bloco, acho que é domingo também, não sei se ele chegou a confirmar.

Gesta:  A gente tentou por uma época se aventurar, o Faucom já é baterista, já estava mais por dentro aí das percussões, mas eu tentava tocar tamborim! Teve uma época que a gente ensaiava com o pessoal do Monobloco, era maneiríssimo.

Juliana Mencarini: Para esse show, vocês planejam alguma coisa diferente? Talvez aparecerem fantasiados? Fazer algum cover de alguma música de carnaval?

Gesta: Boa pergunta! A gente ainda não definiu o setlist todo, então no último ensaio a gente vai definir isso. A gente sempre gostou muito de botar algum funk e tocar em um ritmo mais rock, isso deve rolar porque a gente já faz. E aí a gente tá pensando em alguma novidade para botar alguma coisa que tenha mais a ver com carnaval, mas que também a gente não vá estragar para não sair muito da nossa pegada porque senão, nem a gente consegue fazer.

Faucom: A gente vai também tentar manter um show com mais hits, assim, até para as pessoas que às vezes só conheçam as músicas mais conhecidas, não estarem lá ouvindo as músicas que a banda toca só para fã. A gente vai estar lá meio que representando o rock e a gente não vai fugir muito disso não. A gente vai deixar mais o funk para a Furacão e o carnaval para o Igrejinha.

Lançamento mais recente da banda: Fake News

Juliana Mencarini: E agora falando um pouquinho do último lançamento de vocês, que foi Fake News. Como foi o processo criativo aí para lançar a música? Se não me engano, o lançamento rolou no final do ano, 16 de dezembro, né?

Gesta: O processo criativo dessa música especificamente, o Dedeco, que é o vocalista da banda, trouxe a ideia principal da letra já com a melodia, daí a gente trabalhou um pouco em cima do que já tinha. Normalmente, o processo criativo da banda ele é muito similar entre as músicas, não muda muito. Existe uma ideia principal de melodia e letra, depois a gente trabalha junto para mudar uma coisa ali ou aqui tipo “ih essa parte tá soando estranho, vamos mudar? vamos”, “vamos colocar uma parte C aqui”, “aumentar um pouquinho o refrão”.

Gesta: E aí a gente acabou gravando ela toda picotada. Nosso processo criativo deu uma mudada depois da pandemia. A primeira música que a gente fez depois da pandemia, depois de muito tempo sem gravar nada, começou sendo uma troca de ideia pelo Whatssap; que quando fazíamos música em 2003 e 2006 isso nem existia. A gente começou a trocar muito áudio e parte de letra, comenta daqui, comenta dali e insere riff de guitarra daqui. Até o processo de gravação mesmo mudou, depois da música pronta, por exemplo, em Sua Alegria, o Miguel nem chegou a ir para o estúdio, ele gravou de casa e a gente encaixava no estúdio. Com a Fake News rolou também bastante isso, o Faucom gravou em um estúdio, depois a gente foi para outro estúdio regravar o baixo que um amigo nosso, Cadu, havia gravado, aí depois a gente gravou as vozes por cima.

Faucom: Essa música também teve uma coisa diferente, que vale a pena falar, que foi a primeira música, se minha memória não falha, que a gente compôs com alguém fora da banda, que foi o Cadu Carvalho. Ele começou a composição com o Dedeco, e aí dessa composição, eles passaram para a gente, e a gente começou a mexer na música também. E aí quando a obra abre para a banda, todo mundo acaba metendo a mão em tudo: um cara fala da bateria, eu falo alguma coisa da letra, o baixista fala da guitarra, etc. Todo mundo chega um pouquinho no negócio do outro, fica sendo bem democrático e a gente vai testando até conseguir moldar.

Faucom: E aí com essa música foi assim, eles fizeram a música com um tema bem político, passaram para a gente, a gente mexeu na letra, depois a gente foi para o estúdio gravar. Acho que foi a mais diferente que fizemos até hoje, você não acha?

Gesta: Com certeza. Essa acabou sendo uma grande novidade nessa questão também. A gente acabou sempre fazendo dentro de casa.

Faucom: Era sempre só nós 4.

Gesta: Foi a primeira vez que rolou uma participação. Até já rolou com MC Fox$$ & McMãe no passado, mas era participação.

Faucom: Era diferente, era uma interseção deles na nossa música; mas não o caso de compor uma música.

Gesta: E aí o lançamento foi 16 de dezembro, a gente acabou perdendo um pouco o timing, a gente queria ter pego mais a época da eleição. Mas também foi bacana na época que foi, pois foi quando deu para ficar pronta.

Juliana Mencarini: Também foi perto da mudança de governo, então também é uma época oportuna de qualquer forma, né?

Faucom: Sim, ainda estava no contexto.

Gesta: Essa foi a segunda música com tema mais político que a gente já fez, a primeira se chamava Promessas e essa foi a segunda. Além dela ter sido diferente nessa questão da composição, a temática da música também foi uma “novidade” já que foi a segunda vez que falamos de política na vida. A gente ficava meio “será que a gente vai falar sobre isso mesmo?” ou “será que tem a ver com a gente? ah vamos falar, dane-se! vambora!”.

Faucom: ‘Tamo querendo falar né? A gente fala o que tá dando vontade.

Juliana Mencarini: Acho até que antigamente as pessoas ficavam mais fechadas para isso, mas acho que hoje em dia é muito importante você se posicionar como pessoa pública. Então, eu acho que hoje em dia se torna até mais fácil vocês fazerem uma música sobre isso, do que antigamente. As pessoas não falavam tanto assim como hoje em dia.

Faucom: Com certeza.

Juliana Mencarini: Vocês acham que isso pode ter a ver um pouco com a maturidade da banda, tipo, antes vocês eram mais novos, mas agora que vocês estão mais velhos, conseguem ter uma visão mais clara sobre isso e se sentem mais inspirados para escrever músicas com uma visão mais diferente do que vocês faziam no início?

Faucom: Eu particularmente acho que não é por conta da maturidade, até porque quando a gente fez a música Promessas, a gente tava passando por um momento chato também de um governo e a gente estava revoltado e precisou falar sobre a classe política, generalizando, né. Só que hoje, a gente vive em um cenário que tomou uma proporção, uma polarização, que a gente se posiciona de uma certa forma ao mundo como ele é, né. A gente fez questão de dizer que a gente está posicionado de um lado que pensa dessa maneira que a gente falou na música. É uma coisa que vai muito mais do contexto atual do que da maturidade em si, mas eu acho que a maturidade também ajudou a gente a ter clareza disso, porém não foi ela que fez a gente falar sobre isso.

O amadurecimento da banda – “O mais legal é hoje olhar para trás e ter vivido tudo isso”

Gesta: Acho que em relação à maturidade, é um pouco do que a gente conversa. Por exemplo, tem várias músicas que se fossem hoje em dia, a gente provavelmente não teria escrito lá atrás.

Faucom: Falta de maturidade! (risos)

Gesta: A gente comenta um pouco que quando a gente toca as músicas que a galera curte lá a 20 anos atrás faz parte de um contexto. A gente toca no show porque a galera gosta, e a gente gosta de ver a galera gostando, mas se fosse hoje, a gente provavelmente não teria escrito aquela letra daquela forma.

Faucom: Hoje, a sociedade não permitiria tanto a gente falar sobre alguns assuntos e já interpretaria de uma forma que cancelaria a gente imediatamente. Mas essas músicas a gente fez quando a gente tinha 18 anos e vivia em outro mundo, que eram outras questões e outras lutas. E a galera que curtia a banda era uma galera que se identificava com o que a gente falava porque fazia parte do cotidiano de todos esses adolescentes. A gente comunicava muito fácil com a galera porque era mais ou menos o que a galera vivia. A maturidade vai permitir a gente a continuar compondo e fazendo as coisas de uma maneira mais madura no sentido de não falar como um adolescente.

Gesta: Às vezes eu me faço uns auto desafios, tipo “eu não quero fazer uma música sobre relacionamento”. Então eu vou escrever sobre alguma coisa específica que não tem a ver com relacionamento. Às vezes, a gente bota essas metas doidas assim “o que a gente vai falar agora?” e ficamos buscando temas ou sensações que a gente tá naquele momento. Isso também faz parte da maturidade e dessa construção que a gente foi tendo, e tudo que a gente escreveu lá trás fazia sentido naquele momento, coisas perduraram e transcenderam. Tipo 1×0 Eu, é uma música de relacionamento que todo mundo ouve, se identifica, e acho que todo mundo já viveu algo similar, então é isso, acho que a música é algo que transcende. Você amadurece, óbvio mas tem muita coisa que fica, que ganha do tempo e vai para longevidade e fica por aí.

Gesta: E aí hoje em dia, o que a gente senta para escrever tem a ver com coisas que a gente tá vivendo agora, tá sentindo agora e tá amarradão tocando junto agora. Teve um momento que a gente perdeu essa “amarradeza” de tocar e a gente recuperou isso depois. Então tudo isso junto, mistura e joga em um bolo, faz uma mistureba, e aí dá o Dibob de hoje em dia.

Juliana Mencarini: E se vocês pudessem voltar no tempo e dar um conselho para o Dibob no início?

Gesta: Aí a questão da maturidade bate na porta legal, quando a gente começou a compor e assinar com gravadora, a gente era muito novo. A gente estava saindo da adolescência e não tinha maturidade de adulto ainda, e a gente tinha que lidar com uma profissão.

Gesta: E lá de dentro, a gente vê é uma profissão de verdade: você tem que ensaiar, você tem os compromissos e a gente não tinha essa cabeça de compromisso. O primeiro compromisso de gravadora que a gente teve, que foi fazer uma rodada de entrevistas, enquanto a gente esperava em uma salinha e às vezes a gente ficava meia hora esperando, a gente pegou umas canetinhas e começou a colocar bigodinho em uns pôsteres que tinham lá da Avril Lavigne, do cara do Maroon 5 e depois a gente foi embora. Depois, o pessoal da gravadora no dia seguinte perguntaram: “cara, vocês pintaram todos os posteres da sala de reunião?” e a gente caindo na gargalhada, e os caras ficaram revoltados com a gente.

Gesta: O mais legal é hoje olhar para trás e ter vivido tudo isso. A gente não levou a sério como deveria, mas foi engraçado e a gente viveu altas coisas.

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