Entrevista com o The Aces sobre o novo álbum, amor e amadurecimento | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Entrevista com o The Aces sobre o novo álbum, amor e amadurecimento

Se você gosta de indie pop e, ao mesmo tempo, está querendo ouvir músicas produzidas por mulheres de personalidade forte, você precisa conhecer a banda americana The Aces, composta por Cristal Ramirez (vocal e guitarrista), Alisa Ramirez (baterista), Katie Henderson (guitarrista) e McKenna Petty (baixista).

A banda foi criada oficialmente em 2016, mas a sua história começou bem antes, em Utah, quando as irmãs Cristal e Alisa Ramirez ainda tinham em torno de seus oito anos de idade. Por viverem em um ambiente com muita influência musical por conta de seus pais, as duas começaram a tocar juntas e estudar suas bandas favoritas no YouTube e, um tempo depois, pediram para uma de suas melhores amigas, McKenna, pedir um baixo de presente. O trio foi aprendendo a tocá-lo e assim foi se formando o The Blue Aces, até que, em 2008, McKenna trouxe sua amiga Katie para o grupo, anteriormente, com foco em músicas cristãs. Com o tempo, a banda foi ganhando relevância na cena e mudando seu estilo, até que resolveram seguir de forma integral com a carreira musical em 2014. Em 2016 a Red Bull Records já havia assinado um contrato com o quarteto; e foi nesse momento que a banda se tornou apenas “The Aces”.

Inicialmente, o grupo começou lançando apenas singles, mas, em 2017, lançaram seu primeiro EP, I Don’t Like Being Honest, projeto que apresentava o single Stuck, faixa responsável por alcançar o número 38 na parada de músicas alternativas da Billboard. Desde de então, o The Aces já esteve presente em grandes festivais como o Lollapalooza e Bonnaroo, além de também ter suas músicas presentes nas trilhas sonoras das séries The Bold Type, da Netflix, e Love, Victor, do Star+.

Em 2023, no dia 2 de junho, a banda que vem ganhando cada vez mais relevância irá lançar seu próximo álbum de estúdio, chamado I’ve Loved You For So Long. O novo disco é baseado nas reflexões que as artistas tiveram durante a pandemia, bem como os anos de formação do The Aces e, além disso, da experiência como pessoas LGBTQIA+ em uma cidade religiosa como Utah, no Colorado. Hoje (28), foi revelada a faixa-título do álbum, I’ve Loved You For So Long, onde a banda narra sobre a busca por saúde mental e apoio dos amigos ao som um pop alternativo noventista.

Solo, o outro single do próximo disco, também já foi lançado_,_ trazendo um synth pop confessional que Cristal Ramirez narrou como sendo “a primeira vez em que ela realmente explorou como estava em seus relacionamentos e quais coisas eram culpa dela em uma música”.

Na intenção de conhecer um pouco mais sobre o The Aces, a Moodgate bateu um papo com a banda inteira para saber mais sobre seu próximo trabalho e os bastidores da sua trajetória! Confira a entrevista completa abaixo:

Juliana Mencarini (Moodgate): Olá, pessoal. Meu nome é Juliana e sou redatora da Moodgate, um veículo de música com sede no Brasil. Obrigada por me receber, eu adoro as músicas de vocês! Minha primeira pergunta é sobre Solo, o último single. Gostaria de saber qual foi a inspiração para essa faixa e se foi baseada em uma história real.

Cristal: Sim. Sim, Solo é definitivamente baseado em uma história real. Foi baseado em uma experiência de relacionamento que eu estava tendo, quando tive um momento de autoconhecimento e reflexão e percebi que, sabe, talvez eu estivesse contribuindo para que esses relacionamentos se desintegrassem ou fossem caóticos, e que eu precisava olhar para mim mesmo nessas situações e perceber onde, sabe, eu sou o denominador comum dentro delas e descobrir por que eu estava me sentindo como estava me sentindo. Foi mais ou menos assim que Solo foi criada. Acho que é a música mais autodepreciativa do disco, mas autodepreciativa de uma forma que é auto-reflexiva e autoconsciente.

Juliana Mencarini (Moodgate): Vocês acham que o processo de terminar um relacionamento fica mais fácil ou mais difícil com o passar dos anos?

Cristal: Acho que essa é a pergunta [importante]. (Risos)

Alisa: Eu não acho que fique mais fácil, mas eu acho que você aprende a fazer isso de maneira mais saudável. Sim. O que observei, pelo menos em minha vida, é que quando somos jovens, às vezes podemos terminar relacionamentos de forma caótica e ter esse tipo de sentimento com as pessoas. Mas acho que aprender como terminar um relacionamento e torná-lo amigável, saudável e respeitoso e ainda ser capaz de se afastar como amigos é, hum, acho que isso vem com muita maturidade.

Katie: Sim. Acho que a única maneira de ser mais fácil é quando você começa a crescer mais em você mesmo e a cuidar melhor de si e a saber que o que está fazendo é a coisa certa para você. E é nesse sentido que, sabe, terminar qualquer tipo de relacionamento é mais fácil porque você sabe o que é certo e errado para você pessoalmente.

Juliana Mencarini (Moodgate): E sobre o single Always Get This Way, qual conselho você daria para uma pessoa mais nova que também sofre de ansiedade, como na música?

Cristal: Hum, sim, eu diria que acho que a coisa mais importante que me ajudou quando eu estava tendo meus ataques de pânico foi perceber que eles acabariam, sabe, que eu ficaria bem. Como se, mesmo que eu entrasse em pânico, tudo ficaria bem. E assim que tirei o poder disso, meus ataques de pânico pararam de acontecer com regularidade porque eu não tinha medo dos meus sentimentos. Eu diria apenas: não tenha medo. Apenas sinta seus sentimentos plenamente e você perceberá que eles não são tão assustadores quanto você pensa e que eles passam muito mais rápido do que você imagina.

Juliana Mencarini (Moodgate): E o que você pode esperar do próximo álbum I’ve Loved You For So Long?

Cristal: Hum, acho que é o nosso trabalho pessoal mais vulnerável até hoje. Acho que é nossa expressão mais autêntica de quem somos como banda, desde a época em que éramos crianças até agora. Estamos muito orgulhosos disso. Acho que o show ao vivo será insano. [Estamos] torcendo para podermos ir ao Brasil. (Risos)

Juliana Mencarini (Moodgate): Isso estava na minha lista de perguntas! hahaha

The Aces: (Risos)

Cristal: Sim, queremos ir ao Brasil, fazer um show. Hum, mas sim, sim, sim. Queremos muito ir para aí e, sabe, muita, muita música, muitos shows, muitos The Aces em geral, então…

Juliana Mencarini (Moodgate): Qual foi a maior mudança de vocês desde o primeiro EP I Don’t Like Being Honest para este álbum?

Alisa: Uh, muito. Muito. Começamos a escrever o primeiro álbum quando éramos adolescentes, e depois escrevemos esse álbum quando estávamos, sabe, em nossos 20 anos. Portanto, uma diferença de sete anos entre esses dois trabalhos. Acho que houve muito crescimento e amadurecimento individual como pessoas e como artistas, sabe. Então, eu não sei… Eu meio que sinto que quase evoluímos para uma banda totalmente diferente só porque estamos fazendo música profissionalmente, basicamente durante todo o nosso crescimento. Então eu definitivamente posso ver, posso ouvir nosso crescimento por meio desses trabalhos ao longo do tempo. E eu me sinto muito, muito orgulhosa desse último, porque sinto que chegamos a um ponto tão bom. Sinto que fomos capazes de romper e falar sobre coisas sobre as quais nunca havíamos sido capazes de falar antes. E quando reflito sobre os trabalhos mais novos, sinto orgulho deles porque sinto que estávamos sendo vulneráveis e disponíveis o máximo que podíamos na época. E fizemos muitas canções de amor dançantes e divertidas. Mas agora estamos falando mais sobre as coisas que nos deixam acordadas à noite e sobre o que nos faz pensar.

Juliana Mencarini (Moodgate): Concordo, para mim, uma das coisas mais importantes na música é a capacidade de conectar pessoas e experiências. E com gênero, o indie rock, tem sido uma forma para muitos artistas queer alcançarem o seu público. Assim como vocês, artistas como Boygenius, Snail Mail e Ethel Cain são alguns dos nomes que vêm à mente. O que vocês pensam sobre essa representação na música e como vocês se sentem sendo uma voz para tantos jovens fãs LGBT?

Cristal: Sim, acho que definitivamente não assumimos a responsabilidade levianamente. Acho que é algo que tentamos ser, sabe, criar o máximo de espaço para que os jovens LGBT se sintam seguros. Acho que essa é uma parte muito importante do que fazemos. Acho que quando começamos a fazer música, não percebemos que isso era uma parte importante de quem somos e da nossa banda. Mas é algo que tem sido, creio eu, uma das partes mais queridas. A parte mais especial do que fazemos é que os jovens queer realmente se veem em nós e realmente se encontram por meio da nossa música ou indo a um show, ou o que quer que seja. Portanto, especialmente para esse terceiro disco, é muito importante para nós continuarmos a cultivar espaços cada vez maiores para que os jovens se sintam seguros e se encontrem mais na comunidade.

Juliana Mencarini (Moodgate): Quando vocês eram mais jovens, quais bandas ou cantores inspiraram vocês?

Alisa: Acho que a primeira banda foi definitivamente o Paramore. Acho que todas nós descobrimos o Paramore, quando estávamos no ensino fundamental, bem na época em que estávamos começando nossa banda. A prima do Kenny mostrou a ela e nos mostrou, e ficamos impressionados. Assistimos ao videoclipe de Crush, Crush, Crush, repetidamente, e todas compramos o RIOT, o físico, o da loja, e o jogamos no chão. Então, fizemos covers de músicas do Paramore e acho que esse foi o primeiro grande despertar para nós, como jovens artistas.

Juliana Mencarini (Moodgate): Vocês sempre souberam que iriam trabalhar com música?

Cristal: Acho que não foi necessariamente assim. Acho que, como alguns, como eu, eu sabia que sempre quis fazer algo na música. Não sabia se seria a banda. Mas houve uma época em que estávamos todos meio que flutuando, como quando Ken estava estudando em tempo integral e a Katie estava explorando a possibilidade de ir para a escola e também uma bolsa de estudos por meio de esportes. Então, nem sempre tínhamos certeza. Acho que começamos nossa banda ainda crianças. Então, quando você é criança, sabe, e mesmo assim, aos 27 anos, eu literalmente não tenho certeza de nada. Mas acho que houve um momento em que realmente não sabíamos se isso daria certo, mas todos nós nos comprometemos a pelo menos tentar e ver o que aconteceria. E aqui estamos nós hoje.

McKenna: Então, sinto que, vindo de onde viemos, não é uma coisa normal de se fazer. E você nunca viu ninguém próximo fazendo isso antes. Por isso, acho que sempre tivemos esperança de que tudo daria certo. Mas acho que nunca nos sentimos tão seguros. É como se fosse algo enorme. Seguir seus sonhos e seguir uma carreira na música. É uma loucura.

Katie: Por exemplo, quando se é tão jovem, espera-se que você saiba o que quer fazer, sabe, em uma idade muito jovem. E acho que, para nós, é muito difícil tomar a decisão de nos apoiarmos em algo que não temos certeza do que vai acontecer ou fazer o que todo mundo está fazendo. E tivemos que nos apoiar e confiar uns nos outros e seguir em frente com algo que nos parecia tão especial e importante.E ver onde chegamos após tomar essa decisão é muito, muito legal.

Juliana Mencarini (Moodgate): E que conselho você daria para quem quer começar a trabalhar com música?

Cristal: Eu diria que o que realmente nos ajudou foi trabalhar com o que tínhamos na época. Se você confiar que o seu trabalho for bom e se você realmente quiser isso, mais e mais coisas acontecerão. Entende o que quero dizer? Eu quero que seja melhor, mas nós, sabe, viemos de Utah. Viemos de um subúrbio. Não conhecíamos ninguém no setor musical. Então, a ideia de começar uma carreira musical era realmente assustadora. Nós pensávamos: “Nós não sabemos como fazer isso, nós nem sabemos como”. Mas o que fizemos como banda foi nos reunirmos e pensarmos: “O que podemos fazer agora? Podemos fazer música, podemos gravá-la da melhor forma possível. Podemos tentar vender shows em nossa cidade natal com nossos amigos e criar mais e mais barulho. E esse efeito cascata, você sabe, se espalhou pelo país, pelo mundo. E agora, lentamente, você sabe, subimos a escada para conseguir gerenciamento, entrar no setor e assinar um contrato com uma gravadora. Portanto, acho que tudo começa com o fato de que, se você quiser ser um artista, goste da sua música e faça tudo o que puder para divulgá-la para as pessoas e criar barulho a partir de onde você está. Então, eu diria: faça isso. Siga seus instintos, faça a melhor arte possível e depois grite sobre isso do alto dos telhados também.

Juliana Mencarini (Moodgate): Qual o grande sonho de vocês como o The Aces?

Alisa: Queremos ir a todos os lugares que desejamos.

Cristal: Mais do que tudo, o que percebemos é que o principal é que queremos ter um relacionamento muito bom entre nós quatro e gostar de estar juntos. E também queremos fazer nossa arte mais autêntica e sempre nos expressar de forma autêntica. Enquanto estivermos fazendo essas coisas, estaremos felizes. E, além disso, queremos fazer tudo o que quisermos, como continuar, sabe, fazendo shows, tocando, fazendo shows cada vez maiores, indo a diferentes países, conhecendo todos os tipos de pessoas e fãs. E ver o mundo juntas é uma grande paixão nossa. Essa banda está sempre.

Alisa: Tem sido uma grande fonte de conexão para nós. Então nosso principal objetivo é esperar que essa conexão entre nós quatro e por meio de nossa música crie mais conexões entre outras pessoas, comunidades de pessoas com a mesma mentalidade, especificamente queer ou qualquer outra pessoa que entenda o que fazemos.

Juliana Mencarini (Moodgate): Vocês falaram sobre ter um bom relacionamento entre vocês, e Alisa e Cristal são irmãs. Como é trabalhar com a própria irmã? Como vocês se sentem quanto a isso?

Alisa e Cristal: (Risos)

Alisa: Acho que é mais positivo do que qualquer outra coisa. Sabe, vimos muitos irmãos ao longo dos anos em bandas e outras coisas, sabe? E acho que existe uma espécie de magia quando você cresce na mesma família. Sinto que compartilhamos um cérebro porque, quando escrevemos músicas, parece que estamos sempre na mesma página. Portanto, nossa colaboração é muito, muito forte. E também acho que há essa capacidade de sermos muito parecidas. Parece que às vezes você não consegue fazer isso com alguém que não é sua irmã, entende? E isso pode levar a brigas, mas sinto que, à medida que envelhecemos, ficamos muito melhores em relação a qualquer tipo de conflito. E também como se estivéssemos aprimorando e nos apoiando em nossos pontos fortes, as irmãs que trabalham juntas e tentando evitar, sabe, as quedas disso, eu acho.

Cristal: Sim, eu acho que é esse tipo de relacionamento tão próximo que podemos realmente desafiar umas às outras e também nos inspirar. E acho que, por causa desse atrito, ao mesmo tempo, em que a sinergia que fazemos juntas e todas juntas como banda é, é realmente especial porque é desafiadora de várias perspectivas, especificamente nossa perspectiva de sermos tão, tão diferentes, sabe, como nossas personalidades são realmente diferentes. Acho que é isso que faz com que a música seja tão boa quanto é, porque essa mudança de perspectiva de cada um realmente faz com que ela seja o melhor possível. Então é muito bom. Obviamente, brigamos, entramos em conflito, mas, no final das contas, é muito especial fazer isso com ela e tê-la tão presente em minha vida, acho que é uma relação de irmãos muito especial que a maioria das pessoas não tem a oportunidade de vivenciar. Então, acho que somos muito sortudos por termos essa oportunidade.

Juliana Mencarini (Moodgate): Que legal! Minha última pergunta seria quando vocês pretendem vir ao Brasil? Mas eu também quero perguntar se você tem alguma mensagem para dizer aos fãs brasileiros.

Cristal: Número um: nós queremos ir ao Brasil o mais rápido possível. Estamos sempre conversando com nossa equipe sobre ir até lá e conhecer os nossos fãs! Nossa mensagem para eles é que os amamos muito. Eles têm nos apoiado muito desde o início. Foi uma das primeiras contas de fãs que tivemos, sabe, e nós nem somos de lá. Nunca estivemos lá e os fãs são tão apaixonados e nos dão tanto apoio. E tudo o que ouvimos de nossos outros amigos de banda é que ir ao Brasil e tocar no Brasil é algo sem igual. Então, nós os amamos. Nós amamos muito vocês. Muito obrigado pelo apoio de vocês. Significa tudo para nós. E estaremos vindo para o Brasil assim que possível, no primeiro vôo que pudermos. Estamos planejando um show! Nós amamos vocês. Muito obrigado a vocês.

Juliana Mencarini (Moodgate): Obrigada pela entrevista pessoal e prazer em conhecê-las!

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ju.mencarini@gmail.com

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