Mês do Orgulho: como Cher, a Deusa do Pop, deu voz à comunidade LGBT
Quando o assunto em questão são ícones LGBT, é impossível não ressalvar a contralto detentora do maior vozeirão da América, título este mantido há pelo menos seis décadas; este espaço é dedicado à Cher, a deusa do pop.
Posicionando-se a favor da comunidade LGBT inúmeras vezes, Cher fez com que sua mensagem ultrapassasse fronteiras e fosse transmitida em escalas mundiais, disseminando uma cultura educativa e saudável sobre a cidadania para com seu público gay que, no começo da década de oitenta, já lutava contra os estigmas da associação ao vírus do HIV e a AIDS. Sendo uma das pioneiras em utilizar sua poderosa voz para se posicionar abertamente em prol da conscientização e arrecadação de fundos para vítimas da doença, Cher caiu nas graças do público gay não somente pela magnitude de sua arte, mas também por sua empatia.
Não obstante, a manifestação da cantora não se limita ao público gay, mas sim à causa LGBT como um todo. Cher é mãe de Chaz Bono, seu filho transexual e também ativista, tendo também muitas vezes sido convidada a falar sobre o assunto e a forma como concilia sua experiência como mãe à posição de artista e comunicadora. Por isso, vale ressaltar: a trajetória de Cher no meio LGBT+ não se limita como “aquela que veio antes de Madonna, George Michael e Lady Gaga”. Se alguém tentar lhe oferecer essa narrativa, recuse educadamente. Os anos brilhantes de carreira de Cher deram vida a performances monumentais, estéticas glamourosas e obras sonora e criativamente excelentes. A cereja do bolo é que, atualmente, ela continua fazendo tudo isso muito bem.
Por seus feitos dentro e fora da indústria fonográfica, palco de suas narrativas em defesa dos direitos humanos e dos direitos dos LGBT, Cher recebeu da GLAAD Media Awards (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation) um Vanguard Award em 1998. O prêmio é, em síntese, uma oferta de reconhecimento pelos ganhos significativos à comunidade, seja em favor dos direitos, do reconhecimento e da ocupação de lugares de fala majoritariamente dominado por pessoas dentro de padrões normativos. Já em 2013, a cantora declarou abertamente que havia se recusado a performar na cerimônia das Olimpíadas de Inverno de Sochi, na Rússia, dado o posicionamento político e legal do país contra os direitos LGBT+. “Eu imediatamente disse não”, disse a cantora para a revista canadense Maclean’s.
Sua carreira foi iniciada no ano de 1963 ao lado de Sonny Bono, seu marido, originando um programa de televisão que entreteu os Estados Unidos por mais de uma década: Sonny & Cher. Além disso, a dupla lançou também uma coletânea de músicas famosas, entre elas I Got You Babe e The Beat Goes On. Em 1974, a dupla se separa e, mesmo mantendo uma boa amizade, surge a oportunidade perfeita para Cher dar o salto que faltava para sua carreira solo.
Gypsys, Tramps and Thieves (1971) atingiu o topo da Billboard Hot 100 e recebeu indicações aos grandes prêmios, entre eles um Grammy. Não demorou muito para que Cher quebrasse seus próprios recordes com seus trabalhos seguintes: Foxy Lady (1972), Half-Breed (1973) e Dark Lady (1974). Mas em 1979, a cantora inseriu a música disco em seu repertório e compôs, respectivamente, Take Me Home e Prisoner, uma dupla genial, dançante e, com certeza, um capítulo importante de sua história.
Mas Cher inventou a reinvenção: ela trouxe o rock para o cenário do pop em 1987 e 1989, com seu álbum título e com o Heart of Stone, respectivamente, e lotou estádios com melodias fortes sobre os amores e as dores de sua vida artística e nômade. Sem nunca abandonar as telinhas, Cher também decidiu que os anos oitenta seriam uma ótima hora para voltar a atuar. Com isso, trouxe Moonstruck (1987) e um Óscar de Melhor Atriz para casa, além da indicação pelo seu papel em Silkwood (1983), no qual dá vida à uma personagem lésbica, no auge de sua carreira e dos tempos de preconceito contra as pessoas LGBT.
Na década de noventa, chega à luz do dia o mais conhecido sucesso da cantora: Believe (1998). Considerado um marco na indústria fonográfica no que tange o conceito de produção musical, o espectro eletrônico na voz grave da artista contrasta de uma forma única com a tecnologia, resultando em seu maior hit. Mas antecedendo Believe, Cher ainda trouxe elegância e alma em Love Hurts (1991) e It’s a Man’s World (1995), obras com experiências pessoais profundas e fortes opiniões sobre igualdade de gênero. Seus últimos trabalhos incluem participações no cinema, como em Mamma Mia 2 (2018), onde a artista interpreta Ruby Sheridan – podendo-se dizer que certamente é outro ícone gay em meio às suas personas – e o lançamento do álbum Dancing Queen (2018), no qual interpretou os maiores sucessos do grupo sueco Abba.
A longevidade da cantora e sua capacidade magnífica de não somente se adaptar à indústria do entretenimento como também de moldá-la a tornam uma verdadeira lenda. Sua poderosa voz e estilo inconfundível a estabeleceram como um ícone duradouro da música pop. Além disso, seu apoio ativo à comunidade LGBTQ e sua defesa pela igualdade e conscientização têm conquistado, desde o princípio, o respeito e a admiração de fãs ao redor do mundo. Cher constrói uma marca indelével na história da música e da arte. Seu legado há de inspirar e encantar gerações futuras.